Ceará

Festa Junina

No Ceará, mística e enredo de denúncia marcam Arraiá da Reforma Agrária

A festa fechou a rua para apresentar em formato de dança as dores e conquistas do MST, da arte e cultura vivida no campo

Fortaleza, CE |
Frei Humberto
O Arraiá de Reforma Agrária emocionou o público e além das temáticas abordadas em cada grupo, uma faixa hasteada simbolizando a luta contra os despejos. - Foto: Aline Oliveira

No último dia 25 de Junho, o Movimento dos Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST) do Ceará realizou o II São João da Reforma Agrária no Centro de Formação Frei Humberto. A festividade contou com a apresentação das quadrilhas Juninas, Brilho Junino e Raízes do Sertão do Assentamento 25 de Maio, de Madalena; Faces de Francisca, do Assentamento Antônio Conselheiro de Ocara e da Arraiá Pula Fogueira também da cidade de Madalena. O evento aconteceu na Rua Paulo Firmeza, que foi interditada na altura do número 445.

Além das apresentações de quadrilha junina, o evento também contou com a apresentação da banda de forró “Compadre Barbosa” e diversas comidas típicas regionais, como canjica, milho verde, pamonha entre outras.

O I Arraiá da Reforma Agrária no Centro Frei Humberto aconteceu em 2019, com participação de várias quadrilhas juninas trazendo temáticas importantes da luta pela Reforma Agrária, desde então, a pandemia da Covid-19 não permitiu a continuidade do evento em 2020 e 2021. Esse ano, em decorrência do avanço da vacinação, o MST conseguiu realizar o II Arraiá da Reforma Agrária.

A quadrilha junina Pula Fogueira esse ano traz o tema “Vidas Negras Importam”, a Brilho Junino com o tema “No coração do sertão brilhava Lampião”, a Raízes do Sertão traz o tema “Educação do campo e cultura camponesa” e a Faces de Francisca com o tema “Juventude Camponesa”. Nos últimos anos as quadrilhas juninas dos assentamentos de Reforma Agrária do Ceará têm organizado festivais temáticos. Além de manter viva a cultura camponesa, a juventude vê nas quadrilhas a possibilidade de trazer narrativas em torno da conjuntura política, econômica e social brasileira.

Gene Santos da Direção Nacional do MST destaca a importância das quadrilhas juninas para manter viva a cultura camponesa e a resistência do povo Sem Terra “o povo Sem Terra produz comida, conhecimento e cultura, uma cultura diferenciada, que traz em seu conteúdo as nossas lutas, as nossas dores, nossas conquistas, nossos valores e especialmente a nossa resistência”.

“Para gente é muito importante porque marca nossa retomada nos festivais do MST, já dançamos outras vezes, mas em decorrência da pandemia tivemos dois anos sem vivenciar a alegria, a mística da cultura camponesa. É um processo de continuidade do que já vem sendo construído, estão sendo lindos todos os momentos, é importante o envolvimento da nossa juventude, de trazer para dentro desses espaços debates da conjuntura, debates que fortaleçam a unidade, a formação política e ideológica destes sujeitos. É muito gratificante olhar as manifestações culturais como espaço plural de anunciar um projeto de país e de denunciar tudo que temos vivenciado nos últimos anos” relata Renato Araújo, militante do MST e dançante da quadrilha junina Raízes do Sertão.

Fome, desemprego, carestia, miséria, a luta contra os agrotóxicos, autoritarismo, tirania, ódio, insegurança, conflitos no campo, homofobia, preconceito, hipocrisia, o debate da violência contra os negros/as, a história de resistência do cangaço, a educação do campo foram temas presentes durante as apresentações.

O Arraiá de Reforma Agrária emocionou o público e além das temáticas abordadas em cada grupo, uma faixa hasteada simbolizando a luta contra os despejos. Nela estão escritas as seguintes palavras de ordem: “Despejo na Pandemia é crime, prorroga STF a ADPF 828, pela vida no campo e na cidade despejo zero” em alusão a campanha internacional do MST por despejo Zero, que busca mais uma vez prorrogar a ADPF 828 que garante a permanência de mais de 132 mil famílias que vivem em ocupações urbanas e rurais.
 

Edição: Camila Garcia