Ceará

COMBATE À FOME

Luta e solidariedade dos movimentos populares inspiram política pública

Governo do Estado aprende com tecnologia social praticada nas periferias para desenvolver o Programa Ceará Sem Fome.

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Estado já conta com 233 cozinhas e mais de 22 mil refeições distribuídas - Ceará Sem Fome

Quando a necessidade de isolamento social se impôs na pandemia, dentre vários desafios vividos pelo Governo Bolsonaro, o Brasil precisou lidar com o agravamento do desemprego, da carestia dos alimentos e da fome. Foi quando o Estado parou de chegar, a solidariedade nas periferias, movimentos, igrejas e organizações comunitárias mostrou que para saciar a fome era preciso colocar a barriga no fogo e repartir o que se tinha. Assim, as experiências das Cozinhas Populares, Comunitárias e/ou Solidárias se espalharam pelas cidades. Um modelo que inspirou o Governador Elmano Freitas a lançar o Programa Ceará Sem Fome, coordenado pela primeira-dama, Lia Freitas.

Segundo a pesquisa da Rede Penssan, o Ceará tem mais de 2,4 milhões de pessoas nestas condições, ou seja, são 26,3% da população do estado. A pesquisa também diz que 81,9% das famílias estão enfrentando algum nível de insegurança alimentar. Diante dessa realidade, Rogério Babau, liderança popular que também é assistente social, afirma a importância da experiência de combate a fome que vem assolando a periferias e o território camponês. “Você entende o quanto essa tecnologia social é importante? Eu digo que ela é vital para o nosso povo, e isso tudo por conta de uma política negacionista do governo fascista do Bolsonaro. Então, a primeira tarefa das cozinhas é levar, pelo menos, uma refeição às pessoas que estão em situação de extrema pobreza”.


Programa Ceará Sem Fome é apresentado a gestores paraibanos / Ceará Sem Fome

Já Alex Nascimento, coordenador nacional do Levante Popular da Juventude e membro da cozinha popular 17 de abril, no Residencial Cidade Jardim 1, no bairro José Walter, em Fortaleza, afirma que “as cozinhas populares desempenham um papel fundamental na promoção da soberania alimentar lá na ponta, nos morros, favelas e periferias, que é onde estão as pessoas que mais precisam, mas somente as cozinhas não são suficientes para a garantia desse direito, é necessário um conjunto de políticas públicas alinhadas para termos a plenitude da soberania alimentar”.

Os dois militantes fazem parte da coordenação de uma rede que acompanha experiências no Cozinha Popular da Serrinha (Favela do Guaribal); Pirambu; Bela Vista; Cozinha Dona Lucimar, no Planalto Pici; Cozinha Popular da Rosalina; Cozinha Popular Mãe Lúcia, do Jardim Iracema; Cozinha Popular 17 de Abril, do Cidade Jardim 1, no bairro José Walter. Babau informa que também serão lançadas as cozinhas do Tancredo Neves, São Cristóvão e Pan Americano.

Foi ouvindo os movimentos que construíram solidariedade na pandemia, o Programa Ceará Sem Fome, passou a desenvolver ações e políticas públicas para alimentar de forma saudável a população mais carente do estado. 

Ceará Sem Fome 

O programa é executado em parceria entre a Secretaria de Proteção Social (SPS) e a Secretaria de Desenvolvimento Agrário (DAS). Dentro das suas ações, distribui cartões no valor de R$ 300 para a compra de alimentos. Os cartões chegam a aproximadamente 50 mil famílias. Além disso, com o fortalecimento das cozinhas comunitárias, a expectativa é que sejam entregues cerca de 100 mil refeições diárias por até 1.290 cozinhas sociais que serão credenciadas em todo o estado.


Enquanto as cozinhas Ceará Sem Fome iniciam suas atividades, equipes de profissionais que integram o o programa recebem constante capacitação para o melhor preparo das refeições / Ceará Sem Fome

Eduana Santos, do Movimento Brasil Popular, da cidade de Sobral, afirma que o programa Ceará Sem Fome é uma conquista de movimentos populares e uma grande conquista para a população cearense pois, de acordo com ela, mais que um programa de combate à fome, atua na redução da insegurança alimentar. “O programa tem um papel fundamental e conta com a participação e a experiência das cozinhas populares que existem no nosso estado. O Programa Ceará Sem Fome vem das referências das experiências de solidariedade que tem no nosso estado”.

Eduana explica que em Sobral, o Movimento Brasil Popular e o Levante Popular da Juventude, sempre realiza ações de solidariedade na cidade, mas que com o Programa vai ser possível ampliar essas ações. “No processo da pandemia, a gente intensificou as nossas ações e agora, a gente está construindo uma cozinha popular aqui em um dos territórios que temos trabalho. Vamos conseguir materializar uma cozinha, distribuir refeições, mas também ampliar nossa articulação para ouvir as demandas do povo e construir uma agenda de mobilização para além da luta contra a fome aqui em Sobral”.


O Ceará sem Fome é lei e vai criar, desenvolver e realizar ações e políticas públicas para alimentar de forma saudável a população mais carente do estado / Ceará Sem Fome

Babau apresenta alguns pontos sobre os desafios para a manutenção das cozinhas populares. “O maior desafio hoje é a falta de insumos e proteína, porque tem gente para fazer, tem onde fazer, tem como fazer e tem muita gente esperando para comer. O segundo desafio está agora com a equipe do programa Ceará Sem Fome, eles podem resolver o problema de estrutura, para que as Cozinhas Populares continuem fazendo a missão de defender o nosso povo. Um terceiro é avançar para além da fome de comida. Porque esse é o ponto emergencial, mas há a fome de trabalho, de moradia, de cultura e lazer. É preciso que política avance de forma a acabar com as vulnerabilidades do nosso povo. E se depender dos movimentos organizados, vamos colar no governo para a nossa pauta também avance.”

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Edição: Camila Garcia