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Coluna

As oportunidades de futuro e o desgoverno elitista de Bolsonaro

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Dono da Riachuelo foi um dos empresários apoiadores da campanha presidencial de Bolsonaro em 2018 - Brasil 247
O lucro. Somente por isso o grande empresariado ainda o sustenta

Vivemos dias tensos no Brasil. A começar pelo fato que não temos um governo. E o que se diz ser governo está apenas preocupado em continuar como e onde está. Ou seja: está preocupado se haverá ou não lisura nas urnas eletrônicas nas próximas eleições e não em governar para todos, para que possamos sair da crise econômica, social e sanitária em que nos encontramos.

Sabemos que o sistema eleitoral brasileiro é seguro, auditável e não precisa ser revisto. Esse tema das eleições é mais um dos factoides construídos por Bolsonaro que, por conduzir o país em meio a um desgoverno de caráter que extrapola o militarismo nacionalista e descamba para as raias do fascismo e do negacionismo, além de procurar fugir da responsabilidade para não ter que responder por sua condução desastrosa da gestão da pandemia, tergiversa e coloca temas intempestivos para o momento, como a questão da credibilidade das urnas, para fugir do assunto central, que é a corrupção que está por trás da forma como faz a gestão da pandemia.

Mesmo que não vivêssemos a pandemia, poderíamos sentir como retrocedemos na forma como esse desgoverno trata as trabalhadoras e trabalhadores, os movimentos sociais e as políticas afirmativas que há mais de décadas vinham se consolidando. Mulheres, negros, jovens, homossexuais e transexuais sofrem por esses retrocessos, que demonstram o quanto andamos para trás nas políticas públicas e programas sociais.

E é por isso que afirmamos que vivemos no Brasil sob a égide de um desgoverno na acepção mais pura do termo, principalmente no atendimento das demandas do povo, da sociedade como um todo, pois não temos nenhum elemento que nos dê a noção de um governo para a maioria do povo, um governo democrático e popular. Pelo contrário, o que vemos é um governo de poucos e a serviço de poucos.

As reformas que aconteceram no pós-golpe da ex-presidenta Dilma Rousseff confirmam isso. Ambas as propostas que passaram no Congresso Nacional por pressão dos grandes grupos econômicos – tanto a reforma trabalhista, quanto a reforma da previdência – foram construídas e escritas nos grandes escritórios empresariais da avenida Paulista. Não trazem em seu bojo nenhuma melhoria para classe trabalhadora. Ao invés disso, tira dessa classe conquistas históricas que ela teve: acaba e reduz direitos, achata salários e aumenta o tempo de trabalho para aqueles e aquelas que já trabalham muito e sempre deram sua contribuição para que o país chegasse onde está e pudesse seguir em frente. Porém, daqui para frente as trabalhadoras e trabalhadores provavelmente não terão mais seus direitos históricos e não poderão se aposentar e aproveitar a vida na melhor idade, ou como dizem, na terceira idade, pois sem uma aposentadoria digna, vão ter que trabalhar até morrer.

E nessa toada, o desgoverno de Bolsonaro só segue em pé por que tem o apoio do grande empresariado nacional e internacional, empresariado representado por um grupo seleto de poucas famílias e pessoas, que não representam a sociedade brasileira, mas impõem a perda de direitos trabalhistas históricos, dentre eles, também a dignidade de poder se aposentar de mais de 80% da sociedade brasileira.

Os impactos e reflexos dessas reformas para as trabalhadoras e trabalhadores que serão atingidos pelas regras de transição e pelas futuras gerações serão catastróficos a médio e longo prazo. Afirmamos categoricamente que, pelo fato de o desgoverno Bolsonaro impor medidas a mando desse seleto grupo de grandes empresários, haja vista as reformas citadas, não há em nenhum outro extrato social, nenhum, além desse, que dê apoio maciço ao desgoverno Bolsonaro. Isso se explica por uma razão muito simples: a lógica do capital: o lucro. Somente por isso o grande empresariado ainda o sustenta, justamente porque ganhar com ele.

Ganha na forma como o desgoverno trata as trabalhadoras e trabalhadores, categorizando-os de forma geral de “comunistas” ao reivindicarem a manutenção de seus direitos. Trata-os com desdém e brada aos quatro ventos, fazendo coro com a ganância das elites empresariais, que a reforma trabalhista foi muito tímida, e que só aprofundando a retirada de direitos é que vai se conseguir atrair investimentos internacionais. Propõem assim aumentar o retrocesso histórico que já vivemos no sentido de diminuir ainda mais os direitos sociais da classe trabalhadora. E, ao tirar deles de uma certa forma dá, como vimos dá, ao empresariado.

Quem produz riquezas, não são os donos dos meios de produção e sim os trabalhadores. Mesmo nos tempos atuais, a fábrica que se conhecia não tem mais a quantidade de trabalhadores que tinha, por estar automatizada, e está automatizada não para propiciar à trabalhadora ou trabalhador uma jornada de trabalho menor, está automatizada justamente para dispensá-los, pois a automação diminuir a necessidade de grande quantidade de mão de obra humana especializada. Isso, de uma forma desumana, aumenta a exploração das trabalhadoras e trabalhadores justamente por criar uma reserva de mão de obra qualificada barata.

