Ceará

Solidariedade

Cozinha Popular Dona Lucimar é inaugurada neste domingo (12), no bairro Pici, em Fortaleza

A meta da Cozinha Popular Dona Lucimar é distribuir aproximadamente 200 refeições aos domingos e às quartas-feiras.

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
programação de lançamento contará com almoço coletivo, serviço de corte de cabelo, recreação com crianças, sorteio de cestas básicas e muito mais. - Foto - Ecilia Larissa, comunicadora e voluntária na cozinha popular

O Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos, o MTD e o Movimento Brasil Popular, realizam neste domingo (12), o lançamento da Cozinha Popular Dona Lucimar, localizada na Travessa Sinuosa, nº 76, no bairro Pici, em Fortaleza.  A programação de lançamento contará com almoço coletivo, serviço de corte de cabelo, recreação com crianças, sorteio de cestas básicas e muito mais. De acordo com Gabriel Arcelino, militante do Movimento Brasil Popular e um dos coordenadores da Cozinha Popular Dona Lucimar, a cozinha surge para dar seguimento às campanhas de solidariedade já realizadas pelo campo político encabeçado pelo Movimento Brasil Popular, MTD e MST nos últimos tempos. “Este espaço cumpre o papel do combate à Fome no bairro, e para além disso, também o de aglutinar a potência de luta que historicamente o bairro tem na busca por melhores condições de vida”.

A meta da Cozinha Popular Dona Lucimar, no Pici, é distribuir aproximadamente 200 refeições aos domingos e às quartas-feiras. A princípio, o funcionamento da cozinha se dará semanalmente aos domingos pela manhã, no próprio espaço da cozinha e nas quartas-feiras, com entrega das quentinhas de forma volante, em outras regiões do bairro.

O início de um sonho

“Atuar, construindo a Cozinha Popular no Pici é exercitar a solidariedade e também a esperança de que organizados podemos mais. Acompanho este processo desde o seu início, ainda no período mais tenso da pandemia quando iniciamos as atividades da Cozinha Popular da Bela Vista, bairro vizinho ao Pici, encabeçada pelo MTD. Lá pude perceber o potencial dessas ações e o impacto que têm na comunidade. Foi a partir desta experiência que surgiu a vontade de me unir a outros moradores do bairro em que moro e construir aqui também uma Cozinha Popular”, afirma Gabriel.

Gabriel explica que o bairro Pici já recebia ações periódicas de maneira volante, a partir da primeira cozinha popular do MTD, localizada em um bairro vizinho. De acordo com ele, a decisão por garantir um espaço permanente de cozinha popular para o bairro veio pelo motivo de que o Pici apresenta uma grande necessidade de ações de solidariedade neste sentido, tendo parte de sua população em grande vulnerabilidade social e alimentar, ao mesmo passo que apresenta um enorme potencial de organização do povo trabalhador e de pessoas já comprometidas com a causa da solidariedade do povo para o povo.

Jeová Vidal mora na comunidade da Fumaça há mais de 40 anos e afirma que vê muita gente necessitada pela comunidade e acredita que a chegada da cozinha será algo importante para os moradores. “É uma comunidade muito pobre, muito humilde, e a gente precisa de toda ajuda possível para a comunidade. A cozinha é muito importante porque aqui existe muita gente humilde que tem necessidade, sequer arranja um emprego, e quando arranja um emprego ganha muito pouco, tem filhos, crianças pequenas e a necessidade é evidente que existe”.


Gabriel explica que o bairro Pici já recebia ações periódicas de maneira volante, a partir da primeira cozinha popular do MTD, localizada em um bairro vizinho. / Foto: Comunicação Cozinha Popular CE

Apoio do governo do estado

Malvinier Macedo, militante da segurança alimentar e nutricional afirma que o governo do estado, ao instituir o Programa Ceará Sem Fome e dentro dele inserir a criação da Rede de Unidades Sociais Produtoras de Refeições, oferece às cozinhas populares um instrumento para fortalecer os espaços e a mobilização de grupos que estão atuando no sentido de minorar a fome, desde o período do isolamento da pandemia da covid-19. “Faz-se necessário, no entanto, que haja um forte diálogo para que o trabalho voluntário que vem acontecendo nesses espaços seja aprimorado e receba apoio, tanto no que diz respeito aos equipamentos, como aos insumos, que sempre foram doados, mas que tem minguado. E que a interação com os programas governamentais que vêm assistindo as populações carentes, aconteça de modo robusto”.

