Ceará

Independência

Pescadoras artesanais cearenses trocam conhecimentos para geração de renda em oficina

O projeto é realizado em 12 municípios do sertão do Ceará

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
"Através dessas atividades, as beneficiárias adquirem novos conhecimentos para a produção de bens que elas comercializam"
"Através dessas atividades, as beneficiárias adquirem novos conhecimentos para a produção de bens que elas comercializam" - Divulgação Cáritas Crateús

Em 12 municípios dos sertões do sertão cearense as mulheres são protagonistas das oficinas de habilidades e alternativas econômicas promovidas pelo projeto “Pescadoras e Pescadores, Construindo o Bem Viver” realizado pela Cáritas Diocesana de Crateús, Conselho Pastoral dos Pescadores Regional Ceará e a organização italiana  CISV.

Através dessas atividades, as beneficiárias adquirem novos conhecimentos para a produção de bens que elas comercializam com o objetivo de melhorar a sua renda e de suas famílias. O território onde são desenvolvidas as oficinas está sofrendo com a estiagem, o que está afetando enormemente a atividade da pesca artesanal; além dos problemas climáticos, o abandono das instituições e a falta de políticas públicas vem desenhando um contexto hostil para o exercício da profissão, sobretudo para as pescadoras. 
“Ainda encontramos bastantes dificuldades e preconceitos em relação a nossa profissão, não somos respeitadas como deveríamos. Graças ao projeto no qual fazemos parte, hoje as mulheres pescadoras são mais unidas e estão conquistando os deveres e direitos delas.” disse Joelma Ferreira, pescadora de Independência, beneficiária do projeto e orientadora da atividade de habilidades e alternativas econômicas.
“Eu pesco com meu esposo e depois mediante a transformação daquele peixe preparo outros produtos derivados dele, como a linguiça de peixe, as bolinhas, os hamburguês de peixe. Também cozinho e comercializo trufas caseiras e eu estou passando meus conhecimentos para outras mulheres assim elas também poderão melhorar a renda e quebrar os preconceitos que a sociedade ainda tem sobre o papel da mulher pescadora”, argumentou ainda Joelma. 
Um dos resultados mais interessantes é a troca de conhecimentos entre as mesmas pescadoras, a criação de um espaço feminino onde não tem especialistas que ensinam, mas, onde o aprendizado acontece de forma coletiva. Juntas vão tentar desconstruir a conexão historicamente feita entre o trabalho pesqueiro e a imagem de um homem, ainda muito presente no imaginário brasileiro.
“Já trabalhei com pescadores no passado, não me surpreendia que eles tinham a tendência de chamar as pescadoras de ajudantes e elas mesmas não se reconheciam como tal. Isso faz que nesse contexto, ainda hoje, seja muito difusa a ideia que elas dependam economicamente dos maridos, mas analisando bem a questão é que todas as atividades que elas desenvolvem contribuem para a renda familiar mas não são reconhecidas. Esse fato possibilita uma opressão continua porque elas acham que são incapazes de se sustentarem e só no momento que elas se capacitam entendem que podem ser independentes, quebrando uma espiral de violência que não é só física. Aprender a fazer trufas, detergentes, pode parecer algo pequeno, mas serve para elas perceberem que sozinhas podem movimentar dinheiro, e no universo pesqueiro dominado por homens, o aumento do poder econômico é simbolicamente muito forte” afirmou Aldenizia Maia, especialista em gênero do Esplar.
 

Edição: Monyse Ravena