Ceará

Inclusão cultural

Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura completa 24 anos com muitos desafios para superar

Há 100 dias como gestora do equipamento, Helena Barbosa aposta em diálogos coletivos para resolver questões do entorno

Fortaleza, Ceará |
Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC), o equipamento mais democrático e inclusivo da cidade, completa 24 anos de história - Divulgação/Luiz Alves

Essa semana, Fortaleza será tomada por diversos eventos gratuitos e culturais. É aniversário de 24 anos do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC), o equipamento mais democrático e inclusivo da cidade. A festa será dominada por artistas de diversas vertentes. Todos cearenses. Uma maneira de reconhecer e valorizar o patrimônio imaterial do estado.

As comemorações também marcam a gestão de 100 dias da superintendente Helena Barbosa. “É um grande desafio por tudo que o Dragão representa nacionalmente, mas ao mesmo tempo tive uma jornada muito longa para chegar aqui”, afirma a gestora. Graduada em Ciências Sociais, com duas décadas dedicadas a pesquisas e produções culturais, escritora, cria do Castelo Encantando, no Grande Mucuripe, Helena desceu o morro pra engolir a cidade, como costuma dizer, mas não esquece suas raízes. Mulher, negra e periférica, Helena viu no convite para assumir o CDMAC, uma oportunidade de resgatar a conexão dos moradores com o equipamento, por meio da história e da afetividade. 

O primeiro mês da gestão foi marcado por reuniões internas para conhecer as pessoas, os núcleos, as dificuldades e os anseios de quem faz o Dragão acontecer. “Não foi em vão. Precisávamos beber dessa história para construir o que temos pela frente. Para mim não faz sentido comemorar o aniversário do Dragão sem fazer a conexão do equipamento com os pescadores, que são pioneiros nessa história. As pessoas não conheciam a fundo quem foi Chico da Matilde, Tia Simoa, a representatividade da jangada e a gente não podia se desvencilhar dessa narrativa”, revela Helena.


Superintendente do Dragão do Mar, Helena Barbosa acumula duas décadas de gestão, projetos e pesquisas culturais / Divulgação/Luiz Alves

Para celebrar a história e a ancestralidade que permeiam o Dragão do Mar, o Museu da Cultura Cearense trará a exposição “Retrato de Mestre”, homenageando pescadores e marisqueiras do Ceará, em memória ao Chico da Matilde e demais jangadeiros que se revoltaram contra a escravidão no estado. Já o Acervo Mucuripe, exibirá uma obra audiovisual de três episódios, com direção de Juliana Tavares e pesquisa de Diêgo di Paula, com informações do projeto que preserva a Memória do Grande Mucuripe, por meio da arte, da pesca e da educação patrimonial. São passos importantes na direção do pertencimento, sentimento que muitas vezes precisa ser despertado. “Nossa proposta é que a comunidade de pescadores tenha o direito de pagar meia entrada nas atrações pagas do Dragão” ressalta a gestora.

Cuidar do entorno do Dragão do Mar é responsabilidade de muitas mãos, mas quem ocupa o equipamento e faz dele moradia também precisa de escuta e inclusão cultural. A preocupação com as pessoas parece ser marca registrada de Helena Barbosa.  Quando entrou, criou o Núcleo de Articulação Territorial (NAT), para conduzir o plano de cuidados para o centro cultural e seu entorno, mapeando, refletindo e propondo estratégias para sanar necessidades que o território demanda. Assim, a gestão do CDMAC e agentes do Iracema - Território Vivo (projeto conduzido pela vice-governadoria) , por meio do Programa Achegue-se! estiveram com as pessoas em situação de rua para estabelecer conexão e mapear desejos. 

Nas primeiras ações, o grupo cadastrou os moradores, entregou kits de higiene com a doação de lençóis, distribuição de lanches e definiu uma programação. “A gente quis saber como eles queriam ocupar o equipamento e a maioria escolheu assistir a um filme na parte externa do Dragão do Mar”, explica Helena. A primeira edição do Cinema na Rua, acontece nesta terça-feira (25). Dois filmes com produção cearense, de linguagem acessível, serão exibidos no Espaço Rogaciano Leite Filho,  ‘Aquele que veio do oeste’ de Wesjley Maria e ‘Rua Dinorá’ de Natália Maia e Samuel Brasileiro.

Revitalização

2013, 2016, 2018, 2021. Foram muitas as obras de requalificação e reordenamento no entorno do Centro Cultural Dragão do Mar. A falta de iluminação, pavimentação, sinalização,  limpeza e segurança estão no topo das reclamações dos usuários. São melhorias que chegam mas acabam por falta de manutenção, como acredita a universitária Ana Silveira. “Sempre a mesma coisa, ajeitam tudo e fica bonito e ocupado por algumas semanas e depois o perigo volta. Eu e meus amigos já fomos assaltados três vezes por aqui. É meu caminho de casa e sempre passo nervosa”, reclama. 

