Estamos em ano eleitoral e mais uma vez temos em alguns estados brasileiros candidaturas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST. Aqui no Ceará, por exemplo, o MST lançou candidaturas a vereador em alguns municípios, mas o que a gente quer saber é: Qual o projeto político do MST? Quais os desafios dessas candidaturas? Quais são seus grandes diferenciais? Para responder essas e outras perguntas o Brasil de Fato conversou com Gene Santos, representante do Ceará na da Direção Nacional do MST. Confira.
Quando o MST começou a participar das disputas eleitorais e por quê?
Na verdade, o MST sempre participou das eleições, nós nunca negamos esse processo eleitoral, mas a gente sempre participava apoiando candidaturas de partidos. O MST vem ter uma discussão mais organizada, no sentido de organizar o debate eleitoral, inclusive colocando candidaturas, principalmente após o golpe de 2016. Lógico, alguns estados, alguns municípios do Ceará já participavam, aqui se destacava o município de Tamboril, Quixeramobim e Canindé, que já participavam do processo eleitoral. Mas a partir do golpe de 2016, o movimento passou a discutir o papel das eleições na luta de classes de forma mais profunda, principalmente depois que ficou claro a importância desse espaço.
No Ceará, na última eleição de deputados, o MST botou uma candidatura própria de deputado, onde nós elegemos Missias como deputado estadual com quase 44 mil votos. Portanto, a gente, como eu já falei, participava apoiando outras candidaturas, aqui apoiamos diversas candidaturas. O nosso candidato a deputado estadual era o nosso, hoje atual governador, Elmano de Freitas. Na saída de Elmano para assumir o governo foi onde o MST lançou a sua candidatura, a primeira candidatura a deputado que foi vitoriosa e, lógico, nesta eleição o MST está mais organizado, com mais candidaturas nos municípios para fazer essa disputa também a nível municipal.
E qual é o projeto político do MST?
Desde o seu nascimento, fica muito claro o que MST defende para o campo, mas também para a cidade. O MST tem três objetivos: que é a luta pela terra, pela reforma agrária e pela transformação social. A gente defende que nossas candidaturas precisam defender um projeto de sociedade onde fique muito claro a defesa da democracia, onde fique muito claro a defesa de uma reforma agrária que desenvolva o campo, mas também traga impacto para a cidade no sentido de produção de alimentos saudáveis, onde possa desenvolver ações de convivência com o Semiárido e também de defesa da natureza, trazendo muito presente a questão da agroecologia como modelo de produção a ser implantado no nosso país, onde defenda a participação da sociedade brasileira nos diversos momentos importantes desse país. Portanto, a gente defende a participação das mulheres, da juventude, da comunidade LGBT, da população que faz, de fato, o desenvolvimento do nosso país.
A população pode ter uma visão do MST como um movimento unicamente do campo, mas o MST também tem candidaturas nos centros urbanos. Fala um pouco sobre essas perspectivas de ações do MST também para os meios urbanos.
Nós somos um movimento camponês de massa, mas temos uma relação muito forte com a cidade, com as periferias de cidade. O MST tem realizado diversas ações, lógico que não sozinho, mas em parceria com outras organizações. Aqui no Ceará nós realizamos uma grande ação há um tempo, há oito, dez anos atrás, que foi ação de alfabetização de jovens e adultos na cidade de Fortaleza, assim como em outras cidades do Brasil. Na pandemia, o MST teve um papel fundamental para impulsionar o processo de construção de cozinhas comunitárias do Brasil e no Ceará, que depois, inclusive, culminou com o Programa Ceará Sem Fome, que hoje são mais de 100 mil cozinhas em todo o estado do Ceará. Lógico que não foi o MST sozinho, foi em conjunto com outras organizações urbanas.
E em relação ao processo eleitoral, o MST tem várias candidaturas no Ceará, dentre elas nós temos candidaturas no município de Crateús, no município de Tamboril, temos duas candidaturas no município de Madalena, candidaturas a vereadores no município de Santa Quitéria, no município de Canindé, no município de Quixeramobim, no município de Itarema, e também no município de Santana do Acaraú.
E temos outras candidaturas que não são candidaturas diretamente da base do MST, da militância do MST, mas são candidaturas que o MST apoia com toda a nossa força, com todo o nosso trabalho, que é a candidatura do Rogério Babau, em Fortaleza. Uma candidatura que vem de um movimento social, do Movimento Brasil Popular, mas que o MST se soma nesta candidatura aqui em Fortaleza, uma candidatura que tem uma grande capilaridade, principalmente nas comunidades de Fortaleza.
