Rio Grande do Sul

Coluna

Lobos não são solitários

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Professores protestam contra a violência nas escolas em São Paulo - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Evidências apontam que estes terroristas agem em grupo, com uma rede de incentivo e colaboração

Segundo páginas escolares de Internet, acessíveis a qualquer leigo na matéria como eu, o lobo é um animal gregário, que leva sua vida em bandos, conhecidos como alcateias. Os grupos variam conforme as espécies, circunstâncias, disponibilidade de alimentos e territórios onde habitam. Ainda, segundo o que já se conhece, há especializações de trabalho no interior das alcateias.

A cobertura jornalística da última e dilacerante tragédia – o assassinato de crianças numa creche na cidade de Blumenau, em Santa Catarina, neste dia 05 de abril - estabeleceu vínculos com outros atentados homicidas. Miseravelmente, a grande maioria em escolas tendo como vítimas jovens, adolescentes e crianças.

Segundo matéria da BBC News Brasil, entre outubro 2002 e março de 2023 haviam sido executados 22 ataques a escolas no país. Com esta nova tragédia, são 23 ataques terroristas homicidas. Contudo o dado mais alarmante é que mais da metade, exatamente 12, foram executados no ano passado e neste ano. O que indica haver alguma forte motivação para estes assassinatos, diferente daquelas dos anos anteriores. Na mesma matéria, outra fonte aponta para números maiores ainda e mais aterradores ainda. Seriam 34 ataques entre 2012 e 2022, sendo 22 somente neste último ano.

Fica também estarrecedoramente exposto que não se tratam de ataques solitários, como tem circulado em algumas matérias jornalísticas, chegando algumas delas a caracterizar os criminosos atacantes como “lobos solitários”. Decididamente não são.

As evidências apontam que estes terroristas agem e discutem a ação em grupo, através de uma rede de incentivo e colaboração escondida nas profundezas e labirintos das redes sociais e Internet. Se incentivam mutuamente, copiam atitudes, compartilham crenças e valores. Discutem métodos e táticas para a execução dos massacres, avaliando sua eficácia, o que significa perseguirem o aperfeiçoamento das técnicas utilizadas, em uma espécie de debriefing remoto e secreto.

O que tem sido tornado público sobre esses atentados homicidas demonstra uma convergência de perfis entre esses homicidas. Os atacantes são jovens, brancos, professam o racismo, a misoginia e o pensamento de extrema direita. Refutam a democracia, as leis e suas instituições.

Não são lobos, tampouco solitários. São missionários armados ideologicamente, pela emergência do ódio e da violência como política e método. Ideologicamente envolvidos em uma guerra pela eternidade, nas palavras de Teitelbaum¹.

A emergência das ideias fascistas e neonazistas, e a destreza e conforto com que circulam nos tempos atuais, aparelharam esses terroristas com as armas da convicção sem conhecimento e da sociopatia. Gerando um ativismo agressivo e fora das regras. Uma alquimia que, em outros tempos e outras circunstâncias, já havia se mostrado desastrosa.

É preciso desenvolver a cultura da paz e da tolerância. Reprimir não só a violência quando manifesta, mas também a sua apologia, a proliferação de armas e o incentivo ao ódio político e social. Submeter à Constituição e as leis os líderes desse submundo.

¹ TEITELBAUM, Benjamin R. Guerra pela eternidade. Campinas: Editora da Unicamp, 2020.

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Marcelo Ferreira