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Professores da Universidade Estadual do Ceará são intimados por "organização antifa”

Além dos professores, estudantes também receberam as intimações que foram entregues ontem (09) e hoje (10).

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Os advogados dos professores e alunos receberam, na tarde de hoje, os autos. - Foto: UECE

Professores e estudantes da Universidade Estadual do Ceará (UECE) foram surpreendidos durante o dia de ontem (09) e hoje (10) com o recebimento de intimações para comparecerem à delegacia da Polícia Federal em Fortaleza. Os advogados dos professores e alunos receberam, na tarde de hoje, os autos. Em nota escrita em conjunto entre professores, alunos e advogados, foi informado que a acusação, feita aos docentes e discentes por ex-alunos do curso, é a de integrarem uma “Organização antifa” que faria ações de “polícia ideológica antifascista” que supostamente teria o intuito de perseguir, através de aulas e palestras, os simpatizantes de Bolsonaro e cristãos do curso de Filosofia.

“Na verdade, se trata, como temos tristemente nos habituado a ver, de inversão completa, aos moldes do ‘escola sem partido’, da situação de fato experimentada no colegiado de Filosofia da UECE, caracterizada historicamente pelo pluralismo de visões que estruturam a atividade acadêmica, pois ato de polícia ideológica é precisamente o que realizam os denunciantes ao atentar à liberdade de cátedra, de pensamento, de expressão e mais radicalmente, ao caluniar (acusando-os de perseguição) professores que em seus currículos têm compromissos claros e precisos com o antifascismo como indissociável da liberdade de pensamento, liberdade que orienta a própria noção de Universidade”, diz um trecho da nota.

Confira a nota dos professores, estudantes e advogados na íntegra.

Professores e estudantes da UECE receberam ontem (09/06/2021) e hoje (10/06/2021) intimações para comparecimento à delegacia da polícia federal em Fortaleza entre os dias 14 e 17 do corrente. Perguntando aos agentes que entregaram as intimações quais as razões do inquérito, todos obtiveram como resposta verbal que ele se referia à investigação de atos antifascistas na UECe durante as eleições de 2018. 

Os advogados dos professores e alunos receberam, na tarde de hoje, os autos. A acusação, feita aos docentes e discentes por ex-alunos do curso, é a de integrarem uma “Organização antifa” que faria ações de “polícia ideológica antifascista” que supostamente teria o intuito de perseguir, através de aulas e palestras, os simpatizantes de Bolsonaro e cristãos do curso de Filosofia.

Na verdade, se trata, como temos tristemente nos habituado a ver, de inversão completa, aos moldes do “escola sem partido”, da situação de fato experimentada no colegiado de Filosofia da UECE, caracterizada historicamente pelo pluralismo de visões que estruturam a atividade acadêmica, pois ato de polícia ideológica é precisamente o que realizam os denunciantes ao atentar à liberdade de cátedra, de pensamento, de expressão e mais radicalmente, ao caluniar (acusando-os de perseguição) professores que em seus currículos têm compromissos claros e precisos com o antifascismo como indissociável da liberdade de pensamento, liberdade que orienta a própria noção de Universidade.

Consideramos particularmente grave que tais denúncias, já apresentadas em 2018 e na ocasião declinadas pelos MP estadual e federal quanto à competência, retornem agora, num contexto em que claramente se apresentam como intimidação e tentativa de silenciamento aos professores e estudantes antifascistas da UECE bem como a todos os antifascistas deste país.

É absurdo que tenham que prestar esclarecimentos nas dependências da polícia federal sobre aulas públicas e palestras sobre antifascismo e democracia. O silêncio e a conivência com esse ataque serão cúmplices da destruição completa dos espaços de pluralidade essenciais às atividades de ensino, pesquisa e extensão em particular e à convivência plural na vida social, em geral. O contexto de ataques os mais vários às universidades, do estrangulamento dos financiamentos à difamação generalizada sobre as universidades como “ambientes de balbúrdia” exige de todxs nós uma posição clara, que diga alto e bom som que as Universidades brasileiras e todxs xs antifascistas não nos calaremos!

A UECE também soltou nota de apoio aos estudantes e professores. Um dos trechos da nota diz: “Os professores intimados, em momento algum, perseguiram alunos por terem posicionamentos divergentes, pois é exatamente em virtude dessas diferenças e do livre debate de ideias que a ciência se constrói. Na verdade, discussões e posicionamentos diversos são os pilares da academia”. 

Tentamos contato com a Polícia Federal por meio da Superintendência Regional do Ceará, mas até o fechamento dessa matéria não obtivemos respostas.

Edição: Monyse Ravena