Ceará

Reforma Agrária

Ações do Movimento Sem Terra (MST) viram cena em documentários lançados no Ceará

Documentários ressaltam as produções nos assentamentos do MST e a iniciativa dos agentes populares do campo no Ceará

Brasil de Fato | Juazeiro do Norte CE |
"Para Florescer o Mundo - Do campo à feira... de pessoas para pessoas" e "Vigilância Popular do Campo CE" são títulos dos documentários - Aline Oliveira

No final do mês de abril, agentes populares de Saúde do Campo no Ceará lançaram no Centro de Formação, Capacitação e Pesquisa Frei Humberto, o documentário “Vigilância popular do campo CE”. O vídeo documentário, de onze minutos, tem o objetivo de comunicar para a sociedade como são as formações dos agentes populares e também o processo de construção do aplicativo que hoje auxilia esses agentes populares. O documentário está no canal do YouTube da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares e logo mais deve estar disponível também no canal da Rede FioCruz. As imagens ficaram por parte da equipe do Irá Dantas, responsável pelo processo de produção e lançamento do documentário para os movimentos sociais, organizações políticas e instituições de educação.

A iniciativa da Vigilância Popular do Campo surgiu ainda em 2020, logo após a chegada da pandemia do coronavírus no Brasil, em fevereiro do mesmo ano. Com o avanço da doença no Brasil e a fragilidade do Sistema Único de Saúde (SUS), movimentos como a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), visando a fragilidade dos territórios do campo onde o SUS chega com mais dificuldades, desenvolveram a iniciativa dos agentes populares de saúde do campo, que teve como principal objetivo orientar as pessoas sobre o vírus, os cuidados e a prevenção. Em poucas palavras, a iniciativa evidenciou os direitos e as desigualdades.

Ana Paula Dias de Sá, integrante da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares e Coordenadora da iniciativa da Vigilância Popular do Campo, falou um pouco sobre as formações e afirmou que a iniciativa surgiu entre julho e agosto de 2020, a partir da necessidade de organizar uma base de enfrentamento a pandemia da covid-19, em um cenário de enorme crise sanitária que contou ainda com diversas trocas de Ministro da Saúde, o que resultou em uma não condução única e estratégica de enfrentamento a pandemia. “Um país que tem a estrutura que o Brasil tem, com o Sistema Único de Saúde (SUS), poderia facilmente ter tido um plano emergencial de combate e enfrentamento à pandemia, com ações pensadas no âmbito da atenção primária, secundária e terciária, mas infelizmente faltou esse plano”, afirmou a médica.

De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), a vigilância popular da saúde é baseada, principalmente, no protagonismo popular e no processo de levantamento e produção de informações para a defesa da vida, mas, que não visa substituir o papel do Estado com a saúde pública. No Ceará, a formação desses agentes teve coordenação do grupo de acadêmicos do Mestrado Profissional em Políticas Públicas da Fiocruz Brasília, que junto do Setor de Saúde do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), estruturaram uma proposta de formação pensada a partir da realidade do campo, onde muitas áreas de assentamento não possuem unidade de saúde próximas e dificulta o acesso aos equipamentos de saúde.

Ana Paula também ressalta que foi a partir dessa estruturação que enxergaram a necessidade de qualificar as lideranças em saúde do MST que vivem nos assentamentos, auxiliando-os com relação a pandemia através de espaços formativos com uma linguagem voltada para a realidade de quem vive campo. Divididas em três ciclos temáticos e com duração de um ano, as formações aconteceram de forma híbrida e os formandos puderam aprender sobre saúde popular, conhecimentos sobre o vírus, a vacina, as técnicas de manejo e as estratégias de prevenção, além do monitoramento das pessoas sintomáticas. Ao final de cada ciclo os agentes juntamente com os coordenadores avaliavam o processo, analisavam a conjuntura e os indicadores epidemiológicos.

A primeira turma de agente foi concluída em outubro de 2021 e cerca de 31 agentes populares de saúde foram formados para acompanhar e orientar famílias sem terra de assentamentos e acampamentos nos municípios de Canindé, Crateús, Santa Quitéria, Santana do Acaraú, Amontada e Pedra Branca, contemplando mais de 700 famílias e aproximadamente 2.500 pessoas.

