quem mandou?

Bruno e Dom foram executados por organização, diz entidade indígena, contestando a PF

Crime contra Bruno Pereira e Dom Phillips não foi feito por dois executores, mas sim por grupo organizado, diz Univaja

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Kamuu Dan Wapichana protesta em frente ao Ministério da Justiça em Brasília terça-feira (14)
Kamuu Dan Wapichana protesta em frente ao Ministério da Justiça em Brasília terça-feira (14) - Evaristo Sá / AFP

A Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) fez duras críticas, nesta sexta-feira (17), à investigação da Polícia Federal que descartou o envolvimento de organização criminosa ou mandante na morte do indigenista Bruno Araújo e do jornalista Dom Phillips.

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Em nota, a Univaja afirmou que a PF "desconsidera as informações qualificadas, oferecidas pela Univaja em inúmeros ofícios, desde o segundo semestre de 2021, que apontam a existência de um grupo criminoso organizado atuando em invasões constantes à Terra Indígena Vale do Javari, do qual 'Pelado' e 'Do Santo' fazem parte".

"As autoridades competentes, responsáveis pela proteção territorial e de nossas vidas, têm ignorado nossas denúncias, minimizando os danos, mesmo após os assassinatos de nossos parceiros, Pereira e Phillips", afirmou a Univaja. Clique aqui para fazer o download da íntegra.

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De acordo com o ofício, "o grupo de caçadores e pescadores profissionais, envolvido no assassinato de Pereira e Phillips, foi descrito em ofícios enviados ao MPF (Ministério Público Federal), à PF e à Funai (Fundação Nacional do Índio). Descrevemos nomes dos invasores, membros da organização criminosa, seus métodos de atuação, como entram e como saem da terra indígena, os ilícitos que levam, os tipos de embarcações que utilizam em suas atividades ilegais". 

A avaliação da Univaja é que o "requinte de crueldade" no modo como Pereira e Philips teriam sido mortos indica que eles estavam "no caminho" de uma organização criminosa, que tentou ocultar seus rastros durante a investigação.

"Esse contexto evidencia que não se trata apenas de dois executores, mas sim de um grupo organizado que planejou minimamente os detalhes desse crime. Exigimos a continuidade e o aprofundamento das investigações. Exigimos que a PF considere as informações qualificadas que já repassamos à eles em nossos ofícios. Só assim teremos a oportunidade de viver em paz novamente em nosso território, o Vale do Javari", conclui a nota.

PF descartou mandante e organização criminosa

Em nota divulgada à imprensa poucas horas antes, a PF, que coordena o comitê de crise para investigação do caso, informou também que as diligências continuam e que, mesmo na hipótese de não haver mandante, outras pessoas devem estar envolvidas no crime e novas prisões podem ocorrer nos próximos dias.

"As investigações prosseguem e há indicativos da participação de mais pessoas na prática criminosa. As investigações também apontam que os executores agiram sozinhos, não havendo mandante nem organização criminosa por trás do delito", diz o comunicado. Clique aqui para fazer o download da íntegra.

Apuração da Polícia Federal mira mais suspeitos

Mais cedo, o superintendente da PF no Amazonas, Eduardo Fontes, afirmou à CNN Brasil que trabalha com a hipótese de cinco suspeitos. Até o momento, duas pessoas foram presas temporariamente por 30 dias, os irmãos Oseney da Costa de Oliveira e Amarildo Oliveira da Costa. À PF, Amarildo confessou ter participado do assassinato e apontou o local em que havia enterrado os corpos.

Diante da confissão, a PF foi até o local, onde foi realizada a reconstituição da cena do crime. Durante as escavações, as equipes encontraram remanescentes humanos em uma área de mata fechada. O avião da PF transportou o material até o Instituto Nacional de Criminalística, onde será periciado para confirmação da identidade. 

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As investigações continuam para apuração da suposta participação de mais pessoas no desaparecimento e para encontrar o barco utilizado pelos suspeitos para executar os crime. 

O caso

Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips, correspondente do jornal The Guardian no Brasil estavam desaparecidos desde 5 de junho, na região do Vale do Javari, no oeste do Amazonas. De acordo com a coordenação da Univaja, Bruno Pereira e Dom Phillips chegaram na sexta-feira (3) no Lago do Jaburu, nas proximidades do rio Ituí, para que o jornalista visitasse o local e fizesse entrevistas com indígenas. 

Ainda de acordo com a Univaja, no domingo (5), os dois deveriam retornar para a cidade de Atalaia do Norte, após parada na comunidade São Rafael, para que o indigenista fizesse uma reunião com uma pessoa da comunidade apelidado de Churrasco. No mesmo dia, uma equipe de busca da Univaja saiu de Atalaia do Norte em busca de Bruno e Dom, mas não os encontrou e eles foram dados como desaparecidos.

Edição: Rodrigo Durão Coelho