Ceará

Ação policial

Invasão da polícia à cozinha solidária do MTST no Jangurussu repercute nas redes

Após denúncia de truculência e falta de mandados, Governo do Estado marca reunião com o Movimento na SPS amanhã (12)

Fortaleza, CE |
cozinha solidária
A Cozinha Solidária do MTST do Jangurussu funciona há três meses no bairro e distribui, diariamente, cerca de 150 refeições. - Foto: Divulgação MTST

Após repercussão da denuncia sobre a invasão de policiais a sede da Cozinha Solidária do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o Governo do Estado decidiu marcar uma reunião com a titular da Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS) para discutir a ação dos policiais e as demandas do Movimento. A reunião está agendada para amanhã, 12 de julho. 

Em uma ação da Polícia Civil na sede da Cozinha Solidária do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), no bairro Jangurussu, em Fortaleza, os militantes presentes do local de alimentação denunciam truculência dos agentes junto aos trabalhadores. Segundo Sérgio Farias, coordenador nacional do MTST, três homens entraram na cozinha, na manhã de quinta-feira, 7, e, com muita intimidação, revistaram todo o local. Ao fim, como nada foi encontrado, um deles teria dito: “É, é uma cozinha mesmo”.

Era 8h15 da manhã. “Eu recebi a informação de que homens armados tinham adentrado na cozinha. Eles tinham ameaçado um dos jovens que é voluntário do projeto e não deixaram a cozinheira sair. Como são jovens negros e favelados, fui lá porque eles poderiam agredir os meninos”, informa o coordenador. Ele afirma ter corrido até o local e, lá chegando, ficou muito assustado. “Eles entraram, revistaram e começaram a fazer perguntas do tipo ‘quem é que paga’, ‘de quê que vocês ganham’, ‘quem é que sustenta a cozinha’. Isso feito por homens armados de pistola, sem identificação e de forma bem agressiva”, relata.

Ainda de acordo com o coordenador, ao percorrer as ruas do Jangurussu, ele percebeu que se tratava de uma ação da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) ocorria em todo o bairro. Os homens eram agentes da Polícia Civil e, segundo Farias, não se identificaram e não apresentaram mandados de busca e apreensão. E, ainda de acordo com ele, detiveram a cozinheira do projeto por certo período de tempo.

A ação de realizar busca e apreensão nas comunidades da periferia, sem a apresentação de mandados judiciais, é muito comum, aponta o coordenador. “Essa é uma operação que eu já vi várias irregularidades. Inclusive no Cidade Jardim (no bairro José Walter). Em todos os conjuntos, cometeram várias irregularidades”, conta.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informa que a Coordenadoria Integrada de Planejamento Operacional (Copol) realizou, nesta quinta-feira (7), mais uma operação “Domus” no bairro Jangurussu e que objetivo era o de coibir Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) e Violentos Contra o Patrimônio (CVPs), além de identificar pessoas envolvidas com grupos criminosos.

“Todas as circunstâncias acerca de uma ação policial em um estabelecimento da região, durante a operação, estão sob apuração da Polícia Civil, que realizou buscas na manhã do dia 7, após o registro de um Boletim de Ocorrência (BO), na delegacia distrital em questão”, completa a nota.

Repercussão nas redes sociais

Os moradores do Jangurussu denunciaram a ação da Polícia nas redes sociais. Além das páginas do MTST e mensagens de whats app, o influenciador digital e um dos criadores do personagem suricate seboso, o @leosuricate fez um vídeo que repercutiu bastante sobre o ocorrido. Após esses relatos, o Governo do Estado decidiu marcar uma reunião, na próxima terça-feira, 12, com a titular da Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS) para discutir a ação dos policiais e as demandas do movimento. O Brasil de Fato CE entrou em contato com a SPS, mas as ligações e mensagem de Whatsapp não foram respondidas.

No dia seguinte (8), parlamentares de esquerda organizaram uma visita de solidariedade a Cozinha que contou com a presença de representantes da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa, dentre eles o Deputado Estadual Renato Roseno (PSOL), da Comissão de Direitos Humanos da OAB Ceará, da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Fortaleza, nas presenças das vereadoras Larissa Gaspar (PT) e Adriana Gerônimo da Mandata Nossa Cara (PSOL) e do Escritório de Direitos Humanos e Assessoria Jurídica Popular Dom Aloísio Lorscheider (EDHAL).

A Cozinha Solidária do MTST do Jangurussu funciona há três meses no bairro e distribui, diariamente, cerca de 150 refeições. O foco do projeto são crianças, grávidas e idosos. Entre os projetos realizados no espaço está o de aulas de xadrez para crianças e adolescentes.
 

 

Edição: Camila Garcia