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Sem perspectiva de futuro, mais um jovem guarani comete suicídio no Oeste do Paraná

Ao todo, 16 guaranis cometeram suicídio ao longo de 2021, outros 24 tentaram.

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Tekoha Mokoi Joegua, localizada no município de Santa Helena, a 120 quilômetros de Foz do Iguaçu, amanheceu com o corpo de um jovem de 15 anos sem vida./Nilma Lage - Divulgação

 

Na manhã do último domingo (06), a Tekoha Mokoi Joegua, localizada no município de Santa Helena, a 120 quilômetros de Foz do Iguaçu, amanheceu com o corpo de um jovem de 15 anos sem vida, tombado em meio aos barracos improvisados que integram uma das cinco aldeias não demarcadas da região.

"É uma tristeza sem tamanho. Não aguentamos mais essa dor. Estamos perdendo nossos filhos para a morte. Sem perspectiva de futuro, nossos jovens estão desistindo de viver. Não sabemos o que fazer com tantos suicídios. Precisamos de ajuda, e isso é urgente", clamou um guarani que pediu para não ter seu nome divulgado pela reportagem.

O desespero narrado de forma anônima resume a realidade compartilhada pela etnia originária. No último dia 20 de dezembro, Eduarda Duarte Lopes, mãe de quatro filhos, tirou a própria vida na Tekohá Pyahu, também situada no município de Santa Helena. Ao todo, 16 guaranis cometeram suicídio ao longo de 2021, outros 24 tentaram. O número é considerado alarmante por ativistas que atuam em defesa da causa indígena.

Conforme já publicado pelo Brasil de Fato, de acordo com uma pesquisa da Universidade Federal Rio de Janeiro (UFRJ), foram 18 suicídios entre os anos 2000 e 2018. "Veja, em 2021 tivemos quase o mesmo número de mortes que o registrado em 18 anos. Isso indica que o povo Avá Guarani atravessa uma espécie de epidemia de suicídio. Tudo isso é reflexo da falta de políticas públicas que garantam assistência médica especializada, isso sem mencionar a falta de alimento, moradia digna e tantas outras mazelas a que seguem sendo expostos", denuncia Osmarina de Oliveira.

Integrante do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), ela monitora a situação também enquanto mestranda do Programa de Pós Graduação Interdisciplinar em Estudos Latino Americanos (PPGIELA), vinculado à Universidade Federal da Integração Latino Americana (UNILA). "O cenário é gravíssimo e o Ministério Público Federal formalizou um grupo de estudos ao final do ano passado para que ações concretas sejam tomadas por parte do poder público. Já foram feitas algumas reuniões com representantes dos indígenas, de prefeituras locais e também da Usina de Itaipu. De maneira emergencial, os guaranis precisam de atendimento psicológico. Entretanto, a questão fundiária precisa ser revista o quanto antes", avalia.

Com três aldeias devidamente demarcadas na região, (Ocoy, em São Miguel do Iguaçu, e Añetete e Itamarã, em Diamante D’Oeste), o povo Avá Guarani no extremo Oeste do Paraná aguarda há mais de dez anos pela regularização de novas porções de terra. O cenário de abandono impõe aos indígenas que estão em ocupações improvisadas uma rotina de extrema pobreza, sem a devida assistência dos órgãos que deveriam assegurar seus direitos.

Lideranças indígenas da região clamam por apoio de Itaipu para que novas vidas não sejam perdidas

 

"Tá tudo muito complicado. A gente tem o direito no papel, mas as autoridades não respeitam. Tem acontecido muita coisa triste nas nossas aldeias. Itaipu tem condição de fazer muito por nosso povo. Nem tratamento psicológico nós temos acesso, o que dirá mais território. Pedimos para que a direção da usina olhe com atenção pra gente. As autoridades no geral, todos precisam saber o que vivemos, estamos pedindo ajuda˜, finaliza Celso Japoty Alves, liderança na aldeia Ocoy.

Procurada para se posicionar sobre o alto número de suicídios guaranis, Itaipu, por meio de sua assessoria de comunicação, respondeu. ˜O programa Sustentabilidade das Comunidades Indígenas, desenvolvido pela Itaipu em parceria com os municípios, APMF’s das escolas indígenas e a Funai, é executado no âmbito das aldeias indígenas Ava Guarani legalmente constituídas no Oeste do Paraná (Ocoy, em São Miguel do Iguaçu, e Añetete e Itamarã, em Diamante D’Oeste), contemplando várias medidas voltadas ao bem-estar e à qualidade de vida das famílias, incluindo os jovens ̃.

Já a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) não atendeu às ligações.

Edição: Ana Carolina Caldas