Rio Grande do Sul

Privatização

Trabalhadores da Carris realizam nova paralisação nesta quinta-feira (2) 

Segundo representante dos trabalhadores, para não deixar população desassistida, 65% da frota estará em funcionamento

Brasil de Fato | Porto Alegre |
A cidade de Porto Alegre é a única capital que tem uma empresa pública de transporte ativa no país, a Carris - Divulgação Susepe

Os trabalhadores da Carris realizam uma nova paralisação, nesta quinta-feira (2), em protesto contra o projeto de privatização da empresa, o fim da função de cobrador e mudanças nas isenções da tarifa. O protesto foi decidido após a realização de três assembleias, frente à falta de aceno do prefeito Sebastião Melo (MDB) ao pedido de mais tempo para os trabalhadores mostrarem a viabilidade da empresa pública de transporte coletivo de Porto Alegre e a não retirada do projeto da Câmara de Vereadores.

“Faremos uma mobilização em defesa da Carris pública, da manutenção do cobrador e por um transporte de qualidade a toda população porto-alegrense. Contamos com a colaboração e apoio de todos vocês pois estaremos com 65% da nossa frota operando para não deixar a população totalmente desassistida, pois sabemos a importância do transporte para todos”, expõe a cobradora e uma das representantes dos funcionários da Carris, Rosangela Pires Machado. 

Conforme destaca Rosangela, quando as empresas privadas deixaram de atender a população da Capital, foi a Carris que fez as linhas desassistidas. "Sairemos com faixas de luto sinalizando uma possível morte da Carris", destaca. 

Na última quarta-feira (25), em assembleia geral virtual da Companhia Carris Porto-Alegrense, Sebastião Melo afirmou que a privatização é necessária, e que com o dinheiro advindo dela a prefeitura poderá destinar à creches, operação tapa buraco, poda de árvore e questão social. Ainda, conforme frisou o prefeito, não é papel da prefeitura de Porto Alegre ter uma empresa pública de ônibus. “O nosso papel é ter saúde e segurança pública. A Carris é uma empresa de 149 anos que custa 21% mais do que qualquer consórcio privado da cidade. Nos últimos dez anos, foram aportados mais de R$ 500 milhões para transportar apenas 22,8% dos passageiros da cidade", afirmou. 

Em entrevista ao BdFRS, respondendo a esse posicionamento do prefeito, Rosangela rebateu afirmando que "é dever sim da prefeitura, do município oferecer um transporte de qualidade para a população". Para ela, Melo não quer investir na empresa pública, onde o dinheiro é revertido em qualidade para a população, mas quer investir dinheiro em empresas privadas. 

Para o motorista e também representante da comissão dos funcionários, Marcelo Weber, a mobilização tem como objetivo trazer o debate à opinião pública e alertar os vereadores quanto à desestatização ou não da Carris. “São vocês da população que vão decidir isso na Câmara de Vereadores”, ressalta. 

Weber explica que todos os carros da Carris que estiverem circulando amanhã terão uma tarja preta simbolizando o luto pela possível extinção da empresa. “Não vamos deixar isso acontecer. Faremos a nossa mobilização para mostrar ao povo de Porto Alegre o que está acontecendo com o transporte público. Sem a Carris tudo pode acabar e ficar pior, como a gente vê nos municípios em torno da Capital”, finaliza. 

Base aliada burla acordo e bota em votação o fim dos cobradores

O projeto de privatização da Carris foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara e está pronto para ser votado em plenário. Trabalhadores da Carris seguem em mobilização permanente no parlamento municipal. Na tarde dessa quarta, vereadores da base aliada do governo colocaram na pauta o projeto de retirada dos cobradores, descumprindo o que fora acordado na reunião de líderes.

Trabalhadores da empresa que tentaram se manifestar foram recebidos com spray de pimenta, informou a assessoria da vereadora Bruna Rodrigues (PCdoB). O requerimento para colocar o projeto em votação foi encaminhado pela vereadora comandante Nádia Rodrigues Silveira Gerhard (DEM).

“A truculência virou rotina nessa casa, a truculência que se justifica na retirada de direitos dos trabalhadores. Penso eu que a reunião das 11 horas, das quartas-feiras do colégio de líderes já não faz mais sentido, se toda semana nós teremos reunião de pauta dessa casa e depois virá a esse parlamento um requerimento para atropelar os debates da cidade. Infelizmente essa é a prática semanal. Estamos falando de mais de três mil famílias que perderam seus postos de trabalho. A única coisa que sensibiliza aqui é o choro dos empresários do ônibus”, destaca a vereadora Laura Sito (PT).

Para a parlamentar, simplesmente o fato de estar debatendo a questão por requerimento, de forma atropelada, mostra a intenção perversa do projeto. “Esse projeto precisa ser discutido com a sociedade e não a toque de caixa.”

Para vereadora Bruna Rodrigues (PCdoB), ao invés de debater e extinção da Carris e dos cobradores, o Executivo municipal deveria nesse estar dedicado a construir soluções e saídas para o povo da cidade, “que vive um drama muito grande, que passa pelo aprofundamento da pobreza, que tem encontrado todo dia com a fome”.

Ela também denunciou o assédio sofrido durante a sessão. Segundo Bruna, o vereador Alexandre Bobadra (PSL) teria dito que ela sentiria tesão por ele. “Esse parlamento devera ter uma comissão de ética, ensinar a esses vereadores que acham que podem tudo que não é exatamente dessa forma. Eu sempre respeitei e tenho respeito pelos meus colegas inclusive com os que não compõe a base de oposição. Não vou aceitar em nenhum momento tamanho desrespeito. Vereador eleito como eu deve se portar. Não é só pedir desculpa, vai precisar ter medidas eficientes nessa casa. Por que sou mulher preciso ser desrespeitada o tempo todo?”, indagou. 

Em nome do (PSOL), o vereador Matheus Gomes prestou apoio à denúncia da vereadora Bruna, criticando o vereador por ter levado uma "cena de violência política, machista para dentro da discussão da casa". Criticou ainda o vale tudo da base governista para acabar com o direito dos trabalhadores. "Vale desrepeitar o acordo estabelecido nas reuniões, vale desrespeitar o moral de uma vereadora, vale desrespeitar a bandeira do Brasil.”

O parlamentar afirmou que o prefeito não tem um projeto para o transporte público para a cidade. “O que ele está representado é destruição de direitos, precarização daquilo que já está muito ruim. Quer privatizar a Carris ao invés de abrir a caixa preta da ATP (Associação dos Transportadores de Passageiros de Porto Alegre). A extinção dos cobradores vai aprofundar o desemprego”, ressaltou.  


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Edição: Marcelo Ferreira