Rio Grande do Sul

Solidariedade

Artigo | A Economia Solidária está viva

"Reinventar foi a motivação, solidariedade é o alimento e esperança é o sentimento"

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"Vamos priorizar sempre a economia que respeita às vidas!" - Foto: Divulgação

A Economia Solidária se fortaleceu enquanto estratégia de produção e sociedade na década de 1990 e pode ser potência para superação das crises as quais vivenciamos. A pandemia está assolando vidas, diversos empreendimentos econômicos solidários que até fevereiro de 2020 conseguiam seu sustento financeiro por meio do trabalho coletivo, zeraram suas receitas, necessitando de auxílio para alimentação e muitas vezes encontrando no endividamento uma forma de sobrevivência momentânea. 

A exemplo, diversos empreendimentos econômicos solidários integrantes da Rede Ideia de confecção, artesanato, alimentação e reciclagem que são assessorados pela AVESOL. Foi preciso estruturar campanhas solidárias para garantir o acesso a EPIs e alimentos, foi preciso virtualizar as relações para cuidar das vidas. O que era para ser 3 meses está perdurando por quase 2 anos. Como sobreviver ao caos sanitário, estando também num colapso econômico e político? Enquanto os governantes são motivos de piadas nacional e internacionalmente, tanto pelas mentiras quanto pelo negacionismo frente a pandemia. Aquele que está como presidente do Brasil tenta apresentar uma realidade ilusória para o mundo, de um pais das maravilhas, ao mesmo tempo que se utiliza de práticas de morte, como o negacionismo à ciência e à vacina. A pessoa que deveria ser o exemplo da nação, é aquele que joga contra, que contradiz e mente, constantemente. 


A Economia Solidária se fortaleceu enquanto estratégia de produção e sociedade na década de 1990 e pode ser potência para superação das crises as quais vivenciamos / Foto: Divulgação

Começamos falando na Economia Solidária como superação, e realmente é o melhor caminho para o enfrentamento dessas crises. Mas como estão as políticas públicas voltadas para a Economia Solidária? Perdeu-se. Perdemos no estado do RS e no Brasil: secretarias, conselhos (e com eles todo o controle e participação social), processos de certificação, apoio para feiras, leis esquecidas. A Economia Solidária está sendo banalizada e desmoralizada pelos nossos governantes. 

Mas o povo não é fraco e as pessoas que acreditam na solidariedade não baixam a cabeça para o descaso, e sim, enfrentam e lutam! Foi nesse espírito que a Comissão Organizadora Estadual da 23º Feira Estadual de Economia Popular Solidária do RS, mais uma vez organizou, planejou e fez acontecer. A mesma aconteceu entre os dias 20 de novembro e 4 de dezembro de 2021 no Largo Glênio Peres no Centro de Porto Alegre. Com todos os cuidados que ainda são necessários, já foi possível sentir que resistimos e continuamos a fazer da vida o bem mais precioso. Foram 21 municípios participando, mais de 1250 pessoas diretamente engajadas, comercializando artesanatos, confecções, alimentação e produtos da agricultura familiar. Espaço autogestionário, solidário, impulsionado pelos fóruns municipais e estadual, com atuação de diversas entidades de apoio e de representação, mais uma vez abre alas para a produção e consumo justo e solidário. 

Nessa sintonia, a Rede Ideia (rede de colaboração de empreendimentos solidários) também se movimenta, com mais de 100 empreendimentos solidários, conseguiu se articular mesmo a distância. A Loja Virtual Rede Ideia está em processo de construção, as formações continuaram, espaço para diálogos e olhar para os sentimentos, novas parcerias surgindo e outras retomando e muito timidamente 2021 se encerra com sentimento de recomeço. 

Reinventar, recomeçar e esperançar. Temos a obrigação enquanto sociedade de nos reinventarmos, de falar que a crise sanitária só existe devido à crise ambiental, à crise das relações, à crise política. A verdadeira crise é a provocada pelo capitalismo, pela exploração do trabalho, pela exploração do meio ambiente. Recomeçar, só se for com a solidariedade na base, como eixo principal. A verdadeira crise é a do ser individualista, da falta de comum unidade, de coletivo. A verdadeira crise é a política, em que a corrupção, as mentiras, o negacionismo e o privilégio dos poucos são a estrutura do governo atual. 

Precisamos aprender com nossa história, com nossas lutas. Precisamos lembrar quem resistiu e lutou pela vida e nunca esquecer que poucos enriqueceram (ou melhor se encheram de dinheiro) pelo crescimento da miséria e da fome. Aliás, isso é cíclico em nossa sociedade. 

Reinventar foi a motivação, solidariedade é o alimento e esperança é o sentimento. Vamos priorizar sempre a economia que respeita às vidas!

* Supervisora administrativa da Avesol

** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Katia Marko