Rio Grande do Sul

Coluna

Ecocídio – Dia Mundial do Meio Ambiente

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Apesar da chuva, Dia Mundial do Meio Ambiente foi marcado em atividade na Usina do Gasômetro neste domingo (5) - Divulgação
É uma guerra contra a natureza, que só serve para ampliar nossa miséria e fome

Rachel Carson falou de uma nuvem escura, que se desenhava avançando sobre nós.

Pois ela chegou. A nuvem está entre nós. E nos trouxe um tempo de guerra.

Uma guerra que ameaça a todos os seres, a todas as formas vivas e suas ligações. Ameaça a todos os espíritos e aos fundamentos e contornos dos fantásticos biomas terrestres.

Como em um pesadelo, a realidade desta guerra nos traz a miséria, a fome, o medo e o enaltecimento dos que a conduzem.

Nossos monstros e seus capachos se alimentam das mortes.

Pequenos demônios, que seguem acumulando retrocessos com um objetivo maluco. Querem apagar da existência as belezas da vida multidiversa e os sonhos de harmonia acalentados por todas as gerações.

Fazem que se derrame uma ignorância cúmplice, planejada, como a hemorragia de Mariana invadindo as casas, afogando e soterrando o futuro.

Cultivam uma pseudociência, mentirosa, desenhada em centros de pesquisa previamente cooptados, capturados e colocados à serviço da desinformação e da apatia das vítimas.

Cobaias. Pessoas amortecidas que seguem em frente, distraídas, como se ao fechar os olhos e ouvidos, gritando mito-mito-mito ou money-money-money, pudessem se fazer imunes aos destroços desta guerra.

Uma guerra conduzida por ecocidas, fraticidas, genocidas.

Seres que se sabem medíocres ao ponto de elogiar a cegueira dos que não conseguem ver a beleza e a delicadeza das conexões que tecem a vida.

Eles fazem circular nos rios, nos lagos, nas nuvens, na seiva das plantas, no sangue e no leite dos animais, substâncias que provocam alterações tenebrosas em rotas biológicas que lutam para se manter ajustadas à felicidade em vida. E eles sabem disso.

Estão negando a existência de seus netos, de seus avós, e de bilhões de outros seres fundamentais, reais e imaginários, linhas que costuram a história do Brasil.

Desfigurações, apagamentos genéticos. Com Paraquate, atrazina, acefato, carbendazin, imidacloprido, fipronil e outros venenos expulsos da Europa, fabricados apenas para o sofrimento dos seres que aqui habitam e outros pobres do Sul do mundo.

Glifosato, Glufosinato, Dicamba, 2,4 D... mais de mil formulações de venenos que se combinam em coquetéis biocidas, genocidas, uma erosão do presente roubando o futuro.

Ladrões de sonhos.

A ruptura das redes de microvida dos solos é invisível. Mas já está cancelando mecanismos de decomposição e reciclagem, de mineralização e solubilização de nutrientes. Dificultando ou impedindo a absorção, a retenção, a filtragem das águas.

Este bloqueio em processos fundamentais para a recuperação da fertilidade dos solos, amplia nossa dependência de insumos importados, nossa pobreza, nossa subserviência.

É uma guerra contra a natureza, que só serve para ampliar nossa miséria e fome.

O inseticídio também elimina articulações invisíveis, que fazem circular o pólen interligando a flora e assegurando a produção de frutos, grãos, vagens e outros elementos essenciais à vida.

Ao desejo daqueles monstros e seus pequenos demônios, e com o apoio de mídias mentirosas, esta guerra se expressa em nossa apatia, permitindo o avanço da homogeneização de nossos territórios, nossos corpos, nossas mentes. Destruindo a individualidade que nos faz únicos.

Homogeneização da biosfera.

Doença ecossistêmica que vem transformando universos tão mágicos como o Pampa, o Pantanal, o Cerrado e a Amazônia, em cicatrizes secas, sem vida própria, restolhos da soja, dos desertos verdes de eucaliptos.

Monocultivos viciados em agrotóxicos e destinados à exportação.

Que se estendem, desalojando reservas ambientais, territórios de povos tradicionais e fazendo sumir áreas destinadas à produção de alimentos.

A redução nos espaços cultivados com arroz, feijão, mandioca, fazem escassear os alimentos, elevando seus preços e ampliando a fome, a miséria, as mortes.

Assim, em paralelo ao desespero de muitos, crescem a inflação, o desemprego, a desvalorização do trabalho e da moeda nacional.

Por quê?

Porque assim se ampliam os ganhos daqueles que vendem em dólar o sangue e o futuro de nossos povos e territórios.

Os monstros e seus demônios ainda se dão ao prazer mórbido de financiar esta guerra, contra nós, com os nossos recursos.

Vendem o patrimônio nacional.

Direcionam nossos impostos para planos safra, seguros agrícolas, rolagens de dívidas e isenções que sustentam esta realidade.

E se defendem, sábios como todos os demônios velhos, criminalizando aqueles que erguem a voz, aqueles que dizem basta!

Zumbi dos Palmares, Tiradentes, Antonio Conselheiro, Chico Mendes, Lamarca, Sepé Tiaraju, Lutzenberger, Dom Thomas Balduino e tantos outros, profetas que em seus momentos gritaram em defesa da vida, dos direitos humanos e ambientais.

Eles já intuíam: só é possível um tipo de saúde. A saúde exige compreensão e compromissos a respeito do que se esconde nestas guerras contra a natureza.

Só é possível um tipo de saúde.

Saúde, completa, para todos, física e espiritual, humana e ambiental. Saúde amorosa.

E por ela, em momentos de guerra em paz, e de paz em guerra, como na música, todos os seres desta terra, que hoje gritam de dor, gritarão de novo: BASTA!

Esta Terra Tem Dono!

Fora Bolsonaro, Fora fascistas, fora genocidas, ecocidas.

Fora todos aqueles demônios empenhados em quebrar os ramos da árvore da vida.

Contra eles, como Sepé, como cada uma das abelhas, das formigas, como Belchior, como Milton, vale gritar, de novo: esta terra tem dono.

Aqui, enquanto houver uma forma de dizer não, toda forma de amor valerá a pena.

E contra o oposto disso, juntos, em defesa da vida, vamos cantar.

Fora fascistas, genocidas, ecocidas e bolsonaristas em geral!

Em outubro, Lula Presidente, Pretto Governador e vamos juntos, mudar o rumo desta guerra e o futuro desta terra.

 

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko