Distrito Federal

Protagonismo

Encontro Nacional de Capoeira incentiva a produção cultural feminina

Capoeiristas de várias regiões do país participam do evento que acontece em Brasília entre os dias 8 a 10 de julho

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Rodas, oficinas e palestras integram programação do V Encontro de Bambas - Divulgação

Entre os dias 8 a 10 de julho acontece no Distrito Federal o V Encontro de Bambas, evento nacional de capoeira produzido por mulheres para capoeiristas de todos os gêneros e idades.

Com apoio do Fundo de Apoio a Cultura, o evento está com inscrições abertas e acontece no Clube Associação de Servidores da Câmara Federal, na Asa Sul, região administrativa do Plano Piloto.

A ideia de produzir o Encontro surgiu em 2014 quando Michelle Santos, conhecida como mestra Michellinha, recebeu a corda de contramestre.

"Queria fazer um evento de capoeira aberto a todos quando recebi a corda de contramestre. Pelo fato de ser mulher, tinha o desejo que fosse organizado somente por mulheres. Na época não conhecia muitas capoeiristas de outros grupos, mas as que somaram agregaram valores à nossa caminhada feminina na capoeira", conta a mestra.

Estudos apontam que a partir da década de 70 o interesse da mulher pela capoeira aumentou consideravelmente. No Brasil, estima-se que 35% dos praticantes de capoeira são mulheres, porém o universo do esporte ainda tem predominância masculina. 

Para a produtora geral do evento, Karla Aragão, o Encontro é uma oportunidade de mostrar o protagonismo das mulheres que durante centenas de anos ficaram nos bastidores.

"É a oportunidade da capoeirista demonstrar o seu valor, conhecimento, técnica e capacidade. Reuniremos mulheres com conhecimento e que se dedicam e dedicaram anos à capoeira. Elas merecem ser vistas e valorizadas. A comunidade capoeirista merece também receber o que elas têm a ensinar", destaca.  

Palestras e oficinas

O evento contará com palestras e oficinas de mulheres capoeiristas de todo o Brasil. Uma das palestrantes é Roberta Cristine de Morais, que é conhecida nas rodas como Jurema, que fará uma palestra sobre "Superação e grandes vitórias".

Jurema iniciou a capoeira em 1997, aos 16 anos em Imbariê, Duque de Caxias (RJ). No ano de 2011, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) que comprometeu a fala, leitura, escrita, a alimentação, e ainda, a obrigou a usar fraldas e cadeira de rodas.

"Hoje, aos 40 anos, superei esses obstáculos, pois me locomovo a pé, de ônibus, e até viajo de avião sozinha. Já escrevo com a mão esquerda, ando de bicicleta e jogo capoeira com a graduação de professora. Sem a capoeira, teria morrido", diz Jurema. 

Machismo na capoeira

A mestra Michellinha, idealizadora e organizadora do evento, pondera que o universo da capoeira tem amadurecido com relação à equidade de gênero.

"O amadurecimento veio num todo. Tanto para os homens quanto para as mulheres. Antes a mulher não podia jogar, bater palma e nem tocar no instrumento. Hoje nós confeccionamos instrumentos, e até damos oficinas do ofício", pontua. 

Karla Aragão completa reforçando que no passado não havia espaço para a mulher na capoeira. "As que insistiam eram tratadas com desrespeito, como podemos perceber em diversas canções. Agora as mulheres estão mais informadas e conscientes do seu papel, poder e lugar, o que de certa forma, coíbe essa discriminação. O machismo não acabou, mas vejo um movimento positivo dentro da capoeira, em especial da capoeira feminina".

Incentivo ao esporte 

Em 2008, a capoeira recebeu o título de Patrimônio Cultural Brasileiro e desde 2014 é Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Também foi reconhecida como esporte no ano de 2016, o que permite ao capoeirista pleitear a bolsa atleta oferecida pelo Ministério dos Esportes. Porém, as mulheres capoeiristas afirmam que assim como nos outros esportes, o incentivo para as mulheres não é o mesmo que o dos homens. 

"No passado havia a falácia que o exercício faria mal ao corpo da mulher, pois ela tinha a função de reproduzir. E hoje existe uma disparidade de salários e de visibilidade. O problema é histórico-cultural. Um incentivo serviria para mudar essa realidade e para demonstrar para a mulher a importância do esporte capoeira. Mas ainda existe diferença de gênero na captação de incentivos", diz Karla Aragão.

Jurema, palestrante do Encontro, reforça que "a mulher capoeirista é mais cobrada que o homem. Precisa provar para todo mundo que sabe cantar, tocar e jogar bem. Não basta ser boa, precisa ir além. Para receber incentivo esportivo não é diferente".

Inscrições

Para participar do evento é necessário realizar a inscrição por meio do número (61) 9626-8999. O valor é de R$ 85,00 e dá direito a camiseta e alimentação para os três dias de atividades. As inscrições são gratuitas para portadores de necessidades especiais e pessoas com baixa renda comprovada. É possível assistir ao evento gratuitamente na arquibancada do ginásio.

Mais informações sobre a programação estão disponíveis na página do evento.

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Edição: Flávia Quirino