Paraná

ARTISTA NEGRA

“Água pro morro”: A História e a identidade da artista brasileira que foi apagada

Conhecida na cidade por “Maria lata d’água”, Emerenciana Cardoso Neves é o seu verdadeiro nome

Curitiba (PR) |
Eliana Brasil escreve: "É vital abolir todos os significados fantasiosos, para não dizer racistas, que permeiam tão importante monumento representado pela figura de uma mulher negra". Foto: - Fabio Orlando Ortolan

A escultura "Água pro morro"(1944) de Erbo Stenzel, localizada na Praça José Borges de Macedo, em Curitiba, abriga muito bem guardada em seu cerne a identificação da mulher que a inspirou. Resgatar sua história por meio das poéticas visuais tem sido uma incubência que recebi ao caminhar pela cidade e ouvir os ruídos que ecoam das diversas fissuras presentes na construção das estruturas da capital paranaense.

Conhecida na cidade por “Maria lata d’água”, Emerenciana Cardoso Neves é o seu verdadeiro nome. Mulher negra, formada em Escultura no ano de 1959, na antiga Escola Nacional de Belas Artes, mesma instituição onde conheceu e inspirou Erbo Stenzel. Emerenciana, conhecida artisticamente por “Anita Cardoso Neves” nasceu no Rio de Janeiro, em 14 de março de 1918. Se viva, completaria, em 2021, 103 anos do seu nascimento.

Foi uma grande artista e aqui na cidade de Curitiba tem sua rica história de vida apagada do conhecimento do povo paranaense. Considerando que esculturas projetadas ou transferidas para espaços públicos tendem a assumir o caráter de unidade de representação, seja ele por ideal, ou por quaisquer modelos de valores dentro de uma sociedade diversa, é vital abolir todos os significados fantasiosos, para não dizer racistas, que permeiam tão importante monumento representado pela figura de uma mulher negra, que nasceu e viveu, assim como seu autor, em terra brasileira.

A invisibilização da história Emerenciana Cardoso Neves é reflexo dos apagamentos das nossas identidades negras, das nossas memórias e das nossas contribuições para a construção do país. Ao tecer fragmentos que recompõe a história de Emerenciana, recomponho a minha própria história.

 

*Artista visual, pesquisadora, performancer e caminhante da cidade. Mineira, de Belo Horizonte, radicada no Paraná há duas décadas, é formada em Artes Visuais pela UFPR. Se expressa por meio de múltiplas linguagens, entre elas, instalações a partir de manualidades têxteis, pintura e performance. Foi premiada pelo 67° Salão Paranaense com a performance "Prato do dia, carne nobre (2019)

 

Edição: Pedro Carrano