Malvinier explica que as cozinhas populares, que no projeto do governo passam a ser denominadas de Unidades Sociais Produtoras de Refeições, contribuirão tanto para a segurança alimentar, como para o acesso ao alimento seguro. Afinal, muitas pessoas só têm as refeições preparadas de forma voluntária e com doações, como já vem acontecendo desde 2020. “Mas espera-se que o cenário mude, que essa mazela das desigualdades sociais seja banida, porque como disse Josué de Castro, ‘a fome é a expressão biológica de males sociológicos’, e precisamos da construção de uma sociedade na qual as pessoas vivam de forma digna. Para tal, isso exige um aporte de esforços para o seu pleno funcionamento, tanto por parte de segmentos da sociedade, como por parte do poder público”.

Doação

A cozinha funciona por meio de doações de alimentos e recursos financeiros. Neste primeiro momento, Gabriel informa que a luta é para consolidar e dar continuidade às ações de almoço coletivo para que possam adquirir materiais de cozinha. As doações podem ser feitas por meio do pix da cozinha [email protected] ou em contato direto com os voluntários pelos telefones: (85) 994390934 ou (88) 998460351.

Mas para além das doações, Gabriel lembra que é essencial a participação de moradores do bairro e de voluntários interessados com a causa para o processo de produção dos alimentos, limpeza e higienização, comunicação ou mesmo da partilha e convívio social dentro da cozinha. “Há espaço mesmo para aqueles que não sabem cozinhar. Identificamos a cozinha como muito mais do que a simples entrega das refeições, o cozinhar coletivamente é também o exercício da solidariedade e da organização das pessoas em prol de um mundo melhor e mais justo”, afirma Gabriel.

O professor Marcos Paulo Campos faz doações à Cozinha Popular desde 2021 e afirma que a visita presencialmente ao espaço é algo transformador. “A visita foi muito forte porque você está diante de uma realidade incontestável e também de uma solidariedade incontestável, então encontrei um grupo muito dedicado, com compromisso efetivo com a questão do combate à fome. Uma parceria muito bem construída e encontrei efetivamente as pessoas que estão experimentando as condições de fome e insegurança alimentar. Então acho que a visita tem um peso importante no sentido de sensibilizar pelo contato. A Cozinha Popular é um ambiente que eu acho que faz bem, é um ambiente transformador de perspectivas e produtor de uma solidariedade que é necessária ao nosso contexto”. 

Como doador, Marcos explica que as doações para cozinha são fundamentais. E pede que quem puder fazer, faça. “Eu sempre que posso divulgo, eu peço no meu aniversário, eu peço aos meus amigos do condomínio, meus colegas de trabalho. Eu acho que também é importante constituir redes de doações permanentes, que para você fazer um processo de enfrentamento à fome, você precisa de doações mais regulares. Eu tenho tentado tanto manter regularmente como convidar pessoas a fazerem isso também”. 


para além das doações, Gabriel lembra que é essencial a participação de moradores do bairro e de voluntários interessados com a causa para o processo de produção dos alimentos, limpeza e higienização / Foto: Helder Careca

Dona Lucimar

Dona Lucimar foi uma antiga moradora do bairro e uma das responsáveis pelos primeiros processos de ocupação da região, se mudando com a família para a localidade que hoje é conhecida por Fumaça, que foi um dos focos que transformariam os terrenos em torno da antiga base aérea dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial, em um dos bairros mais populosos da cidade. Mulher negra, guerreira e periférica que fazia de tudo pela família e vizinhança. Símbolo de força e solidariedade que inspira uma geração de moradores do bairro a lutar.

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Edição: Camila Garcia