Minas Gerais

Coluna

Por mais investimentos, respeito e valorização das trabalhadoras negras

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Foto: Fernando Frazão - Agência Brasil
Acreditamos no futuro, no talento e no empoderamento das mulheres negras

No Brasil, a vida da mulher negra trabalhadora é marcada pelo racismo estrutural que se traduz na falta de condições econômicas, baixa formação escolar e poucas oportunidades de trabalho. Em todas as pesquisas realizadas, as mulheres negras e pardas se dedicam mais ao trabalho doméstico do que as mulheres brancas. A mulher negra periférica também é apontada como o grupo social mais vulnerável da sociedade. 

Muitas de nós, mulheres negras, trabalhamos na infância e na juventude como empregada doméstica. Uma função ligada ao cuidado, que obteve o reconhecimento de seus direitos trabalhistas, mas que ainda é vista com preconceito, a partir de uma cultura de maus-tratos, informalidade e desvalorização profissional que ainda persiste. 


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Avanços

Segundo dados do governo federal, o trabalho doméstico é a ocupação de 5,8 milhões de pessoas, sendo 92% delas mulheres, e 61,5% mulheres negras, ao passo que apenas 23% delas têm carteira assinada e direitos garantidos. 

Visando melhorar essa situação precária, o governo Lula e a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas lançaram, na semana passada, um curso de qualificação para empregadas domésticas no Brasil. A iniciativa é muito bem-vinda e vai colaborar para a valorização e respeito ao trabalho doméstico.

Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, tenho trabalhado pela defesa das lutas das mulheres negras, que vem se fortalecendo a cada dia, com mais participação e engajamento das mulheres em todo estado. 

Neste segundo mandato, já destinamos mais de R$ 3 milhões, por meio de emendas parlamentares, para apoiar as mulheres negras e periféricas, em projetos nas áreas da saúde, educação, geração de trabalho e renda, melhorias residenciais, campanhas de direitos da mulher e combate ao assédio sexual.

Dívida histórica

Os brasileiros devem muito às mulheres negras que carregam nas costas a herança do período escravocrata, baseado na discriminação social e no racismo que se estruturou após a abolição. Depois da Lei Áurea, os brancos mais abastados mantiveram seus privilégios, terras e poder, conservando muitos empregados domésticos, principalmente as mulheres negras, nas funções de empregada, cozinheira, arrumadeira e babá. 

A empregada doméstica é aquela que acorda mais cedo que todo mundo, faz o café, vai na padaria e arruma a mesa para servir uma família que não é a dela. Alguns patrões insistem em dizer que você é da família, apenas para não pagar os direitos trabalhistas devidos. 

Nós, mulheres negras, por sermos o grupo social mais atingido pela desigualdade, precisamos lutar juntas por mais direitos e investimentos do Estado, em todas as áreas, reivindicando apoio real e uma reparação histórica concreta dos governos.

Empoderamento

Investir no empoderamento da mulher negra é investir na família, na possibilidade de melhores condições de vida para todos. Muitos lares são chefiados por nós, mulheres negras, que nos desdobramos e trabalhamos duro para sustentar a casa e formar nossos filhos. A mulher negra é brava, guerreira, heroína da resistência.

Seguimos firmes na luta diária, seja nas casas de família, nas universidades ou na política, territórios novos que já conquistamos, para que outras possam escolher seu próprio caminho. Plantamos sementes, adubamos a terra com nosso sangue e suor. Acreditamos no futuro, no talento e no empoderamento das mulheres negras, que estão ascendendo hoje em cada canto do país.

 

Andreia de Jesus (PT) é deputada estadual e presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais

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Leia outros artigos de Andreia de Jesus em sua coluna no jornal Brasil de Fato MG

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Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

Edição: Leonardo Fernandes