Ceará

Eleições 2022

Comitês populares do Ceará ampliam mobilização no segundo turno

Mais de 1800 comitês foram instalados no Ceará em defesa das pautas sociais

Brasil de Fato | Fortaleza, CE |
Lançamento do Comitê Popular contra a fome no Bairro Bela Vista em Fortaleza. - Camila Garcia

A conjuntura desenhada há mais de seis anos com o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff (PT) fez surgir uma estratégia para dar vez e voz às demandas das favelas, do movimento negro, indígena, quilombola, dos pescadores, da comunidade LGBTQIA+ e tantos sujeitos em luta por direitos. São os comitês populares, como uma iniciativa liderada por movimentos sociais e por partidos de esquerda como o PT, PSOL e PCdoB para pensar no futuro do país.

“Os processos eleitorais nas periferias do Brasil são muito doloridos. Eles ligam uma torneira e começam a jogar dinheiro e nós que construímos movimentos populares e experiências permanentes dentro do território, ficávamos vendo o bloco passar. Então a gente determina que nós vamos elevar o nível de consciência do povo e vamos construir uma ferramenta que, para além das eleições, sejam espaços para reunir e acolher as pessoas para que elas entendam que construir esses comitês, é ter a esperança da melhoria de vida dela, que é a melhoria de vida do povo brasileiro”, explica Bruna Raquel, militante do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por direitos (MTD).

O MTD é aliado no combate à fome por meio de doações de refeições produzidas nas cozinhas populares. Durante a pandemia, o Movimento contribuiu com a Campanha Nacional Periferia Viva, que doou milhares de cestas básicas no Ceará. Ao mesmo tempo, o MTD mobiliza a periferia para debater e encontrar caminhos para resolver as demandas sociais. Bruna também é voluntária da cozinha popular instalada no ano passado no bairro Bela Vista. O espaço se tornou um comitê para debater pautas como o acesso à alimentação, à cultura e dialogar sobre educação infantil e a importância do brincar das crianças. “Durante o primeiro turno realizamos diversas ações,principalmente sob a coordenação do doutor Eudoro Santana, e no segundo turno estamos ampliando as atividades até o dia 30. Desde o início do ano estamos nos organizando para manter o comitê depois das eleições, pois identificamos que é preciso manter o povo organizado para garantir que o Lula, quando ganhe, consiga governar com a força do povo mobilizado”, ressalta Bruna.

O trabalho corpo a corpo é diário. O grupo se divide em diversas atividades nos bairros da cidade e programa ações pontuais. No próximo dia 12, o MTD realiza uma atividade festiva para o dia das crianças com debate sobre as verbas da educação infantil e sobre o direito de brincar no Comitê Popular da Serrinha. No dia 16 de outubro, o grupo realiza na cozinha solidária da Bela Vista, outra atividade, casando a pauta das crianças com o diálogo sobre a boa alimentação. “Faremos esse momento na cozinha, com o MST, o Levante Popular da Juventude e outros movimentos para a gente entender porque esse governo quer que a gente coma mal? Comer mal, não ter acesso a alimentação também faz parte de um projeto”, alerta.

No Ceará foram criados mais de 1800 comitês populares. Em Fortaleza, o assistente social e educador popular Rogério Babau organiza atividades nos bairros Serrinha, Tancredo Neves, Pirambu, Bela Vista, Cidade Jardim e Planalto Pici. Ele explica que os comitês trabalham organizando a população e empoderando a comunidade sobre os problemas dos bairros e como eles estão ligados a problemas governamentais. “O primeiro elemento é combinar o processo comunitário com a conjuntura nacional, analisando os problemas do governo federal e como eles impactam nos problemas da comunidade. E pautar através das atividades, a luta pelo saneamento, pela comida e assim fizemos várias e várias ações de solidariedade”, conta Babau. 

De acordo com Babau, os comitês organizados pelo Movimento Brasil Popular passaram por três fases de implantação para preparar a comunidade para as eleições de 2022. "Depois de organizar a comunidade e debater as pautas, aliamos as lutas populares à luta institucional. A gente explicou o porquê da escolha pelos candidatos que defendem as nossas causas, porque era importante eleger os candidatos progressistas, inclusive nas bancadas estadual e federal, apontando o futuro. Foi muito interessante porque fizemos luta social, elevando o nível de consciência das pessoas, combinada com a luta eleitoral e foi muito bom conseguir fazer isso nesses bairros,” reconhece.

Assim como todos os comitês populares, o objetivo é manter o Comitê da Serrinha aberto depois das eleições para pressionar os governos pela realização de pautas populares. Em caso de vitória do candidato Lula (PT), as bases atuarão para garantir a efetivação do programa de governo. Em caso de vitória do presidente Jair Bolsonaro (PL), será um espaço de resistência e acolhimento. “Considerando a vitória do Presidente Lula, teremos o comitê aberto para o povo, organizando a luta e formando novas lideranças e coletivos para que (eles) façam uma grande resistência ao parlamento, ao ataque que virá no governo Lula. No pior cenário da vitória bolsonarista, será um comitê de resistência ao facismo, de solidariedade às comunidades e ao povo mais sofrido e também de proteção ao governo estadual, destaca Babau, se referindo ao governo eleito pelo PT, com Elmano de Freitas.

Comitê da cultura

Nos quatro anos do Governo Bolsonaro o país registra 269 denúncias que dizem respeito à censura na cultura, desmonte institucional da área e autoritarismo contra o setor artístico. Os dados são do Movimento Brasileiro Integrado pela Liberdade de Expressão Artística (Mobile), que integra organizações não governamentais com o objetivo de monitorar e agir em casos assim no país.

Durante a campanha em Fortaleza, os artistas e agentes da arte e da cultura da cidade se mobilizam no Comitê da Cultura, um espaço que já está virando tradição nas eleições. O coletivo apoiou as duas últimas campanhas de Camilo Santana para o governo do Ceará e atuou ativamente no primeiro turno das eleições que escolheu Elmano de Freitas (PT) para próximo governador do estado. A mobilização segue durante o segundo turno como palco para a mobilização e manifestação política dos artistas. “Desde a proibição dos showmícios, os comitês são espaços para os artistas se manifestarem politicamente. Como o artista se manifesta politicamente se não for por meio da sua arte, da música, da poesia, do circo, da sua produção audiovisual. Os comitês tanto fazem as discussões das políticas públicas da cultura como desenvolvimento, como economia, como política de proteção social, como mobilizam os artistas e fazem política criativa dentra da campanha”, destaca Xauí Peixoto, coordenador do Comitê da Cultura de Lula, Camilo e Elmano no Ceará e membro da coordenação nacional da campanha de cultura do Lula.

Artistas, produtores culturais, agentes da arte e da cultura se revezam em uma série de atividades realizando uma campanha criativa em favor do candidato Lula (PT). É fácil encontrar grupos ocupando os semáforos em apresentações lúdicas com elementos artísticos. Cortejos e caminhadas culturais, além de adesivaços criativos acontecem todos os dias em Fortaleza. A mobilização da classe artística também é visível na comunicação e no designer de peças de campanha. “ Os comitês da cultura estão sendo fundamentais para o diálogo criativo com o povo. A cultura desperta um outro lugar de mobilização, de pensamento crítico e nós temos um papel fundamental como espaço de manifestação política, criativa, afetiva e de debate no campo das propostas e das ideias,” avalia Xauí.

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Edição: Camila Garcia