Paraíba

MARÇO DAS MULHERES

Maria do Céu, do Polo Sindical da Borborema, fala da situação das mulheres do campo

“A gente precisa continuar falando e conversando umas com as outras”

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Maria do Céu Silva, agricultora do Polo da Borborema - AS-PTA

Maria do Céu Silva, agricultora, moradora da comunidade do Sítio Videl, no município de Solânea, Paraíba. Diretora do Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais de Solânea, faz parte da coordenação do Polo da Borborema - entidade que envolve sindicatos de 13 municípios da região e organiza a Marcha pela vida das mulheres e pela Agroecologia desde 2010 - integra a comissão e a coordenação de mulheres do território.

Confira a seguir a entrevista de Maria do Céu, que falou um pouco como as mulheres do campo têm enfrentado a pandemia e quais reivindicações que elas trazem nesse março de luta.

BdF - Como está a situação das mulheres rurais nessa pandemia?

Maria do Céu - A situação das mulheres rurais nesse tempo de pandemia não está sendo fácil. É muito difícil. Bem angustiante para as mulheres viverem no isolamento social, com muitas dificuldades, no sentido de que a gente percebe o aumento da violência doméstica. Que existe ainda desigualdade do trabalho doméstico e por esse motivo as mulheres acabam ficando na situação mais venerável, aos problemas de saúde, por exemplo, a estresse, depressão nervosismo, né? E a gente percebe que o aumento da violência também foi muito visível.

Duplicou o aumento da violência, porque também, nesse, tempos de pandemia, as escolas fecharam e os filhos dessas mulheres, todos em casa. Falta o trabalho que também para os companheiros, todos em casa, então assim a carga de trabalho foi muito mais pesada. Já era um pesada e agora nessa pandemia, realmente, e ficou mais pesada e a gente para sair um pouco desse peso, dessas mulheres, a gente se organiza como comissão como sindicato, a gente cria grupos de WhatsApp, para que essas mulheres não fiquem caladas. Elas também falem para gente a vivência delas. Então a gente fez um diagnóstico o ano passado, de como a gente vive no campo e nós percebemos todo esse aparato que a gente acaba de trazer, da violência, da angústia, do medo. Ainda as mulheres se adaptando a usarem as máscaras, álcool gel, enfim, tem toda essa adaptação também para a vida das mulheres, mas a gente precisa continuar falando e conversando umas com as outras.

BdF – Quais as principais bandeiras de lutas das mulheres do campo hoje?

Maria do Céu - As bandeiras de lutas que a gente sempre traz, a primeira são a da não-violência contra as mulheres. A gente sabe que é muito importante a gente dialogar umas com as outras para a gente poder entender a violência que está existindo ali no campo rural. Violência econômica também, a gente percebe que muitas mulheres sofreram violência econômica. Uma das primeiras bandeiras de luta é contra violência, violência contra essas mulheres. A outra bandeira de luta, nesses tempos de pandemia, do isolamento, é a da unificação através das redes sociais, dos grupos do WhatsApp, para que essas mulheres possam interagir umas com as outras, trocar o que elas vivenciam. Uma bandeira de luta, nas redes sociais, é a gente criar grupos, criar ferramentas para gente possa se comunicar, e é isso que a gente tá fazendo.

A gente sabe que a pandemia para ela ser diminuída, ou amenizada, na vida das mulheres e das pessoas, é necessário que cheguem as vacinas, então uma das nossas bandeiras é lutar para que a vacina chegue para todas e todos. Lutamos pela agroecologia, porque a gente sabe que muitas mulheres rurais, o que tirou ela do isolamento foi a questão da agroecologia, da diversidade das plantas medicinais e das pequenas criações. Porque elas acabaram ficando ali no espaço ao redor de casa, sem poder sair, mas de forma agroecológica, né? Tendo a sua própria terapia, do dia da vida, então a agroecologia também é uma bandeira de luta. E a gente observou, que existe um espaço de mercado para que essas mulheres agriculturas, elas venham trazer seu alimento. Então elas têm também o cuidado de ter no seu espaço, no ao redor de casa, todas as ações da agricultura familiar, frutas, verduras, então elas têm tido esse cuidado, a partir da organização desses espaços.

Aqui na nossa região da Borborema, a gente tem dois espaços muito importantes de comercialização dos produtos livres de agrotóxicos, que são as feiras agroecológicas, nos municípios que compõem o Polo, e as Quitandas da Borborema, que é mais um espaço semanal, permanente, que as mulheres têm. Então isso tem trazido um pouco a segurança alimentar para sociedade e ao mesmo tempo para essas mulheres.

Outra bandeira de luta nossa é a gente dizer não a esse governo, governo genocida que acaba com nossos direitos, tira os direitos de toda a sociedade, exclui na verdade, sacrifica todas as mulheres quando tira o auxílio emergencial, é uma renda que tem ajudado, a gente sabe que tem uma boa parte das mulheres que não pegam no dinheiro, por exemplo, por causa da violência, da violência econômica por parte dos companheiros, dos filhos, mas a gente percebeu que as mulheres colocam para gente tem ajudado também. Então quando o governo corta esse auxílio também é uma violência econômica do governo que afeta essas mulheres, né?

BdF - Quais as reivindicações das mulheres do campo nesse março 2021?

Maria do Céu - Fizemos uma rodada de diálogos com essas mulheres, aonde tem internet e elas colocaram que a gente não poderia deixar de marchar esse ano. O ano passado, o nosso último movimento nas ruas foi a nossa marcha e de lá para cá começou a pandemia e a gente começou a ficar dentro de casa. Sentimos aquele receio que não podíamos aglomerar, obedecemos aos decretos estaduais e municipais.

Estamos conseguindo sobreviver, e passar por essa fase, mas assim uma das reivindicações da gente é que as mulheres dizem que a gente precisa ecoar a nossa voz, a gente precisa falar, e como que a gente vai falar? A gente trouxe esse ano, a realização de uma live no 8 de março com o tema: ‘Sem cuidado não há vida’, que a gente percebeu, compreendeu, fez o diagnóstico com as mulheres, dos cuidados que elas estavam tendo, em tempos de pandemia, com a família, com os animais, com as plantas medicinais, com os idosos, com as crianças.

O cuidado dessas mulheres, triplicou, na verdade, com filho para fazer a lição, as tarefas, levar na escola. Bom, os cuidados a gente sempre teve e nesse tempo de pandemia, isso aumentou. Então, a nossa Marcha pela vida das mulheres e pela agroecologia discutiu isso: sem cuidado não há vida. Onde se dá muito aumento do trabalho. Enfim, tudo o que você imaginar, a gente está aqui dialogando com as mulheres e a gente não podia deixar de marchar e a gente vai marchar através das redes sociais. Fizemos vários vídeos de mulheres, nesse período de formação e preparação dessa live, fizemos reuniões com as mulheres, de forma virtual, mas para pautar o que a gente almejava em levar para a gente ecoar nossa voz nesse dia 8 de Março e essa live foi muito especial, diferente, mas especial.

Então essas são nossas reivindicações esse ano: reivindicar a saúde, a agroecologia, nossos direitos, a não-violência e vacina já.

Edição: Heloisa de Sousa