Ceará

Amamentação

Agosto Dourado: campanha debate direitos das mães que amamentam e trabalham

O leite materno funciona como vacina, protege contra as doenças e possui todos os nutrientes que o bebê precisa

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
A doula Krys Rodrigues queria amamentar no mínimo seis meses, algo que nunca tinha acontecido na sua família. - Arquivo pessoal/Roberta Martins

No mês de agosto, uma aliança mundial concentra ações para promover os benefícios do leite materno. São tantas vantagens que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que esse seja o primeiro alimento de um bebê e, se possível, deve ser dado de forma exclusiva até a criança completar 6 meses de vida, e de maneira complementar, até os dois anos de idade. 

O alimento, considerado ouro pela OMS, funciona como uma vacina, protege de doenças, é rico em todos os nutrientes que o bebê precisa, fortalece o vínculo entre mães e filhos, já está pronto, quentinho e é de graça. Apesar disso, no Brasil, a licença maternidade só dura quatro meses e a campanha do Agosto Dourado deste ano traz debates justamente para promover a garantia do direito da mãe trabalhadora continuar amamentando, com o tema “Possibilitando a amamentação: fazendo a diferença para mães e pais que trabalham”. 

A Constituição Brasileira também garante que a mulher tenha 2 (dois) descansos especiais, de meia hora cada um, durante a jornada de trabalho, mas ainda existe muita dificuldade de encontrar empresas e instituições que garantam condições propícias ao aleitamento materno para quem escolhe ou precisa voltar a trabalhar. 

Foi o caso da analista de projetos Danielly Moreira. Ela conseguiu juntar férias e licença maternidade e fez cinco meses de amamentação exclusiva e em livre demanda, mas quando voltou ao trabalho precisou refazer as escolhas na rota da maternidade. “A gente se preparou, ordenhou, guardou, fez tudo certo para continuar e deu certo durante duas semanas. Mas no trabalho, eu ordenhava na sala da chefe do RH. Eu me sentia muito desconfortável e naturalmente a produção do leite foi caindo muito”, explica ela que amamentou até os 2 anos e 7 meses. “Foi uma luta. Não dá pra romantizar. A mulher, quando se torna mãe,se priva de tudo por um filho e não chega muita gente para ajudar. Até o frasco para armazenar o leite foi difícil de conseguir”, relembra.

Este ano, a Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria de Saúde (SMS), lançou uma campanha para arrecadar os frascos destinados ao armazenamento de leite em 200 condomínios de Fortaleza. De acordo com Luciana Passos, coordenadora das redes de atenção primária e psicossocial da SMS, a ideia é ampliar a divulgação para estimular toda a cadeia que envolve a amamentação. “O grande ponto agora é a oferta do vasilhame para coleta do leite e manipulação adequada, pois tivemos grandes ganhos nos bancos de leite. O estoque vai ajudar as crianças que estão na UTI Neonatal com prematuridade extrema e assim evitar o início precoce do uso da fórmula oral, que é responsável por muitas alergias e comprometimentos da saúde da criança”, ressalta a servidora.


A Prefeitura conta com 23 salas de apoio à mulher que amamenta e coleta de leite materno para doação aos bancos de leite credenciados. / Arquivo PMF

Além disso, as 23 de Salas de Apoio à Mulher que Amamenta/Coleta de Leite Humano presentes em 18 postos de saúde da capital também são pontos de entrega, onde a população pode doar embalagens de vidro de alimentos como maionese e café solúvel, com tampa de plástico. O material arrecadado será destinado aos bancos de leite vinculados. De janeiro a junho deste ano, cerca de 12 mil mulheres foram atendidas nesses espaços, e 452 litros de leite foram arrecadados para abastecimento dos bancos de leite vinculados.

“É importante frisar que esses espaços são destinados para gestantes e puérperas, e toda população, de um modo geral, que tenha interesse em massificar os benefícios do leite materno e contribuir no fortalecimento do vínculo entre mãe e filho”, enfatiza a coordenadora da Atenção Primária e Psicossocial de Fortaleza, Luciana Passos.