A sensação de medo e abandono é ainda mais forte para o representante Carlos Matos que trabalha perto do equipamento. “Quando comecei a trabalhar aqui perto achei ótimo porque é um espaço de cultura e entretenimento muito bacana, mas se a gente vacilar, fica sem celular e sem relógio. Eu só ando apressado e olhando para os lados. É tenso”, lamenta.

O último a desistir do espaço foi o tradicional bar "Chopp do Bixiga” que durante 25 anos funcionou ao lado do equipamento. Como parte da celebração dos 24 anos do Dragão do Mar, a gestão está promovendo uma série de encontros com empresários e trabalhadores do entorno para a construção de soluções coletivas para discutir, entre outras questões, temas como articulação territorial entre o complexo cultural e a rede parceira, os desafios da inclusão cultural e a ação cultural do CDMAC. O acesso é gratuito e livre. “É um grande pacto social coletivo para propor um plano permanente de cuidados e revitalização da região. Estamos visitando as casas de show e todos os negócios para convocar e pensar em um plano integrado para fortalecer os cuidados com o território”, afirma a gestora.

Por meio de nota, a Polícia Militar informou que o patrulhamento no entorno do Centro Dragão do Mar é feito pelos efetivo do 5º Batalhão e Policiamento Turístico (BPTUR), por meio de viaturas, base fixa e policiais a pé. De acordo com a Polícia, ainda há reforço por meio do Comando de Policiamento de Choque e Comando de Policiamento de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (CPRAIO).

Já a Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria Regional 12, informou que mantém um cronograma de serviços de zeladoria ao longo do território e a Praça Almirante Saldanha está contemplada com ações de limpeza.  Conforme a programação, o espaço público receberá, nesta semana, os serviços de capina, varrição e lavagem do piso. Com relação à poda de árvores, a Autarquia de Urbanismo e Paisagismo de Fortaleza (Urbfor), informa que enviará amanhã (25/04) uma equipe técnica às ruas do entorno do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura para realizar uma vistoria e levantar os serviços necessários a serem realizados.  Quanto à iluminação, a gestão municipal, por meio da Secretaria da Conservação e Serviços Públicos (SCSP), disse que vai avaliar as condições e necessidades da área para realizar manutenções nos pontos que necessitarem.

Sobre a  população em situação de rua, a Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS), oferece alimentação diária, locais para higiene pessoal, serviços socioassistenciais e locais de acolhimento em diversos pontos do Centro de Fortaleza.

Novidades

Após três meses desde que assumiu a superintendência do CDMAC, Helena Barbosa anuncia alguns avanços, como a reabertura de espaços, como o Anfiteatro Sérgio Motta e a sala 1 do Cinema do Dragão, fechadas desde o início da pandemia; melhorias na Praça Verde do Dragão, a conclusão da recuperação de obras artísticas na Praça Verde, projeto do Museu de Arte Contemporânea do Ceará; a reabertura da rampa de acesso da Praça Almirante Saldanha para o piso superior do Dragão; e a estruturação do Núcleo de Articulação Territorial (NAT), que já iniciou a mobilização de parceiros para mapear, refletir e propor estratégias de cuidados que o território demanda, trabalho que será desenvolvido de forma integrada à programação de ação cultural do CDMAC.

Shows

Na sexta-feira (28), a partir das 19h30min no Teatro Dragão do Mar, o arquiteto, urbanista e letrista Fausto Nilo, personagem vital na história do complexo cultural, apresenta "Esquina do Brasil". Acompanhado pelos músicos Thiago Almeida (piano e teclados) e Cristiano Pinho (cordas de guitarra e violão), o artista traz no repertório canções que destacam a diversidade de suas parcerias musicais, formadas ao longo dos seus 51 anos de trajetória. A distribuição de acessos à apresentação será iniciada uma hora antes do evento, com capacidade limitada a 271 lugares. 


Já na Praça Verde, a partir das 20h, acontece um grande encontro da música "Mar de Liberdade" reúne artistas de gêneros musicais diversos, como a DJ Lolost; Os Transacionais convidam Mel Mattos e Assun; Bloco Mambembe com Mulher Barbada e Deydianne Piaf; Mateus Fazeno Rock lançando o álbum "Jesus Ñ Voltará"; e Don L e Banda com o show "RPA2". Com classificação de 18 anos, o show é gratuito mediante doação de 1kg de alimento não perecível (exceto sal) na entrada do evento.

A programação completa você pode acessar em http://www.dragaodomar.org.br/

Edição: Camila Garcia