O documentário conta com imagens dos assentamentos onde as formações foram realizadas e também com depoimentos de militantes do Setor de Saúde do MST, Médicos e dos próprios agentes populares de saúde do campo, que relatam a forma a qual os espaços formativos aconteciam e destacam a importância dessas formações para as comunidades que vivem nos assentamentos do sertão cearense. O material audiovisual ainda mostra o sistema de coleta de informações da população desenvolvido durante a iniciativa da vigilância popular, sistema onde ficam armazenados os dados de coleta das famílias feita pelos agentes populares.

Confira:

A formação dos agentes populares de saúde do campo faz parte dos trabalhos de intervenção dos estudantes do Mestrado Profissional em Políticas Públicas em Saúde Ana Paula Dias de Sá e Fernando Paixão, da Escola de Governo Fiocruz – Brasília em parceria com as unidades da Fiocruz de Pernambuco e do Ceará, e do Setor de Saúde do MST Ceará e Rede de Médicas e Médicos Populares.

Para Florescer o Mundo - "Do campo à feira... de pessoas para pessoas"

Já está disponível no canal do YouTube da ONG Fábrica de Imagens, o curta-metragem "Do campo à feira... de pessoas para pessoas", documentário que faz parte da série de curtas do projeto "Para Florescer o Mundo". Marcado pela resistência da vida na reforma agrária, o curta traz imagens do Assentamento Bernardo Marin, no município de Russas, interior do estado do Ceará e do Centro de Formação, Capacitação e Pesquisa Frei Humberto, em Fortaleza, capital do estado.

O projeto “Para Florescer O Mundo - Do Campo à feira... de pessoas para pessoas” é uma realização da Fábrica de Imagens e do Ponto de Cultura Outros Olhares, com parceria da Rede Cearense Cultura Viva, Rede Cearense Cultura Viva de Gênero e Sexualidades, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e Centro de Formação, Capacitação e Pesquisa Frei Humberto e conta com o apoio da Prefeitura de Fortaleza, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Governo Federal através da Lei Aldir Blanc

O documentário apresenta uma visão sobre como a reforma agrária alimenta famílias e constrói novas perspectivas de saúde, educação, mercado e sociedade. Tudo é mostrado através de imagens do Assentamento Bernardo Marin e de sua produção, traz também falas de assentados da Reforma Agrária e falas de Clarice Rodrigues, Direção Estadual do Setor de Produção do MST e Coordenação do Centro Frei Humberto; Júnior Mendes, Coordenação Estadual do Setor de Produção do MST e Maria de Jesus, Direção Estadual do Setor de Educação do MST.

Christiane Ribeiro, Psicóloga e Diretora da Fábrica de Imagens, uma das responsáveis pela construção do documentário, afirma que ele integra a segunda parte da série “Para Florescer o Mundo”, série que busca abordar outras formas de viver, que estejam dentro de uma perspectiva feminista, antirracista, anticapitalista, anticapacitista e que trabalhe também a questão de geração de renda. Outras três comunidades e grupos distintos também já foram retratados em edições anteriores: Grupo Criarte, Batuque de Mulher e a Comunidade do Poço da Draga.

“Quando decidimos iniciar essa nova série com um curta do Movimento Sem Terra (MST) pensamos sobretudo a importância da experiência, das ações que eles desenvolvem, principalmente nesse momento em que a gente tem discutido muito essa questão de uma alimentação mais saudável oriunda de trabalhadores e trabalhadoras. Essa questão do viver comunitário, da luta pelo direito à terra, a experiência, dessa organização, da produção de alimentos saudáveis, de forma participativa. São justamente essas experiências que acreditamos que faz florescer o mundo em que vivemos e por isso decidimos iniciar a nova série com o MST”, afirmou a diretora.

Confira:

Além da produção do curta-metragem, a ONG Fábrica de Imagens também avalia construir um longa-metragem, um material audiovisual mais elaborado que contemple outras experiências do MST como a luta pela terra, as feiras agroecológicas e as escolas do campo. Toda a primeira série, assim como o curta do MST estão disponíveis no canal do YouTube da ONG Fábrica de Imagens.

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Edição: Camila Garcia