Também damos apoio à candidatura no município de Sobral, que é uma cidade importante para o Ceará, não é uma candidatura do MST, mas nós estamos apoiando, é também uma candidatura do Movimento Brasil Popular. Assim como também no município de Beberibe, nós temos uma jovem que é candidata a vereadora, uma cidade importante também, também de um movimento popular, como em diversos municípios do Ceará nós estamos nos somando a outras candidaturas, candidaturas ligadas a movimentos populares, a movimentos sindicais, contribuindo nesse debate para o fortalecimento democrático do processo eleitoral.
Além de lançar as candidaturas próprias do movimento, o MST ainda continua apoiando outras candidaturas que tenham uma aproximação com as temáticas do MST, é isso?
Sim. Há uma definição política do MST: Onde o MST tiver capilaridade, ou seja, força política suficiente para ter candidaturas a gente tem a orientação que a nossa base social, nossos assentamentos e acampamento façam a discussão na possibilidade de ter candidaturas. Onde há outras forças também que são importantes a gente dialogue com as outras forças para definir se essas candidaturas são do MST ou se são de outras forças políticas da esquerda cearense e brasileira, portanto, onde tiver candidaturas que o MST possa se somar no sentido de fortalecer um projeto local, estadual e nacional nós estamos nos somando.
O MST entra nesse processo eleitoral com essa compreensão que precisamos eleger candidaturas comprometidas com a luta do povo, mas precisamos também fortalecer e politizar o processo eleitoral que ultimamente tem passado por processo de muito desgaste, de muitas descredibilidade, portanto precisamos fortalecer, politizar esse espaço.
E no Ceará, existem quantos candidatos do MST disputando as eleições?
Candidaturas que nós estamos dizendo “candidaturas próprias”, “candidatura Sem Terra”, ou seja, que são assentados, que são acampados e são militantes do MST, que estão dentro do processo de organicidade, hoje nós temos 11 candidaturas, todas elas candidaturas a vereadores. Nós temos essas candidaturas, como nós temos candidaturas, como já coloquei, que a gente apoia. Nós temos três candidaturas do Movimento Brasil Popular, no município de Fortaleza, nosso companheiro Rogério Babau, temos uma candidatura também no município de Sobral, como também municipal de Beberibe, mas também estamos somando com outras candidaturas dos movimentos populares, como também de movimento sindical em diversos municípios. Ao todo, hoje são mais de 40 candidaturas que o MST se soma em todo o estado do Ceará, mas de forma orgânica mesmo, candidaturas próprias, pura, candidaturas Sem Terra, hoje nós somos 11 candidaturas.
E quais são os grandes diferenciais dessas candidaturas?
Acho que um dos principais diferenciais das nossas candidaturas é, inclusive, a forma que elas nascem. O processo tem sido feito de forma muito coletiva, ouvindo a nossa base social, discutindo com as famílias assentadas, com as famílias acampadas, discutindo em todas as instâncias do MST, desde a instância de base até as direções estaduais e nacionais. Portanto, acho que é um grande diferencial a forma que o MST constrói as candidaturas para a gente chegar à determinação de quais são as candidaturas. Portanto, quem está sendo candidato é mais uma missão, uma delegação de atividade militante, é uma decisão mais coletiva, então esse é um grande diferencial.
A outra, eu creio, é em relação às principais bandeiras de luta, o projeto de fato que se alinha, não é um projeto de um candidato, não é um projeto de uma sigla partidária, não é um projeto de uma pessoa individual. As nossas candidaturas têm a responsabilidade de defender aquilo que é a pauta, ou seja, o projeto de sociedade do MST, como também de outros movimentos populares, e dentre elas vem a luta contra o latifúndio, ou seja, a defesa da reforma agrária, vem a luta em relação à questão ambiental, a luta em relação à questão da agroecologia, a luta por emprego e renda, principalmente no campo, a inclusão social da nossa população indígena, quilombola, das mulheres, da juventude, da nossa comunidade LGBT, vem a luta, principalmente, por emprego e renda.
Você pode conferir nossas entrevistas no Spotify ou no nosso perfil no Anchor.
Para receber nossas matérias diretamente no seu celular clique aqui.
Edição: Camila Garcia