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Valnir Chagas, um educador a serviço da ditadura brasileira

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Valnir Chagas é considerado um dos principais responsáveis pelas políticas educacionais do regime de exceção. - Foto: História do Ensino de Línguas no Brasil
A FACED-UFC não merece ter o nome desse sujeito estampado em suas instalações.

O auditório da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (FACED – UFC), homenageia um importante quadro da ditadura militar-empresarial brasileira, o cearense do município de Morada Nova, Valnir Chagas (1921 – 2006).

O personagem em tela, é considerado um dos principais responsáveis pelas políticas educacionais do regime de exceção, atuando de forma ininterrupta no Conselho Federal de Educação (CFE) por quatorze anos, de 1962 a 1976. Integrou o Grupo de Trabalho (GT), que formulou o projeto de Reforma Universitária de 1968 e elaborou parte considerável do anteprojeto de lei que orientou as reformas dos 1° e 2° graus, em 1971. Também foi professor da própria UFC, entre 1962 e 1974, e da Universidade de Brasília (UNB), até sua aposentadoria em 1991. 

Valnir Chagas pode ser considerado um intelectual orgânico da ditadura, já que contribuiu decisivamente na formulação, difusão e implementação do projeto educacional e cultural autoritário no país. Do ponto de vista pedagógico, protagonizou a materialização dos fundamentos e diretrizes da chamada Pedagogia Tecnicista, que incorporara nas políticas educacionais e instituições de ensino, princípios, valores e técnicas próprias da dinâmica empresarial, como a produtividade, o controle da atividade docente, a meritocracia e a eficiência.

Esse processo de “modernização” da educação brasileira foi orientado pela lógica dos acordos MEC-USAID, parcerias e cooperações entre o Ministério da Educação e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional. Diferente da retórica dos apoiadores da ditadura, várias pesquisas demostram o fracasso desse projeto do ponto de vista quantitativo e qualitativo, sem mencionar os retrocessos pedagógicos decorrentes da mentalidade autoritária e da censura imposta pelos gestores e burocratas dos órgãos responsáveis pela política educacional, aos educadores, pesquisadores, estudantes e entidades científicas.
 
Para o pensador italiano Antonio Gramsci, a visão de mundo de determinada classe ou grupo também pode ser observada na arquitetura e até nos nomes das ruas, por exemplo, e no caso brasileiro, nas homenagens a agentes da ditadura em avenidas, escolas, espaços de lazer, hospitais e até em auditórios de universidades públicas.

Alguns simpatizantes e admiradores do legado de Valnir Chagas, inclusive ex-alunos seus, tentam defender sua imagem e trajetória a partir de uma aparente neutralidade do educador diante das atrocidades e arbitrariedades ditatoriais. Porém, como destaca Dermeval Saviani, em seu livro História das Ideias Pedagógicas no Brasil, Valnir Chagas “cumpriu sob medida o papel de ideólogo educacional do regime militar”, como braço direito do ministro da educação, Jarbas Passarinho.
 
Não são tempos para tergiversações! A FACED-UFC não merece ter o nome desse sujeito estampado em suas instalações, a memória não pode ser apagada e a verdade omitida. Como formadora de educadores e educadoras, os dirigentes da Faculdade, seus servidores e estudantes, assim como toda a sociedade cearense têm o dever de exigir a substituição desse nome, homenageando alguma figura comprometida com a democracia e a com a educação pública, ou um marco histórico que encarne esses valores, tão ameaçados pelo autoritarismo de ontem e de hoje.

Edição: Francisco Barbosa