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Festa do Murici e do Batiputá celebra tradições do Povo Tremembé

O ritual é um momento de conexção com as tradições e fortalecimento da luta pela demarcação de seus territórios

Brasil de Fato | Fortaleza, Ceará |
A festa, que dura 3 dias e representa um ritual de abertura de caminhos para o novo ano. - Povo Tremembé da Barra do Mundaú

Toda primeira quinzena de janeiro é tempo de reunir as gerações e celebrar o ano que findou para o Povo Tremembé da Barra do Mundaú. Batizada de Festa do Murici e do Batiputá, a festividade acontece desde 2009 e tem como objetivo a transmissão do conhecimento ligada aos saberes, sabores, costumes e tradições que reconectam a etnia com seus antepassados: “esse momento de louvação a nossa mãe natureza, que a gente vem realizando ao longo dos anos, é exatamente pra fortalecer a nossa luta, preservar as matas, o fruto que a nossa mãe natureza nos dá de graça, sem a gente plantar, só precisa de um olhar, do cuidar das matas, que é o Murici e o Batiputá, um que nos alimenta, que é o murici, e o outro que nos cura, que é o batiputá”, salienta a liderança indígena, Adriana Tremembé. 

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Para a jovem liderança indígena – e também pesquisador da cultura alimentar de seu povo, Mateus Tremembé, a festa não se trata apenas de uma celebração, mas da perpetuação das tradições e saberes ancestrais: “ela não se trata somente de um festival da cultura indígena da Barra do Mundaú, mas também de um encontro de gerações onde juntos, durante os rituais, nós agradecemos pelo ano anterior e pedimos proteção aos encantados, sabedoria, conhecimento e, sobretudo, a força e a proteção na luta. Ela é também um ritual de abertura de caminhos, tem os rituais de batismo, tem os rituais da espiritualidade, do Torém, tem essa partilha da cultura alimentar de forma coletiva, para que todos aqueles que participam sejam curados por meio do alimento. Porque pra nós, Povo Tremembé, o alimento não só alimenta como cura, o alimento representa a nossa identidade enquanto povo, representa a nossa conexão enquanto povo com este território”. 

A festa, que dura 3 dias, começa com os preparativos do território e dos alimentos. No raiar do sol, acontece a tradicional colheita, que é quando o povo adentra a mata em busca dos frutos, pequenos no tamanho, mas potentes no sabor e nas suas possibilidades de uso. Frutos que representam a riqueza e diversidade alimentar dos Tremembés: “o murici é uma fruta que já está nas nossas matas há muitos anos, que fazia parte da alimentação dos nossos antepassados, que faz parte hoje da nossa alimentação e virou um alimento sagrado, que hoje a gente faz a festa do murici e do patiputá. O murici sendo uma fruta que faz o suco, faz os alimentos, e o batiputá, sendo um  fruto mais da área da medicina. Esses dois alimentos têm um peso muito grande pra gente como Tremembé por fazer parte da nossa alimentação e para nós eles são sagrados”, descreve com orgulho Jaciara Tremembé, jovem comunicadora.

Para quem vê de fora, é um festejo bonito, uma celebração à natureza, mas para o Povo Tremembé é uma lembrança da importância de se reconectar às tradições, mas também de fortalecer o sentimento de luta pela demarcação de seus territórios: “isso nos dá um fortalecimento de levar os nossos jovens, levar as crianças a sentir essa conexão da mãe natureza pra esse fortalecimento da luta, pois cada dia que se passa a gente encontra mais dificuldade na luta. A gente convoca esses momentos exatamente para somar com todos aqueles que vem, para que a gente possa ter mais força para lutar e ter os nossos territórios homologados, desintruzados, titularizados”, reforça Adriana Tremembé.

Edição: Camila Garcia