Ceará

Março das Mulheres

Música é refúgio, seja para quem ouve ou para quem dela vive

A multiartista Luiza Nobel destaca o papel da musica na afirmação da sua identidade de mulher negra

Fortaleza, CE |
Luiza Nobel
“Mulher, cearense, preta, gorda e artista”, declara orgulhosa Luiza Nobel em seu trabalho Preta Punk - Foto: Camila Almeida

Música é refúgio, seja para quem ouve ou para quem dela vive. E foi por esse caminho, que Luiza Nobel, cantora, compositora e atriz cearense, adentrou o universo musical. Porque foi justamente na música onde, pela primeira vez, ela percebeu que poderia ser apontada de uma maneira positiva, fora do bullying gordofóbico, racista e homofóbico, que lhe perseguiu durante toda a sua infância e adolescência. 

Foi no palco, na arte e na música que ela encontrou refúgio. “A primeira vez que eu subi num palco foi na escola, a convite de um dos funcionários, que também era amigo meu amigo. Eu cantei pela primeira vez e pensei: aqui eu estou num palco em que eu estou querendo me colocar e que eu tenho domínio sobre isso. Então eu me senti muito bem, e a partir disso eu deixei de ter só essas características ditas negativas pra ser a cantora”, declara Luiza.

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Mas não só, neste espaço Luiza também pôde ser mais e hoje, além de sustento, a música é uma de suas principais formas de expressão. Foi onde se encontrou o poder de sua ancestralidade e novas maneiras de se relacionar com o mundo a sua volta: “a música representa pra mim a possibilidade de sobrevivência, de contar a minha própria história, de ser protagonista de mim. De acessar outros espaços de vida através do dinheiro, que isso é um trabalho, né? Eu trabalho com isso, então é meu meio de vida, mas também é o jeito que eu encontrei de me comunicar com o mundo”.

“Mulher, cearense, preta, gorda e artista”, como reforça orgulhosa em um de seus trabalhos intitulado Preta Punk. Luiza está há mais de dez anos no cenário musical. Os caminhos são pautados em vivências relacionadas à aceitação do corpo, relações amorosas e reflexões enquanto mulher, colaborando para a riqueza e diversidade da música cearense: “Eu acho que eu colaboro bastante com o cenário musical cearense, um cenário que era muito embranquecido, muito machista. Hoje existe um movimento de mulheres na música, que teve inicio em 2013, muito forte. Hoje a gente tem bandas formadas exclusivamente por mulheres, grupos mistos que, inclusive, trazem outros gêneros, não só o feminino e o masculino. Estou nesse processo de trazer pra perto da minha arte pessoas diversas e contar a minha história”, argumenta.

A multiartista aponta que ainda existem muitas barreiras a serem rompidas.  “Ser mulher na cena é muito difícil, a gente é muito lembrada nesse período, no mês de março, em julho, no mês da mulher negra, latino-americana, caribenha. Mas a gente sofre muito. As pessoas acham que a mulher não entende a linguagem musical. E a música não é só teoria, a mulher muitas vezes é cantora e também produtora, então ainda tem a questão da sobrecarga de trabalho. A mulher, muitas vezes, precisa fazer tudo sozinha”, reforça.

Num contexto dominado por ritmos diversos, que sempre marginalizou a música negra, o esforço enquanto artista preta, que canta suas próprias canções e pretende levar seu baile para os mais diversos lugares, é imenso. “Às vezes a pessoa da casa pergunta, o que você vai tocar? E se você não falar sertanejo, forró, um ritmo específico, as pessoas ficam sem entender o que vai acontecer. Como se ser artista fosse uma etiqueta que você coloca e só vai poder fazer aquilo, ser aquilo”. Para Luiza, mais do que nunca, “ser mulher negra na cultura é propor o novo”. E é isso que ela tem buscado fazer.

PARA OUVIR LUIZA NOBEL

É só procurar nas principais plataformas de música (Spotify, Music apple, Youtube).
 

Edição: Camila Garcia