Ceará

Direito à água

Artigo | Campanha “Tenho sede” – Por mais cisternas no semiárido

Um dos direitos humanos essenciais é o direito à água limpa e segura, como reconhece a Organização das Nações Unidas.

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
A ASA atua há mais de vinte anos nos estados do semiárido brasileiro.
A ASA atua há mais de vinte anos nos estados do semiárido brasileiro. - Reprodução ASA

As populações que habitam áreas que são sujeitas a escassez periódica de chuvas tem no acesso à água para o consumo humano e dos animais, para a agricultura e outros usos, um entrave histórico que traz ainda mais dificuldades para o seu cotidiano, em especial para quem vive na zona rural.

A irregularidade das chuvas, no tempo e no espaço geográfico nas regiões semiáridas é um fenômeno climático, previsível, e pede estratégias de convivência com seus efeitos, que tem soluções, dentre as quais destaca-se a construção das cisternas de placas nas moradias da zona rural para captação e armazenamento da água das chuvas que escorre dos telhados das casas e das escolas, no caso da cisterna da água de beber. Quanto a cisterna de água para a produção, a coleta da água da chuva é feita em um calçadão ou por um declive no terreno. Essas ações são lideradas pela Articulação no Semiárido (ASA) 

A ASA atua há mais de vinte anos nos estados do semiárido brasileiro (Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão) e foi criada como resultado de um processo de mobilização que agrega em rede aproximadamente três mil organizações da sociedade civil com o objetivo de mudar a realidade da região através de programas e ações na defesa de vida digna para as famílias que lidam com a agricultura familiar e que são protagonistas das mudanças de onde vivem.

Através de mobilização nos diferentes recantos do semiárido brasileiro e com o apoio de parcerias, a ASA vem implantando tecnologias sociais desde 2001 através de seus programas como meios para que as famílias que trabalham na agricultura familiar tenham à sua disposição estoque de água, sementes e animais que fortalecem a segurança alimentar. São eles: o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) – 1.300.000 famílias beneficiadas; posteriormente o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) – 104.113; o Programa Cisternas nas Escolas – 7.186 e o Programa Sementes no Semiárido – 857 Casas ou Bancos de Sementes.

Vale lembrar que quando o Brasil saiu do Mapa da Fome da ONU, em 2014, um dos fatores considerados para esse feito foi a construção das cisternas implantadas pela ASA para captação e guarda da água de chuva. 

Os diferentes programas implementados pela ASA contaram, desde o início da década de 2000, com recursos de diferentes fontes e havia por parte do governo federal um robusto apoio que passou a sofrer cortes desde 2016, chegando inclusive a faltar, impedindo que a implementação das ações tivessem continuidade e deixando as famílias, que ainda não tinham sido contempladas, à espera das tecnologias que de forma democrática tem ajudado as populações de tantas localidades na positiva mudança das formas do acesso à água.

Com o objetivo de conseguir recursos que permitam a continuidade efetiva do atendimento às famílias que ainda não dispõem de cisterna, a ASA criou a campanha “Tenho sede”, com o tema “Ajude-nos a levar mais 1 Milhão de Cisternas para o Semiárido”.

A campanha “Tenho sede” é uma iniciativa da Articulação no Semiárido em parceria com o Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste (Consórcio Nordeste) articulado por governadores dos estados desta região.

Em apoio à campanha e ao Programa 1 Milhão de Cisternas, o cantor e compositor Gilberto Gil regravou em um clipe a música "Tenho sede", de Dominguinhos e Anastácia, que anima a sociedade a participar da iniciativa.

A campanha já dispõe de um site com orientações de como podem ser feitas as contribuições. Aguardem que logo haverá mais um formato de doação com a possibilidade de ser feita pelos usuários dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário através do boleto mensal de água.

*Diretora adjunta do Esplar – Centro de Pesquisa e Assessoria e presidenta do Consea Ceará

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Edição: Francisco Barbosa