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Com oito policiais como réus, segundo júri do Caso Curió começa nesta terça (29) no Ceará

No primeiro júri, em junho deste ano, os quatro primeiros réus foram condenados a 275 anos e 11 meses de prisão cada um.

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Foram quase oito anos de espera desde a madrugada do dia 12 de novembro de 2015, data do crime que ficou conhecido nacionalmente como a “Chacina do Curió”. - Foto: Amanda Sobreira

Começa na terça-feira (29), o segundo júri do Caso Curió, com oito policiais militares como réus acusados da chacina ocorrida na Grande Messejana, em Fortaleza, em 2015, deixando 11 mortos. Dentre às vítimas, seis adolescentes e dois jovens 18 e 19 anos de idade. No total, são 33 policiais acusados do crime. O julgamento será realizado no Fórum Clóvis Beviláqua. 

Edna Carla é mãe do adolescente Alef, morto na chacina do Curió, fala sobre a expectativa para esse segundo júri. “A expectativa para esse segundo júri é grande e muito confiante. Eu estou confiante sim na expectativa, não só porque nós ganhamos o primeiro júri, porque onde há provas não há argumentos, certo? As provas falam por si próprias, então a gente está confiante sim, tanto eu como as outras mães, a sociedade civil, os movimentos populares que nos acompanham, que nos ajudam, estão sim confiantes e a nossa expectativa é de ser tão bom quanto o primeiro que foi o julgamento propício para nós, que foi para o lado da periferia, porque quando a gente consegue algo favorável à periferia, é muito importante, então a minha expectativa e a expectativa das demais mães é que a nossa periferia pare de ser morta”. Edna Carla é fundadora do Movimento Mães da Periferia de Vítima por Violência Policial no Ceará, é integrante do movimento Cada Vida Importa e pesquisadora social.

Já Fernanda Estanislau, Secretária Adjunta da Comissão de Direitos Humanos OAB/CE diz que “esperamos que o processo do júri corra bem, que não haja nenhum tipo de dificuldade no acesso dos familiares das vítimas e sobreviventes e que o julgamento corra de acordo com o regramento processual, que todos os depoentes possam ser ouvidos e que, claro, o caso seja novamente acompanhado pela população em geral pela sua importância histórica. O júri do Curió é um caso emblemático e pode representar uma mudança de paradigma quanto à responsabilização em casos de violências cometidas por agentes do Estado. A busca é por responsabilização e reparação.”

No primeiro júri, ocorrido em junho deste ano e com cinco dias de duração, os quatro primeiros réus foram condenados a 275 anos e 11 meses de prisão cada um. São eles: Antônio José de Abreu Vidal Filho, Marcus Vinicius Sousa da Costa, Wellington Veras Chagas e Ideraldo Amâncio. 

Sobre o andamento do processo, Edna explica que “antes de ter marcado o julgamento e tudo, a gente, eu pelo menos, achava o processo muito lento. E eu estou achando que está bom. A condenação poderia ter sido antes, o julgamento poderia ter sido antes, mas talvez não tivesse resolvido a questão, porque se tivesse feito durante a pandemia, ninguém podia se reunir. Então, eu acho que está no momento certo. O que importa é a justiça. Nós estamos vivendo um momento, eu não vou dizer de glória, eu não vou dizer isso, porque a gente não vai ter nossos filhos de volta. Mas estamos vivendo um momento único. Um momento que pela primeira vez no Ceará, está tendo justiça quando os policiais matam alguém, entendeu? Principalmente jovens na periferia, que além deles matarem, eles ainda dizem que os meninos são bandidos e que isso é muito cruel”.

Observador da ONU virá ao júri do Caso Curió

O Comitê dos Direitos das Crianças da ONU virá ao Ceará para acompanhar o segundo júri do Caso Curió. O órgão será representado por Luis Ernesto Pedernera Reyna, ex-presidente do Comitê e membro do órgão. Fernanda Estanislau afirma que “Sempre prezando pela rigidez técnica e jurídica em casos complexos e emblemáticos, é essencial termos presenças institucionais de organismos internacionais que acompanham o caso para acompanhar de perto o processo. Reforça ainda mais a importância desse julgamento, não só no cenário local, mas também no cenário nacional e internacional, deixando ainda mais nítida a importância de responsabilização por parte do Estado”.

O Conselho Nacional de Direitos Humanos e a Ouvidoria Nacional do Ministério dos Direitos Humanos (MDH) estarão presentes no segundo júri do Caso Curió.

Um terceiro júri está marcado para 12 de setembro, com mais oito policiais como réus. Outros réus aguardam recursos na esfera federal.

Mais sobre o Caso Curió

Entenda os episódios do crime, de acordo com o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) acessando 11docurio.com

Entenda como funciona e acompanhe em tempo real o júri por meio do hotsite do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE)

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Edição: Camila Garcia