Amamentação na primeira hora de vida

Quando o Yago nasceu, há 11 anos, a doula e psicóloga Krys Rodrigues estava pronta para assumir a escolha de amamentar o filho em livre demanda. Apesar de não ter vivido a cultura da amamentação com as mulheres mais velhas da família, ela fez cursos antes do parto e buscou as melhores informações para se empoderar sobre o nascimento do seu primeiro filho. Ela só não tinha ideia que a amamentação duraria quase 8 anos. “A meta era amamentar pelos 6 meses, que já era mais do que qualquer mulher da minha família e acabou sendo uma amamentação de sete para oito anos, onde foi exclusiva até um ano e três meses e depois livre demanda até os três anos. Dos três aos quatro anos, a gente negociou e ele mamava só em casa e a partir dessa idade ele só mamava pra dormir ou quando lembrava, até que chegamos ao fim, de forma leve”, conta.


A doula Krys Rodrigues queria amamentar no mínimo seis meses, algo que nunca tinha acontecido na sua família. / Arquivo pessoal/Roberta Martins

Hoje, a Krys é doula em Fortaleza e trabalha oferecendo suporte para as mães na hora do nascimento. Foram mais de 1500 partos assistidos nos últimos dez anos e além de garantir que as escolhas das mulheres sejam respeitadas durante o parto, a Krys só sai do hospital depois da golden hour, ou seja, da amamentação sendo feita na primeira hora de vida do bebê. “É preciso encorajar o processo para que a amamentação já seja estabelecida na primeira hora de vida, seja no parto normal vaginal, seja uma pós cesária, um bebê que está bem, uma mãe que está bem devem ser estimulados a já iniciar a amamentação na primeira hora de vida”.

Bancos de leite

O Ceará é o primeiro do Nordeste e o sétimo do país em números de bancos de leite humano. De acordo com o Governo do Estado do Ceará, são nove bancos de leite humano, 14 postos de coleta de leite materno e 16 salas de apoio à mulher trabalhadora que amamenta, certificadas pelo Ministério da Saúde no Ceará. Destas, seis ficam em hospitais da rede pública do Governo do Estado: Hospital Geral de Fortaleza, Hospital Geral César Cals, Hospital Infantil Albert Sabin, Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar, Hospital Geral Waldemar Alcântara, em Fortaleza, e Hospital Regional Norte, em Sobral.

Já o Banco de Leite Humano (BLH) da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC), unidade do Complexo Hospitalar da UFC/EBSERH, é pioneiro no Ceará no acolhimento e assistência a mães e recém-nascidos. Desde 1988, o Banco de Leite Humano da MEAC, incentiva e promove o aleitamento, com assistência a pacientes, treinamento com os profissionais e desenvolvimento de pesquisas científicas. 

A enfermeira Janaina Landim, chefe do Banco de Leite Humano da MEAC, ressalta a importância do apoio para que as mães continuem amamentando as crianças por mais tempo. “Além das questões de saúde, o vínculo que se forma entre mãe e filho é muito importante para que a mãe consiga amamentar por mais tempo e esse apoio deve ser dado pelos profissionais de saúde, pelas instituições, pelos gestores e familiares dessa mãe e por toda a sociedade civil”. 

Somente em 2022, o banco de leite da MEAC realizou 6.936 atendimentos individuais à puérperas e lactantes, acompanhamento de 576 estudantes de graduação e pós-graduação, 3.276 visitas domiciliares, 2.883 doadoras de leite humano e 2.485,8 litros de leite humano coletados. Atualmente, o estoque da maternidade está com 57 litros de leite. Número suficiente para atender apenas as crianças recém nascidas que estão na UTI. 

Serviço

Bancos de leite no Hospital César Cals (HGCC) - Telefone: 0800 286 5678

Banco de leite Hospital Albert Sabin - Telefone 85-3101-4189

Banco de leite Hospital Geral de Fortaleza - Telefone: 85-3101-3335

Banco de leite Hospital e Maternidade Dra. Zilda Arns Neumann - Telefone: (85) 9836-0172

Banco de leite Meac - Telefone: 85-3366-8509

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Edição: Francisco Barbosa