Paraná

Conservadorismo

As cruzadas da bancada evangélica na Câmara de Curitiba

Vereadores tentam abrir templos na pandemia e cassar mandato de vereador por ''intolerância religiosa''

Curitiba (PR) |
O vereador Renato Freitas (PT) entrou na mira da bancada evangélica ao discordar de recursos para comunidades terapêuticas - Foto: Giorgia Prates

Dia de combate à "cristofobia", abertura de templos religiosos em meio à pandemia, ampliação da isenção do IPTU para igrejas. Essas são algumas proposições da chamada ''bancada evangélica'' na Câmara de Vereadores de Curitiba.

A última polêmica envolvendo alguns parlamentares do grupo de cinco vereadores é o pedido de cassação do mandato do vereador Renato Freitas (PT), segundo eles, por quebra de decoro e intolerância religiosa. Assinaram o pedido Ezequias Barros (PMB), Osias Moraes (Republicanos), Sargento Tânia Guerreiro (PSL) e Pastor Marciano Alves (Republicanos).

Caso Renato 

Em 10 de fevereiro, durante um debate na Câmara, o vereador Ezequias Barros defendeu comunidades terapêuticas ligadas a entidades evangélicas e criticou movimentos de esquerda por, segundo ele, tentarem em Brasília impedir que elas existissem. Em resposta, Renato questionou o uso de dinheiro público para manutenção dessas comunidades e pediu investimento nos Centros de Atenção Psicossocial, que são públicos.

Posteriormente, o grupo entrou com pedido de representação por quebra de decoro parlamentar na Comissão de Ética da Casa. No pedido, acusam que "membros da bancada evangélica da Câmara Municipal de Curitiba estão sofrendo constantes ataques preconceituosos, calúnias, difamação e intolerância religiosa do vereador Renato Freitas".

Para o professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricardo Oliveira, Renato não teria cometido qualquer erro ao levantar questionamentos em relação a igrejas evangélicas e comunidades terapêuticas. "Ele está no seu direito à liberdade de expressão, inclusive as denúncias que levanta devem ser investigadas pelo Ministério Público", reflete.

Cristofobia e cloroquina

Um dos argumentos da bancada para punir Renato é uma suposta perseguição dele a denominações evangélicas. Essa suposta perseguição a cristãos tem sido a tônica do trabalho de membros da bancada.

No início deste ano, o vereador Pastor Marciano Alves propôs a criação do "Dia de Combate à Cristofobia" em Curitiba (PR), para alertar a população sobre preconceitos e a "a aversão ou ridicularização pública de uma pessoa em razão da sua fé em Jesus Cristo".

O professor Ricardo Oliveira cita que a liberdade religiosa conquistada no Brasil, com a separação entre Estado e Igreja, garantiu direito a culto para todos, mas alerta, "é preciso respeitar a lei e respeitar outros grupos dentro das suas diversidades".

Outras propostas polêmicas do grupo foram pedidos de ampliação da isenção da cobrança de IPTU em templos, a reabertura das igrejas mesmo em meio ao avanço da pandemia e campanha pelo uso da cloroquina e de tratamento precoce contra a Covid-19, criticado por diversas associações médicas no Brasil e no mundo.

Representatividade

Para o vereador e membro da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Dalton Borba (PDT), apesar da importância de movimentos religiosos e cristãos na construção da democracia brasileira, existe espaço para reflexão e crítica. "Discursos e projetos de integrantes da chamada 'bancada cristã' acabam sendo dissonantes com preceitos cristãos, como a dignidade de todos e o amor ao próximo, e visando interesses próprios", critica.

Já para o pastor evangélico Mike Rodrigo, da Congrega Church de Curitiba, a atuação dos cristãos na política deve ser na luta pela redução das desigualdades sociais. Uma bancada com valores cristãos, na visão do pastor, deve atuar no sentido de reafirmar valores humanos e solidários. "Andar como Cristo andou pressupõe defender os interesses e a vida dos mais pobres, e não pautas moralistas que o próprio Jesus nunca defendeu", critica.

A reportagem do Brasil de Fato Paraná procurou as assessorias de imprensa dos vereadores Ezequias Barros, Ozias Morais e Marciano Alves para comentar sobre os assuntos desta matéria. Até a publicação desta matéria, não obteve resposta. O espaço continua aberto para o posicionamento.

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini