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É preciso defender a Pinacoteca e a cultura, assim como defendemos o Lula!

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Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. - Divulgação Secult Ceará
Não podemos seguir apenas reagindo aos ataques fascistas, temos que passar a uma postura propositiva

Volto a insistir com vocês, derrotamos o Bolsonaro nas eleições, mas estamos bem longe de derrotar o bolsonarismo fascista que se entranhou em nossa sociedade. Não podemos descansar enquanto não derrotarmos politicamente esse movimento que é a expressão do ódio, da violência e do extermínio ao que não é igual a eles.

Já tem algumas semanas que uma vereadora de Fortaleza tem atacado de forma baixa e inescrupulosa a Pinacoteca do Ceará, equipamento público que compõe a rede de equipamento culturais do Ceará, localizado no Complexo Estação das Artes. Como é de costume dos bolsonaristas fascistas ela acusa a Pinacoteca de apresentar trabalhos que ferem os direitos das crianças e adolescentes, acusa os artistas de produzirem pornografia, acusa o equipamento de negligência. É como se ela nunca tivesse entrado na Pinacoteca e que, por isso, desconhece o importante trabalho de preservação do patrimônio criativo do estado, na preservação de inúmeras obras de arte clássicas e contemporâneas de diversos artistas do Ceará, desconhecesse o trabalho educativo realizado pela instituição e por seus mediadores que recebem e orientam o público, inclusive, sobre eventuais obras que tenham classificação indicativa, como se ela desconhecesse que é papel fundamental da arte, entre outras coisas, nos tirar da zona de conforto.

Mas é claro que não é sobre falta de conhecimento da vereadora em a Pinacoteca realizar um trabalho sério e fundamental e sim sobre a falta de ética profissional dela, que deveria, enquanto parlamentar, estar preocupada em defender a cultura e o seu acesso de forma gratuita e qualificada pela população. É sobre o viés ideológico da vereadora que por ser conservador tem ódio a tudo que é diferente da norma, tudo que não é branco, não é hétero, não é cis, não é cristão. É sobre ela estar ocupando um cargo público como plataforma de difusão da sua fé e de suas predileções pessoais, mesmo o Estado brasileiro, assim como versa a Constituição Federal, sendo laico, ou seja, sua fé só deveria ser exercida no âmbito privado e não na Câmara de Fortaleza.

Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.

Esse não foi o primeiro ataque sofrido pela Pinacoteca, nem será o último. Assim como a Bienal do Livro sofreu diversos ataques nas redes sociais, com diversos vídeos difamatórios. Assim como artistas LGBTQIAP+ no Cariri foram perseguidos nos últimos anos com seus nomes e endereços divulgados por bolsonaristas colocando suas vidas em risco. Assim como um casal homoafetivo de artistas em Fortaleza teve um trabalho censurado no CCBNB na época do Bolsonaro. Assim como filmes foram boicotados, como cenários foram apreendidos, como políticas públicas foram esvaziadas no desgoverno Bolsonaro. Assim como obras de arte foram destruídas na tentativa de golpe no 8 de janeiro…

É preciso defender a Pinacoteca e a cultura, assim como defendemos o Lula! A ação dessa vereadora, por mais local que possa parecer, não está desvinculada da política nacional. Temos que seguir acompanhando e cobrando que a justiça investigue, julgue e puna todos os crimes cometidos pela família Bolsonaro, mas também de todos líderes da extrema direita e da direita brasileira que apoiaram e sustentaram os quatro anos de desgoverno que vivemos sob o comando dele, inclusive, cobrando economicamente a devolução de todo prejuízo promovido contra o bem público. Isso quer dizer também a punição de todas as pessoas envolvidas na tentativa de golpe no dia 8 de janeiro e em todas as articulações de golpe promovidas pelo bolsonarismo e pelos militares.

É preciso seguirmos vigilantes, mas temos que mudar nossa postura. Não podemos seguir apenas reagindo aos ataques fascistas, temos que passar a uma postura propositiva. Temos que ocupar as ruas, as instituições e as redes com a defesa da democracia, em defesa da Constituição Federal, dos direitos fundamentais que conseguimos arduamente depois de muita luta e dos direitos humanos que nosso país é signatário. Se não fizermos isso seguiremos passivos, aguardando as movimentações dos que querem o nosso fim. Nossa passividade é essencial para eles, pois assim eles conseguem seguir crescendo, se fortalecendo, difundindo mentiras, atraindo pessoas para seu projeto de ódio.

Por fim, estamos em um ano eleitoral e as previsões de diversos cientistas políticos sérios é de que a direita cresça em número de prefeitos, mas, sobretudo, cresça em número de vereadores. Isso quer dizer que, mesmo nas prefeituras com gestões progressistas, quando a maioria de vereadores for de direita, extrema direita ou centro (que é direita do mesmo jeito) essas gestões ficam presas, pois precisam dos parlamentares para aprovarem as leis, os investimentos e afins. Então fica a questão aos artistas, seguiremos em silêncio, apáticos e refratários ao processo eleitoral ou vamos nos envolver e contribuir para uma modificação desse cenário?

*Lívio Pereira é trabalhador da cultura e militante social, escreve para o BdF há mais de um ano.

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato. O título foi retirado de um dos versos da canção que encerra o espetáculo.

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Edição: Francisco Barbosa