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Artigo | Articulação Semiárido Brasil vem transformando realidades há vinte e dois anos

A ASA atua no Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais.

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Programa de cisternas democratizou acesso à água no Semiárido
Programa de cisternas democratizou acesso à água no Semiárido - Ubirajara Machado

No mês de novembro, a Articulação Semiárido Brasil (ASA) completou vinte e dois anos de sua criação e de trabalho por vida digna para as populações que vivem no semiárido rural brasileiro, atuando em rede nos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais. Seu lançamento se deu durante o evento paralelo das organizações da sociedade civil, a 3ª Conferência das Partes da Convenção de Combate à Desertificação e à Seca (COP3), em 1999, na cidade de Recife-PE, quando apresentou a Declaração do Semiárido que, após mais de duas décadas, continua sendo um marco basilar para as suas ações. 

Surgiu pela mobilização da sociedade civil que já se articulava desde o começo dos anos 90 na luta por políticas públicas para a região, tratada desde sempre como uma região sem possibilidades, representada simbolicamente com chão rachado pela seca, famílias de retirantes, mandacarus, afora a migração de nordestinos para outras regiões, anulando a riqueza das suas lutas e de seus  diversos bens culturais. 

Com o propósito de mostrar as potencialidades das populações e da região semiárida, defendendo que a seca não é causa de suas seculares mazelas sociais, e sim, uma decorrência da ausência de políticas e de prioridades dos governos para a convivência com o semiárido, pois a seca sendo um fenômeno da natureza não pode ser combatido, e sim, que carece de estratégias de enfrentamento aos graves efeitos deste fenômeno climático e de convivência com o semiárido.

A ASA vem desde o início apoiando e incentivando o armazenamento de água das chuvas, das sementes, a criação de pequenos animais, as formas adequadas de manejo do solo e de outros recursos naturais, a agroecologia, o conhecimento da realidade, a valorização das riquezas do bioma caatinga, a troca de experiências, o reconhecimento do trabalho das mulheres e jovens, o apoio e a divulgação das diferentes expressões culturais.

“Faça uma cisterna no oitão de sua casa para guardar água da chuva”, é um dos preceitos do Padre Cícero, e a ASA iniciou a sua ação através do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), em 2001, com apoio de órgãos governamentais e na sequência foi conseguindo outros apoios, construindo cisternas nas moradias rurais, suprindo a carência de água para beber e cozinhar, num processo que envolveu famílias, comunidades, saberes e trocas de experiências.

Ressalte-se que no começo dos trabalhos da ASA, muitas pessoas ainda não tinham documentação completa e, principalmente, parte das mulheres ainda não dispunha de seu número de Cadastro de Pessoa Física (CPF), e que foi graças ao P1MC e a outros programas de políticas públicas surgidos a partir de 2003 que elas passaram a ter este documento, que era um dos requisitos para acessar o recebimento da cisterna.

A ASA prosseguiu na sua missão defendendo a água como um direito e deu início ao Programa Uma Terra, Duas Águas (P1+2), com as cisternas de água para a produção e outras tecnologias sociais, como as cisternas calçadão, barragens subterrâneas, tanque de pedra ou caldeirão, bomba d’água popular, barreiro-trincheira, barraginha e cisterna de enxurrada.

Em parte das escolas do semiárido rural foram implantadas as cisternas de 52 mil litros, sendo isso, também, um mote para a reflexão sobre a importância do armazenamento e uso racional da água e outros recursos naturais.

O Programa Sementes do Semiárido incentivou o trabalho de preservação das sementes de forma coletiva em Casas ou Bancos de Sementes, preservando a biodiversidade.

A ASA tem uma trajetória proativa, rica de ações, experiências, histórias, manifestações culturais e continua na busca por apoio para dar continuidade à instalação de tecnologias que deem prosseguimento à valorização de direitos para as famílias do semiárido.

Parabéns à ASA, pelos vinte e dois anos de resistência. Parabéns a quem vem contribuindo com sua luta e a quem acredita na viabilidade e sustentabilidade da vida no semiárido.

*Diretora Adjunta do Esplar – Centro de Pesquisa e Assessoria e presidenta do Consea Ceará

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Francisco Barbosa