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Enem: "a discrepância entre ensino público e privado se intensificará no resultado"

Cidades estão com a frota de ónibus reduzida o que dificulta o deslocamento dos estudantes que não possuem veículo

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Os participantes devem respeitar o distanciamento entre as pessoas e os protocolos de proteção contra a covid-19. - Foto: Governo do Espirito Santo

Depois de mudanças do calendário por conta da covid-19, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) está confirmado para acontecer nos dias 17 e 24 de janeiro, com aplicação das provas impressas e nos dias 31 de janeiro e 7 de fevereiro no formato digital. Para Alex Nascimento, diretor de Relações Institucionais da União Estadual dos Estudantes Livres do Ceará (UEE-CE), os estados não estão preparados para a realização do Enem nesse período de pandemia. “Vemos nos jornais que os casos estão aumentando e que uma segunda onda é bem possível. Nem todas as escolas públicas têm condições de receber estudantes por conta de sua infraestrutura precária. Se já era difícil fazer prova nesses locais em tempos normais, imagina com todos os cuidados a mais que a pandemia impõe”.

Para ele, a realização dessa edição do Enem traz alguns desafios como o fator do distanciamento social que, de acordo com Alex, não será possível cumprir em determinados locais. “Aquelas escolas/locais que não possuírem uma climatização aumentará ainda mais o desconforto ocasionado pela mascara”. Outro desafio apontado por ele é em relação a exclusão educacional daqueles que não tem acesso a internet e matérias de estudo, deixando de forma escancarada a desigualdade social existente entre os alunos de escolas publicas e privadas. Outro fator é em relação ao deslocamento dos estudantes para o local das provas. “Temos cidades que estão com a frota de ónibus reduzidas o que dificulta o deslocamento dos estudantes que não possuem veiculo próprio”.

Alex afirma que, juntamente com as entidades nacionais como a UNE e a UBES, a UEE-CE é contra a realização da prova nessas datas. Primeiramente pelas condições sanitárias que ainda não estão propicias por conta da magnitude que é o Enem, sendo ela a maior avaliação educacional do país e também pelo desrespeito com os estudantes. De acordo com ele, em consulta realizada pelo INEP, a maioria dos estudantes escolheu que a prova fosse realizada no mês de maio, onde a consulta foi totalmente deslegitimada contrariando a vontade dos estudantes e colocando a prova para uma data que não foi a escolha da maioria.

Enem e covid-19

De acordo com informações divulgadas pelo Ministério da Educação (MEC), foi determinado que todos os participantes devem respeitar o distanciamento entre as pessoas e os protocolos de proteção contra a covid-19 em procedimentos como ida ao banheiro e vistoria de materiais, lanches e artigos religiosos. Todos os participantes devem usar máscaras e recomenda-se levar mais de uma máscara para trocar devido a duração da prova. O site também informa que será permitido levar álcool em gel, desde que em recipiente transparente. Também será obrigatório o uso de máscaras pelo acompanhante de mães que estiverem amamentando. “O participante que não utilizar a máscara cobrindo totalmente o nariz e a boca, desde sua entrada até sua saída do local de provas, será eliminado do exame, exceto para os casos previstos na Lei n.º 14.019, de 2020”.

O MEC também informa que os candidatos que estiverem diagnosticados com doenças infectocontagiosas na data da aplicação do exame poderão realizar a prova posteriormente, nos dias 23 e 24 de fevereiro. São elas: coqueluche, difteria, doença invasiva por Iaemophilus influenza, doença meningocócica e outras meningites, varíola, influenza humana A e B, poliomielite por poliovírus selvagem, sarampo, rubéola, varicela e covid-19. 

 


O MEC informa que os candidatos que estiverem diagnosticados com doenças infectocontagiosas na data da aplicação do exame poderão realizar a prova posteriormente. / Foto: Roberto Parizotti/FotosPublicas

Preocupações

Esta é a segunda vez que o estudante Gabriel Paiva participa do Enem. Ele explica que não se sente totalmente seguro em realizar as provas em meio à pandemia pelo fato de estar em ambientes com outras pessoas que podem ter o vírus. “O fato da gente ter que sair de nossas casas e fazer uma prova com desconhecidos que podem apresentar o vírus e serem assintomáticos existe e é um risco para mim e para os meus familiares”. Outra questão levantada por ele sobre a data de realização da prova. Seu receio é que a prova acontecerá em um período onde há a retomada de números crescentes de casos. “O Enem será realizado em meio a uma segunda onda, onde a contaminação será maior que a primeira, no inicio, em março de 2020. Acho que a prova deveria ser adiado para março ou abril”.

A estudante de psicologia, Julia Vieira, também participará do Enem deste ano. Júlia não se sente segura e realizar a prova do Enem nesse período de crise causada pelo coronavírus. Ela lembra que o Enem possivelmente tenha sido adiado por causa dos números de casos e contaminação, numa perspectiva que talvez a pandemia já tivesse passado nessa data, porém o que se percebe é um numero crescente de casos. De acordo com ela, é preciso perceber a estrutura de todos os ambientes que serão aplicadas as provas. “Por mais que haja um distanciamento haverá também um grande número de participantes. Nesse período de participação haverá entrada e saída de pessoas em banheiros, pausas pra alimentação e hidratação (retirada de máscaras) como de costume já que são provas extensas e cansativas. Nesse mesmo sentido em um espaço pequeno, irregularidades em uso de máscaras já são esperadas”, diz.

Para ela, a realização do Enem não deve ser mantida. “Já aguardamos um período, podemos aguardar um pouco mais, já que há a perspectiva de uma vacina e conseguir redução de casos. Nossas escolas não têm estruturas viáveis para realização do exame diante desse cenário caótico”. Ela aponta que com a pandemia as aulas foram suspensas, o nível de aprendizado caiu de forma significativa.  Essa discrepância, segundo ela, principalmente entre ensino público e privado ficou ainda maior e possivelmente intensificará nos resultados classificatórios. Poucas vagas, poucas oportunidades, desvalorização de classes mais vulneráveis e pouco reconhecidas.

Covid-19 no Ceará

De acordo com a última atualização da plataforma IntegraSUS, o Ceará já conta com um total de 341.276 casos confirmados com um total de 10.096 óbitos pela doença e com 273.923 casos recuperados.

Edição: Monyse Ravena