DESERTIFICAÇÃO

Ceará tem estudo pioneiro sobre acidentes por picada de cobra

Por ano, cerca de 138 mil pessoas morrem por picadas de cobra no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde

Brasil de Fato | Juazeiro do Norte (CE) |

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Jararaca-da-seca (Bothrops erythromelas), espécie endêmica da caatinga responsável por acidentes ofídicos no Ceará. - Thais Guedes

Classificadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma doença tropical negligenciada, as picadas de cobra são predominantes em áreas de acesso limitado a hospitais e a medicamentos, como é o caso de áreas rurais da África Subsaariana e da Índia.

Essas informações estão no estudo “Drought, desertification and poverty: A geospatial analysis of snakebite envenoming in the Caatinga biome of Brazil” (Seca, desertificação e pobreza: uma análise geoespacial do envenenamento por picada de cobra no bioma Caatinga no Brasil), publicado na revista internacional The International Journal of Health Planning and Management, voltada para as questões de saúde pública e coletiva. 

No Ceará, municípios como Tauá, Viçosa do Ceará e Tiaguá são os mais afetados em números de acidentes por ano. Os acidentes começam a aumentar em janeiro, seguindo em crescente até julho, mês com a maior incidência de doenças relacionadas a picadas de cobra no Ceará. Há redução no número de casos entre agosto e dezembro. 

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Relevância
De acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia (Funceme), o Ceará está sofrendo, em todo o seu território, com o processo de desertificação. Essa reação ambiental torna mais propício o aumento de casos de acidentes com picadas de cobras, os acidentes ofídicos.

De acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificações (SINAN), mais de 13 mil ocorrências com picadas de cobra foram registradas desde 2001 no estado, um importante dado para se classificar os acidentes ofídicos como um problema de saúde pública. “É preciso reiterar que os acidentes ofídicos afetam milhões de pessoas, principalmente as populações pobres que vivem em zonas rurais, geralmente distantes dos centros urbanos” comenta Thiago Jucá, biólogo e autor principal do estudo. 

Ele ainda ressalta que os setores públicos de saúde devem estar atentos para os acidentes ofídicos, a fim de proporcionar fácil acesso a tratamentos especializados para o controle da doença entre as populações mais pobres. “Essas pessoas dependem do Poder Público e, consequentemente, dos serviços de saúde pública, pois, do contrário, essas populações estariam entregues à própria sorte”, completa Thiago.

Saiba mais: É do veneno da cobra que se faz o soro-antiofídico

Controle
“As pessoas envenenadas por serpentes peçonhentas geralmente procuram os serviços de saúde pública do município. O problema é que muitas vezes essas unidades de saúde municipais não dispõem de antivenenos para o atendimento básico, o que faz com que os pacientes procurem unidades de saúde em municípios vizinhos.” explica Thiago.

De acordo com o estudo, uma das formas de promover o controle de acidentes com picadas de cobra é ampliar as áreas de proteção ambiental, além de incentivar que ações para o combate à desertificação sejam tomadas.

Na área da assistência pública em saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento antiofídico, mais um dos motivos pelos quais o sistema deve ser valorizado, segundo Thiago.

“A soroterapia, desde que utilizada de forma adequada e rápida, é a forma mais eficaz de neutralização da peçonha da serpente causadora do acidente. Por isso, é imprescindível a disponibilização desses antivenenos em quantidade suficiente e nos locais adequados - o ideal seria que as unidades de saúde de todos os municípios tivessem os antivenenos - de maneira a reduzir o tempo entre o acidente e o atendimento médico.” conclui o pesquisador.    
 
 

Fonte: BdF Ceará

Edição: Monyse Ravena