Esses trabalhadores dispensados pela revolução tecnologia, ou como se chama atualmente revolução 4.0, aprofunda essa situação e contribui para que mais e mais trabalhadoras e trabalhadores sejam empurrados para uma reserva de mão de obra qualificada. Esse fenômeno é parte constitutiva da lógica do Capital, pois se existem muitas trabalhadoras e trabalhadores esperando por um emprego, isso significa que há uma pressão para aquele que está empregado se submeta às regras dos patrões, inclusive a salários baixos.

Salários baixos e redução de direitos são instrumentos que o desgoverno Bolsonaro vem implementando a serviço do empresariado desde que tomou a presidência. É só dar uma olhada na interrompida política de valorização anual do salário mínimo, conquistada pelas centrais sindicais durante o governo de Dilma Rousseff e que deveria se completar somente em 2022.

Essa interrupção já foi uma das primeiras coisas que o golpe institucional de 2016, que colocou à frente da condução da nação o ilegítimo Michel Temer, implementou: o congelamento da política de valorização do salário-mínimo. Após a eleição de 2018, por dois anos seguidos a política econômica do desgoverno Bolsonaro diminuiu o valor que deveria ser pago ao salário mínimo, indo para além da política de congelamento, distanciando-se ainda mais da política estabelecida entre o governo Dilma e as centrais sindicais, trazendo graves consequências para a classe trabalhadora, submetida a uma sociedade em que impera a lógica do ganho através da especulação e não do investimento em produção, a lógica rentista, em que mais se tem, mais se quer, situação que tem levado a indústria brasileira à bancarrota, pois não há mais investimentos e a política econômica é toda voltada ao rentismo e ao endividamento das pessoas, deixando-as escravas do sistema financeiro.

A concentração de renda por meio da política de Estado mínimo é mais um motivo pelo qual precisamos derrotar esse desgoverno Bolsonaro, porque ele traz problemas objetivos. Essa política pode até dar resultados a curtíssimo prazo para o empresariado, mas trará problemas futuros, pois sem um Estado presente e forte que possa gerar as políticas públicas que as pessoas precisam serviços essenciais tendem a tornarem-se inacessíveis a uma grande parcela da população, além disso, com certeza não teremos a boa vontade e o espírito altruísta do empresariado para ajudar a sair das crises nos mais diversos setores em que o estado tenha se eximido de sua responsabilidade.

Até porque não existe altruísmo na classe empresarial, somente a avareza a ganância e o a busca desenfreada do lucro. Em muito pouco tempo, quando o empresariado já tiver sugado todas as nossas estatais, mobilizado a maioria dos recursos públicos para realizar superávit para pagamentos de juros da dívida, é que vamos saber quão importante era ter a presença de um Estado forte com políticas públicas para atender a maioria do povo contra a fome, a carestia, assim como para poder enfrentar momentos como estes que estamos enfrentando de uma pandemia mundial.

Enquanto isso, a preocupação do desgoverno é gerar factoides para tirar a atenção de cima de si e da tentativa de desmontar o estado brasileiro, privatizando tudo, entregando nossos patrimônios estatais, dentre eles, nossos bancos públicos, que ainda hoje são instrumentos importantes de desenvolvimento em muitas regiões do interior do país. Bolsonaro entregará o país para quatro ou cinco grupos empresariais e banqueiros. Pois tem no seu calcanhar as pesquisas demonstrando que podemos ter novamente um governo democrático e popular voltado para a maioria da população e não somente para os 2% do que compõem reduzidíssima elite empresarial e financeira brasileira.

Essas reações e demonstrações de medo do desgoverno Bolsonaro em perder as eleições precisam ser compreendidas como um sinal de que a batalha eleitoral de 2022 já começou. Para esse processo precisamos defender nossos direitos já, sem titubear, pois corremos o risco de ver um desmonte total do Estado brasileiro ser acelerado de sobremaneira a ter como consequência uma situação em que mesmo conseguindo voltar ao poder sob a égide de um governo democrático e popular, termos somente o caos para administrar, ou seja, o patrimônio público estatal, Petrobras, Correios, Eletrobras, bancos públicos, bancos regionais, nossos recursos hídrico e naturais já estarem, como dissemos, nas mão de poucos grandes grupos empresariais.

Temos nas mãos as oportunidades de construir um vigoroso programa de reconstrução do Brasil, com base nas pegadas de destruição social da gestão de Bolsonaro e seu negacionismo terraplanista, que nega a ciência e vai na contramão da maioria dos governos de outros países, o que fará o Brasil levar mais tempo para que possamos nos recuperar sanitária e economicamente. Temos, segundo as pesquisas eleitorais que demonstram o desgoverno Bolsonaro derretendo sua popularidade, uma oportunidade como poucas de abrir um diálogo social sobre os rumos que o país precisa retomar de desenvolvimento social, com responsabilidade com a vida, com presença do estado na vida e nos serviços prestados às pessoas, com políticas de geração de emprego e renda, com investimento em educação e na preservação e ampliação de acesso às escolas e às universidades, com a revisão constitucional de reformas que foram feitas contra o povo.

Edição: Pedro Carrano