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LANÇAMENTO

Rapper Kpivara lança álbum “Imigrante” e movimenta cena no Ceará

Radicado no Ceará há quase 10 anos, o rapper Dimas Kpivara usou as dificuldades vividas no Brasil como inspiração

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Kpivara na abertura do show dos Racionais em Fortaleza - Divulgação

As músicas da mixtape “Imigrante” trazem o som do drill, boombap e trap, influências trazidas das batalhas de rima que o rapper Kpivara participava desde os 12 anos, no seu país de origem, São Tomé e Príncipe, no continente africano. O álbum lançado em março, já está disponível em todas as plataformas digitais com 8 músicas: “Vungu Pingu”, “Imigrante”, “Makongo”, “N’ga Sêbê Sa Tagi”, “Amor Violento” e “Uê Gôdo”, além da faixa “T.M.P.M.” de kizomba, que abre o trabalho, e do afrobeat “Punda Kê Kuá”.  

Foram três meses de produção que contou com a parceria de produtores angolano e português, como o Legend and BeatzTi e o Deejay_Show, respectivamente. O som traz referências africanas, misturando o português falado aqui, em São Tomé e em Portugal. Uma mistura  que também busca reflexões sobre o cotidiano vivido pelos imigrantes negros, as desigualdades sociais e o racismo. Lições que só o rap é capaz de trazer.  “Eu amo Fortaleza e encontrei outra casa fora do meu país e por isso eu quis ficar. Quero mostrar um trabalho diferente para o meio musical do Ceará. Eu me inspirei muito no som do rapper Angolano NGA, que fala da relação de imigrantes com os nacionais, mostrando tratamentos diferentes”, diz Kpivara.


Capa da Mixtape Imigrante lançada em 2023 / Divulgação


A música que leva o nome do álbum "Imigrante" foi escrita no início da guerra da Ucrânia, em março do ano passado. Kpivara conta  que começou a observar no espaço dado pela mídia e no tratamento dos refugiados brancos que fugiam do conflito. “A mídia não dá o mesmo espaço para as guerras que acontecem no continente africano. Muitas dessas guerras orquestradas pelos países imperialistas. E a forma como os imigrantes brancos eram tratados também era diferente.  Na música, eu tento mostrar que o imigrante só procura refúgio e a pessoa negra não é ruim como tudo tenta mostrar,” ressalta o cantor.

Refletir sobre o racismo foi condição imposta ao rapper quando o artista saiu do seu país para estudar. Kpivara é engenheiro de energias formado pela Unilab, a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, e ao chegar ao Ceará precisou lidar com várias formas de opressão. “Eu costumo dizer que os pretos nos países africanos só começam a ter consciência racial quando eles colocam o pé fora do seu país. Depois de sofrer preconceito em várias ocasiões, fui me colocando em outra posição e  vendo que o Ceará também evoluiu muito na questão racial”, avalia. 

A falta de oportunidade para imigrantes também se reflete na cultura. A música “Vungu Pligu” chama atenção para a forma como é feita a escolha dos artistas por parte dos contratantes em Fortaleza, com muitos artistas da cena underground sendo ignorados ou com poucas possibilidades para mostrarem os seus trabalhos. 

Apesar deste ser o primeiro álbum lançado por Kpivara, sua trajetória artística tem diversos pontos marcantes como a abertura do show dos Racionais MC’s, no ano de 2015, em Fortaleza, quando fazia parte do grupo A.Se.Front, grupo de rap universitário criado com o propósito de unir a comunidade dos estudantes dos países africanos falantes da língua portuguesa como São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau, Cabo Verde, Angola e Moçambique. 

Com o fim do grupo, Kpivara seguiu cantando e entre 2019 e 2022 lançou os singles “Barras, “Santola Squad”, “Nha Drill”, “Good Life”, “Desigualdade Social”, “Invejoso”, “Santomé”, “Carne Preta” e “Freestyle”. Músicas vivas que se contrapõem a diversas formas de opressão. 

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Edição: Camila Garcia