Ceará

BdF 20 anos

No Ceará, seminário celebra 20 anos do jornal Brasil de Fato

O Seminário abordou “Os desafios da mídia independente, alternativa e popular” no país.

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
O Brasil de Fato é resultado do trabalho desenvolvido pelos movimentos populares, principalmente pelo MST - Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra. - Foto: Amanda Sobreira

“Se quiserem conhecer o Brasil que vivemos, esse Brasil de Fato, os trabalhadores têm que produzir o seu próprio jornal”. A frase forte do juramento lido pelos trabalhadores e pelo teatrólogo Augusto Boal, em janeiro de 2003, durante o Fórum Social Mundial em Porto Alegre, marca o momento da criação do jornal Brasil de Fato e deixa claro a linha editorial de um dos veículos mais influentes da esquerda brasileira.

Parte do documentário “Brasil de Fato - nasce um jornal” foi exibida durante o Seminário realizado nesta terça-feira (13), em Fortaleza.  O evento organizado com o apoio da Metamorfose Comunicação e do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Ceará (ADUFC), reuniu jornalistas independentes, estudantes e trabalhadores na sede da ADUFC - Sindicato, em comemoração aos 20 anos do jornal. 

O Seminário abordou “Os desafios da mídia independente, alternativa e popular” no país. Na mesa de abertura, a presidenta da ADUFC, professora Irenísia Oliveira, homenageada durante o evento em reconhecimento ao apoio e financiamento do BDF Ceará, falou sobre o trabalho desenvolvido pelos profissionais do jornal, destacando a periodicidade de uma mídia popular. “O Brasil de Fato tem uma trajetória heróica e coletiva. Nós acreditamos profundamente nesse tipo de mídia que, inclusive, tem uma força nacional”, ressaltou a professora.

O Brasil de Fato é resultado do trabalho desenvolvido pelos movimentos populares, principalmente pelo Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST). A proposta inicial era criar um jornal impresso pensado e escrito por trabalhadores comuns, trazendo as reclamações, denúncias e problemas vivenciados no dia a dia. O jornal teria distribuição nacional, sendo vendido em banca de revistas com uma tiragem de 100 mil exemplares, trazendo o ponto de vista da esquerda e dos movimentos populares para a sociedade brasileira. Deu certo. Aos poucos, as narrativas desenvolvidas pelo BdF, com uma visão mais popular e democrática, foram disputando espaço com a mídia comercial. 

A história foi vivida com intensidade pela editora do Brasil de Fato do Rio Grande do Sul, Kátia Marko, militante dos movimentos populares, atuante e presente em toda a trajetória do BdF. A jornalista compartilhou alguns momentos com a platéia e falou sobre o processo coletivo para a criação do jornal. “O Jornal Sem Terra foi a inspiração para o surgimento do BdF. Lá no Sul, junto às ocupações, vieram os primeiros boletins com ajuda dos profissionais do estado, trazendo detalhes da luta campesina, do povo trabalhador. E foi nesse debate da via campesina que nasce o jornal, de forma coletiva, com todos os sindicatos assinando e distribuindo o BDF”, conta Kátia. 

A jornalista também alerta para o financiamento das mídias independentes, um dos principais desafios enfrentados por quem produz jornalismo popular. “Nós vamos lutar até o fim para fazermos um jornalismo de qualidade, trazendo a visão popular dos fatos. Nem todos os veículos da esquerda tem essa credibilidade porque muitos acabaram se rendendo aos cliques da internet”, ressalta.

Brasil de Fato Ceará

No Ceará, o jornal Brasil de Fato começou a circular em 2016. A trajetória da mídia no estado também passa pelas mãos aguerridas dos trabalhadores do campo e da cidade. A distribuição dos jornais impressos era feita corpo a corpo pelos militantes. Um deles, foi o hoje deputado estadual Missias Dias, o Missias do MST (PT), o primeiro assentado da reforma agrária a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa do Ceará. Missias lembrou com emoção das lutas da classe trabalhadora e celebrou o BdF como instrumento de informações verdadeiras, com viés democrático. “A direita brasileira sempre utilizou a mídia como instrumento de poder para nos alienar e colocar seu projeto em detrimento dos nossos interesses”, disse o parlamentar ao lembrar dos últimos golpes sofridos, como o que derrubou a presidenta Dilma Rousseff da Presidência da República, em 2016, e o que resultou na prisão ilegal do presidente Lula, em 2018. “Uma forma de derrotar o projeto da esquerda e da classe trabalhadora, mostrando o estrago que é capaz de fazer uma informação errada, equivocada. Termos um meio de comunicação como o BdF, nos dá uma grande esperança de que é possível construir uma comunicação também a partir do olhar e dos interesses da classe trabalhadora. Espero muito que nossos governos, estadual e federal, entendam que a comunicação popular não pode ser desprezada”, enfatizou o deputado estadual.

A jornalista Camila Garcia, editora do BdF no Ceará, destacou as conquistas do jornal e a importância da sua luta para a construção de um país mais popular e democrático. “Esses 20 anos são fruto de comunicadores e comunicadoras, jornalistas militantes que compreendem a importância de narrar diferentes ângulos dos fatos, de colocar o povo como protagonista dos fatos”, comemora. 

Camila também relembrou o trabalho desenvolvido pelo Brasil de Fato durante os golpes de 2016 e 2018 e na retomada histórica pela democracia brasileira, marcada pelo retorno do presidente Lula e do Partido dos Trabalhadores comandando o país. “Foi muito importante ter o Brasil de Fato atuando na defesa da democracia e nós vamos continuar defendendo a democracia, a liberdade de expressão, combatendo a difusão de informações falsas e fortalecendo esse veículo que é nosso, construído pelos movimentos populares para o Brasil".

Participaram ainda o presidente do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce), Rafael Mesquita; representando a direção do MST Ceará, Gene Santos; a editora-chefe da Metamorfose Comunicação, Marina Valente e o presidente da Associação Cearense de Imprensa (ACI), Helly Ellery.

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Edição: Francisco Barbosa