Ceará

Eleições 2022

Reduto da esquerda, Ceará receberá Damares, Michelle e Jair Bolsonaro no fim de semana

A estratégia do partido é atrair o eleitorado feminino e ampliar a base do presidente entre os evangélicos

Brasil de Fato | Fortaleza, CE |
Jair Bolsonaro (PL) e Damares Alves (Republicanos) - Reprodução/PR

O Ceará, assim como todos os estados do Nordeste, é um celeiro de votos para os partidos da esquerda. O primeiro turno das eleições deste ano deram mais uma prova disso. Além de ter eleito Elmano Freitas (PT) como governador com mais de 54% dos votos, os cearenses deram 66% de votos ao candidato Lula (PT) para a presidência, contra apenas 27% dos votos ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Em 2018, apesar de ter vencido as eleições,o atual presidente só conseguiu apoio de 28,89% dos cearenses.

O histórico das eleições democráticas também mostra a votação expressiva de Lula em 2002, quando alcançou 71,78% dos votos no Ceará. Em 2006, na sua reeleição, a porcentagem subiu para mais de 82% dos votos. Em 2010 e 2014, a ex-presidenta Dilma (PT) também alcançou votações expressivas quando eleita, com 66,30% dos votos dos cearenses no primeiro mandato e 76,75% no segundo. “O Bolsonaro vai ter muita dificuldade de aumentar a votação dele no Nordeste inteiro. Quem já votou nele no primeiro turno, mantém no segundo, mas os votos dos outros candidatos, pelo histórico do Nordeste e aí podemos pensar no Ceará, vão para o Lula”, analisa o cientista social Alexandre Landim.

A preferência pelos governos do PT no Nordeste é resultado das políticas públicas implementadas na região que deram um salto na qualidade de vida das pessoas mais carentes. Dados do Governo Federal, apontam que mais de 1 milhão de famílias foram beneficiadas com o Bolsa Família no Ceará. O programa Minha Casa, Minha Vida entregou  125. 500 moradias; o programa Água para Todos construiu mais de 250 mil cisternas no estado a partir de 2011 e o Luz para Todos, levou energia elétrica a 178 mil endereços. Na educação, não foi diferente. O Prouni e o Fies ajudaram mais de 137 mil jovens a cursarem a universidade, muitos deles em um dos nove novos campi erguidos com financiamento federal. "Se pegarmos os dados do desenvolvimento econômico do país, veremos que a região nordeste cresceu acima da média nacional durante os governos petistas. Além disso, podemos dizer que o nordeste entrou no mapa do Brasil. Essas políticas têm um enorme impacto na qualidade de vida das pessoas. Portanto, é a percepção da melhoria das condições materiais de existência que leva os eleitores do nordeste escolherem as candidaturas do PT, mais do que uma preferência ideológica por partidos de esquerda”, observa Landim.

É o caso de Miquéias Maia de 26 anos. Ele é analista de sistemas e professor universitário, o primeiro neto a entrar em uma universidade. A família é de agricultores de baixo letramento que se firmou em Itapiúna, no Sertão do Ceará. Na primeira oportunidade, Miquéias precisou largar o curso na Universidade Estadual do Ceará, no campus de Quixadá, porque não tinha dinheiro para o transporte. Mas em 2014, ele entrou para a faculdade particular, por meio da bolsa do Prouni (criado por Haddad quando foi Ministro da Educação) e se locomoveu durante os 4 anos da faculdade, graças ao Programa Caminhos da Escola, criado no Governo Lula de 2005 para potencializar o acesso à educação na Zona Rural. Hoje, Miquéias trabalha desenvolvendo sistemas para uma multinacional e dá aula em uma universidade ajudando os estudantes a mudar de vida, como ele. “Eu encaro meu trabalho de lecionar como o cumprimento de um papel social para oportunizar outras pessoas de chegarem onde cheguei e onde ainda quero chegar. Tenho muito orgulho do meu lugar, mas observando minha própria história, se não fossem esses programas, provavelmente eu não estaria aqui conversando com você", comenta Miquéias. 


Casa onde Miquéias Maia nasceu e morou até os sete anos, em Itapiúna, interior do Ceará. / Arquivo pessoal


Miquéias Maia quando se formou Analista de Sistema. O jovem foi beneficiário do Prouni. / Arquivo Pessoal

Com dificuldade de ampliar sua base no Nordeste, Bolsonaro pediu votos na Igreja Evangélica Assembléia de Deus que fica no Brás, em São Paulo, no último dia 4 de outubro. Durante o culto, e acompanhado da primeira-dama Michelle Bolsonaro, o presidente pediu para que os fiéis ligassem para os parentes do Nordeste e pedissem votos para ele. “Tivemos uma derrota grande no Nordeste, mas a culpa não é do povo de lá. Eles foram administrados por esse partido político (PT). E como São Paulo é a cidade com o maior número de nordestinos do Brasil, peço que vocês entrem em contato com nossos irmãos no Nordeste e expliquem para onde podemos ir, para que eles não embarquem nessa canoa”, disse o presidente em vídeo que circula nas redes sociais.

Na sexta-feira (14), a estratégia de Bolsonaro ganha mais um capítulo no Ceará, com a chegada da primeira-dama Michelle Bolsonaro e da ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) em busca do eleitorado feminino. Já o presidente chega no sábado e tem agenda marcada com apoiadores, lideranças políticas e religiosas. A informação foi confirmada no twitter pelo deputado estadual reeleito André Fernandes (PL). 

Apesar do esforço, pesquisa realizada pelo IPEC em setembro deste ano, mostra que 54% das mulheres de todo o país não votariam em Bolsonaro de jeito nenhum, resultado dos constantes ataques desferidos pelo atual presidente. Já entre os evangélicos, Bolsonaro lidera. Na pesquisa do Ipec divulgada nesta segunda-feira (10/10), o presidente tem 63% da preferência contra 31% do candidato Lula entre os fiéis, repetindo a expressiva votação de 2018. Mas vir ao Ceará em busca desse eleitorado é chover no molhado, analisa Alexandre Landim que finaliza sua tese de doutorado sobre a presença da religião em eleições presidenciais. 

“Segundo o último censo do IBGE de 2010, o Ceará é majoritariamente católico com 80% da população e cerca de 15% é de evangélicos. Mesmo que tenha havido alteração nos últimos 12 anos, a possibilidade de crescimento de Bolsonaro é baixa. Se você comparar os dados eleitorais desde a redemocratização, os católicos votam majoritariamente no Partido dos Trabalhadores, os votos no PT já estão consolidados, então é uma estratégia que não considero efetiva”. 

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Edição: Camila Garcia