Minas Gerais

JEQUITINHONHA

Berço de grandes nomes da cultura mineira, 37° edição do Festivale acontece até sábado (23)

O evento é uma das mais tradicionais manifestações do estado. Neste ano, novidade será a mostra audiovisual

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |

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Neste ano, o evento acontece de 17 a 23 de julho em Itamarandiba, cerca de 500 quilômetros de Belo Horizonte - Foto: divulgação Fecaje

Você já deve ter ouvido falar de Pereira da Viola, Rubinho do Vale e Paulinho Pedra Azul. Pois eles são apenas alguns dos renomados artistas do Vale do Jequitinhonha. A região é rica não só em versos e violas, mas também na arte ceramista, na produção circense e no audiovisual. E todos esses talentos anualmente se reúnem em um só lugar: no Festival de Arte e Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha (Festivale).

 

Neste ano, o evento acontece de 17 a 23 de julho em Itamarandiba, cerca de 500 quilômetros de Belo Horizonte. Na programação, o encontro reflete toda a multiplicidade cultural. Além dos tradicionais Festival da Canção, Noite Literária e Feira de Artesanato, o festival também conta com uma mostra audiovisual. Oficinas, rodas de conversa e manifestações culturais, como o Boi de Janeiro e a Marujada, também integram a programação.

Desde os seus doze anos, a produtora cultural Regiane do Vale participa do evento. Para ela, o Festivale é um patrimônio a céu aberto. “É um espaço de consagração da cultura popular, é um lugar de transformação”, diz. Ela ressalta também que a cultura produzida durante a jornada expande os limites da manifestação artística e intervém no pensamento e no cotidiano das comunidades.

“Muitas vezes, a cidade que sedia o festival sequer havia visto um momento tão diverso, como exemplo, as Beyblades do movimento LGBTI+. Ainda há no Vale um estigma que é muito forte e preconceituoso, mas que é desconstruído quando a cidade tem que conviver com essas várias diversidades”, aponta.

Regiane explica que são desenvolvidas ações pelos participantes do festival, como cartas de orientação ao executivo do município sede, rodas de conversas sobre violência de gênero, racismo, diversidade sexual, entre outros temas.

As mãos que moldam o Jequitinhonha

Ao contrário de anos anteriores, em que a participação feminina era majoritariamente na feira de artesanato e na organização, nesta edição, as mulheres marcam presença em outros espaços, como o Festival da Canção, e na própria direção do evento. Na avaliação da produtora, o resultado já é fruto de um trabalho que vem sendo desenvolvido há anos.

“A cada ano que passa, a gente avança para que todas as pautas sejam alcançadas. O Festivale precisa ser um lugar de reafirmar sonhos, ressignificar dores, ser espaço de troca e de acolhida”, pontua. “Da mesma forma que as mulheres moldam o barro, com suas mãos elas moldam também o próprio Jequitinhonha”, completa.

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Regiane, por exemplo, exibirá nesta edição o seu primeiro curta-metragem, denominado “Alziras”. O filme é inspirado no trabalho do mestre ceramista Ulisses Mendes e retrata a história das chamadas “viúvas de marido vivo”. Ou seja, mulheres que chefiam a família e a casa enquanto seus maridos trabalham em outras cidades na colheita de cana, na produção de eucalipto ou na extração mineral, exercícios que os mantêm por longos períodos fora de casa.

As “Alziras” geralmente são retratadas pela figura de uma mulher à beira do fogão de lenha, com um olhar para o horizonte. A produtora conta que a inspiração veio de dentro de casa. “Minha mãe teve que sair de casa para trabalhar. Então, de certa forma, eu mesma fui uma espécie de viúva. Mas cresci vendo minhas tias, primas e vizinhas viverem isso”, explica. Além de “Alziras”, que já foi exibido na Mostra de Tiradentes, diversas produções audiovisuais desenvolvidas no Vale estarão no festival, que conta também com uma mostra fotográfica.

Legado de 40 anos

Apesar de estar em sua 37° edição, o Festivale já alcançou seus 42 anos. O encontro não foi realizado apenas nos anos de 1997, 2001, 2005 e 2012, por falta de recursos financeiros, e nos dois últimos anos por causa da crise sanitária. Desde 1980, quando começou a ser realizado, o evento tem sido ferramenta de organização dos artistas.

Renato Paranhos, diretor da Federação das Entidades Culturais e Artísticas do Vale do Jequitinhonha (Fecaje), entidade que organiza o Festivale, explica que a própria federação e entidades, como a Associação dos Grupos Teatrais do Vale do Jequitinhonha (Agrutevaje), são legados importantes de resistência.

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“O nosso objetivo é valorizar, fomentar a nossa cultura e o nosso patrimônio, que são as pessoas. O Festivale precisa ser uma culminância do que o nosso Vale produz”, destaca o dirigente.

Mais informações sobre o encontro estão disponíveis aqui

Edição: Larissa Costa