Ceará

Coluna

Um ano histórico do Fortaleza Esporte Clube

Imagem de perfil do Colunistaesd
fortaleza
Vamos acompanhar e discutir a trajetória do Fortaleza nesse novo patamar - Leonardo Moreira/ Fortaleza EC
Em 2022, para a alegria de 100% da torcida tricolor, Vojvoda permanece no comando técnico

Sem sombra de dúvidas o ano de 2021 foi o mais surpreendente na história centenária do time do Fortaleza. Mesmo com os vices campeonatos da Taça Brasil de 1960 e 1968, principal torneio do futebol brasileiro até então. Mesmo com o sofrido retorno para a elite do nosso futebol em 2018 após a conquista do brasileirão da série B, depois de oito longos e amargos anos na série C. Mesmo com a estreia em uma competição internacional, com a participação na Copa Sul Americana de 2019 e o título da Copa do Nordeste neste mesmo ano. A temporada atual entra na memória do clube como um divisor de águas na posição que o Leão do Pici se coloca no cenário do futebol nacional. 

Em 2021 a equipe tricolor se consagrou tricampeã cearense, terceira colocada na Copa do Nordeste,  semifinalista da Copa do Brasil pela primeira vez e terminou o brasileirão na quarta colocação, garantindo uma vaga inédita na Copa Libertadores da América e a melhor campanha de um clube nordestino na era dos pontos corridos. 

Essas marcas ganham mais relevo pelo fato do Fortaleza possuir investimentos bem abaixo de seus concorrentes. Para se ter um ideia, os três primeiros colocados da série A, Atlético Mineiro, Flamengo e Palmeiras, possuem folhas salariais orçadas em 16,7 milhões, 22, 7 milhões e 18 milhões, respectivamente. Já a do clube cearense é uma das menores do campeonato, com 3,2 milhões. Muito distante dos abastados Grêmio (14,5 milhões), Corinthians (14,3 milhões), São Paulo (13 milhões) e praticamente todos os outros clubes, inclusive Ceará e Bahia.

Considero que o “segredo” desse sucesso deve-se, sobretudo, pela combinação de três fatores fundamentais. O primeiro é o trabalho do técnico argentino Juan Pablo Vojvoda e sua comissão, assunto já debatido nessa coluna. Na minha avaliação, Vojvoda é o melhor técnico em atividade no Brasil hoje, ainda mais no cenário desértico do nosso futebol, pautado pela mediocridade de quase todos os técnicos. Mesmo nos momentos de turbulência, a serenidade e segurança do comandante argentino garantiram a manutenção de um padrão de jogo competitivo e a permanência do clube entre as seis primeiras colocações ao longo de todo o torneio.
   
O segundo pode ser colocado na conta da gestão do time, comandada pelo presidente Marcelo Paz. O planejamento, o profissionalismo, a ousadia e a visão estratégica refletem diretamente no desempenho dentro de campo. O equilíbrio financeiro, o pagamento regular de salários e premiações, o forte investimento na infraestrutura e a transparência, destoam da realidade de endividamento, desorganização, amadorismo e corrupção que permeia grande parte dos clubes brasileiros.

O terceiro, mas não menos importante, é o apoio da torcida. A torcida do Fortaleza hoje é reconhecida com uma das mais apaixonadas e fervorosas do Brasil. Desde antes da pandemia e com o recente retorno do público aos estádios, a arquibancada do Castelão é um show a parte nos jogos do tricolor. Os mosaicos, pirotecnias, cantos e jogos de luzes nas partidas já ganharam até repercussão internacional, criando um ambiente místico singular na arena, contribuindo para a superação das desigualdades técnicas e financeiras entre o Leão e seus adversários, garantindo aquela energia extra para encarar os confrontos.     

Em 2022, para a alegria de 100% da torcida tricolor, Vojvoda permanece no comando técnico, Marcelo Paz permanece na presidência, após ser reeleito, a torcida promete ainda mais apoio para empurrar o Fortaleza para feitos ainda maiores e o clube contará com o maior orçamento de sua história. 

A diretoria está bastante ativa no mercado na bola nessa janela de negociações. O elenco está em processo de reformulação, com o rejuvenescimento do plantel, compra e contração de alguns jogadores chaves, como o excelente zagueiro Marcelo Benevenuto, e apostas em jovens talentos estrangeiros, a exemplo do lateral direito equatoriano Anthony Landázuri e do defensor colombiano Brayan Ceballo, já fechou com um novo goleiro, o experiente Fernando Miguel (ex-Atlético Goianiense) e também com o zagueiro Wagner Leonardo (ex-Santos), por empréstimo. Além da procura de um camisa 9 de peso. O time também planeja uma “missão” pela Europa, com o intuito de conhecer de perto as experiências de equipes como o Arsenal da Inglaterra e o Lyon da França, para apreender e incorporar novas visões e metodologias de gestão do futebol.

Vamos acompanhar e discutir a trajetória do Fortaleza nesse novo patamar, entendendo que um bom desempenho do tricolor de aço no próximo ano será importante não só para seus torcedores, jogadores e gestores, mas para o próprio avanço do futebol nacional, carente de ideias, exemplos e ações que apontem para a melhoria técnica, tática e de gestão desse esporte que tanto mobiliza o povo brasileiro.
 

Edição: Camila Garcia