Ceará

Educação sexual

Com educação sexual criança fica seis vezes mais protegida, afirma pedagoga

Investir na educação sexual adequada desde cedo traz maior segurança aos pequenos.

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Falar da nossa sexualidade sempre foi um tabu, e não fomos preparados para a tarefa de ensinar aos pequenos sobre algo que nos ensinaram, desde cedo, que não era assunto para criança. - Foto: Camilla Lima

 

A cabeça de uma criança funciona a mil por hora. E como tal, têm muitas curiosidades sobre o mundo que as cerca. Tanto que muitas vezes elas deixam seus pais na maior saia justa com perguntas que chegam assim, de supetão, sobre temas que nem sempre estamos preparados para responder. 

Tem os temas clássicos como relata a empresária Ivna Pinheiro. “Eu tenho um filho de quase dez anos e quando ele tinha uns sete anos ele me perguntou o que foi que aconteceu, como foi que ele chegou na minha barriga para depois nascer. E aí foi uma pergunta que me pegou de surpresa, e eu não esperava que ele fosse fazer essa pergunta”.

Mas tem também os mais complexos, “Esses temas aqui em casa eles costumam aparecer normalmente quando a gente está assistindo o jornal, por exemplo. Masturbação, violência sexual e até mesmo estupro, né? Por exemplo, essa da masturbação foi uma que foi um pouco mais recente, onde ele perguntou o que era. Quando ele pergunta, o mais novo, eu já fico travada, travo, respiro e tento pensar como eu vou responder, a melhor forma de responder isso, mas para mim é bem difícil”, compartilha a professora Sarlene Gomes de Souza. 

Falar da nossa sexualidade sempre foi um tabu, e não fomos preparados para a tarefa de ensinar aos pequenos sobre algo que nos ensinaram, desde cedo, que não era assunto para criança. “Eu fui educada pela minha avó, eu tenho pais, mas quem ficava no dia a dia com a gente era a minha avó, e a minha vó sempre teve uma postura muito rígida com relação a sexualidade, brigava quando a gente tocava nas partes íntimas e coisas nesse sentido”, conta Sarlene.

A psicóloga Madalena de Queiroz é quem explica de onde vem tanto tabu sobre o assunto. “Na verdade, quando as crianças perguntam, é como se inevitavelmente os pais tivessem diante de um espelho até, e quem sabe, esses sentimentos de vergonha, tensão para responder a criança não tenha a ver com uma própria repressão sexual que às vezes nem se dá muito conta. Trabalhar isso nos pais, de eles poderem se dar conta é fundamental para eles poderem, ter uma abordagem da temática saudável, natural com os filhos, porque daí vem também toda a saúde da criança, da saúde psíquica da criança, consequentemente, a relação que essa criança vai ter com seu próprio corpo, sua sexualidade”, pontua. 

Mas ao contrário do que muita gente imagina, a sexualidade é um tema amplo, que perpassa diversos segmentos da nossa existência. É o que explica a psicopedagoga, Clarissa Chaves. “A sexualidade se desenvolve desde o ventre, então não tem idade certa para estar falando sobre educação sexual, ela já acontece naturalmente. A sexualidade é muito abrangente. Sexualidade é o que constrói nossa identidade. Então é a forma como a gente se relaciona com os outros, conosco, a forma como a gente se veste, como a gente come, enfim, é quem a gente é. Então é algo muito mais amplo do que o sexo porque as pessoas costumam confundir sexo com sexualidade, são duas coisas que são diferentes, porém, tem afinidade porque o sexo está dentro da sexualidade, mas não está dentro da sexualidade infantil, está dentro da sexualidade do adulto”, ensina. 

A tarefa, de fato, não tem nada de fácil, pelo contrário. Dez em cada dez pais tem dúvidas sobre como abordar a temática com elas. Mas tão importante quanto responder a esses questionamentos de forma clara, é deixá-las cientes desde cedo sobre os limites e permissões quando o assunto são seus corpinhos. “É o melhor caminho. Estudos mostram que a criança que recebe educação sexual adequada, fica 6x mais protegida. Então quando ela sabe as partes do corpo que são íntimas, que há toques respeitosos e toques desrespeitosos, que a parte íntima dela não se brinca, que ela pode dizer não, sim”, enfatiza Clarissa.

A psicopedagoga desenvolveu uma oficina para crianças que ensina como elas podem se proteger em situações de perigo. “Aqui [na oficina], elas aprendem os 3 passos de proteção: que é primeiro gritar não, se alguém quiser tocar, filmar, fotografar, mostrar a parte íntima para elas, gritar não. O segundo é correr, e o terceiro é contar para alguém”, explica. 

E esses ensinamentos devem começar desde cedo, afinal, conhecimento nesse caso também significa proteção. E uma boa conversa é a porta de entrada para essa construção. “Inclui nesse diálogo o nome das partes íntimas, o pedir licença pra tocar: meu filho agora eu vou limpar sua vulva, agora vou limpar seu pênis. Com licença, vai ser um toque rápido. Que bonito, que sensível, agora vou vestir sua roupinha, é tão sensível essa parte que tem uma roupinha só para ela, e já vai incluindo essa nomenclatura no diálogo”, ensina Clarissa. 

A psicopedagoga lembra ainda sobre a importância de não expor a intimidade da criança em público. “Está em uma praia e trocar a criança lá no meio de todo mundo, isso é uma educação sexual inadequada, ninguém faz isso com um adulto. Então já tem que iniciar esses princípios com ela pra ela conseguir diferenciar público de privado, ter noção do consentimento”, exemplifica Clarissa, que ressalta ainda a importância de a criança ter todas as suas dúvidas sanadas. “Não adianta você dizer – ‘você não tem idade pra falar sobre isso’ – ,  ou – ‘vai  chegar o dia em que eu vou conversar sobre isso’ – , porque ela não vai esperar e o perigo é: ela vai suprir essa curiosidade com outras fontes”, alerta.

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Edição: Francisco Barbosa