Rio Grande do Sul

PANDEMIA

Prefeito de São Leopoldo defende lockdown regional

Ary Vanazzi (PT) passou a tarde de segunda-feira (8) tentando convencer os prefeitos da região Metropolitana

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi, luta duro contra a covid 19 - Arquivo pessoal

Depois de ter decretado medidas mais restritivas do que as da bandeira preta para sua cidade e inclusive permitir que os supermercados atendam apenas uma pessoa a cada 25 metros quadrados para evitar aglomerações, o prefeito de São Leopoldo, Ary Vanazzi (PT) passou a tarde de segunda-feira (8) tentando convencer os prefeitos dos outros municípios da região Metropolitana a aderirem a um lockdown. “Mas não consegui. Não é este o entendimento dos prefeitos", desabafou Vanazzi, logo após o final a reunião da Granpal (associação das prefeituras da região Metropolitana).

Vanazzi contou que seus colegas preferem manter a economia aberta e a política da cogestão na qual os prefeitos assumem responsabilidades e normalmente decretam situações mais brandas para o comércio do que as definidas pelo gabinete de crise do governo estadual. “A situação está muito difícil no Rio Grande do Sul e neste final de semana piorou muito. A tendência é que os próximos 15 dias serão muito difíceis do ponto de vista da estrutura de saúde do estado e da região Metropolitana. Estou propondo um lockdown regional aqui já fazem 15 dias. Sempre na minha cidade fui mais rigoroso que a região. A região tinha bandeira vermelha e com a cogestão ia para bandeira laranja e eu mantinha a bandeira vermelha, não aderia a cogestão”, declarou.

Conforme o prefeito, foi por esta razão que conseguiu tratar todos os doentes da cidade no Hospital Centenário, o único do local. Ser duro nas restrições e reduzir a circulação de pessoas, disse ele “é o único remédio que tem enquanto não vier a vacinação em massa, temos tido sucesso do ponto de vista de salvar as pessoas; temos o menor número de óbitos por cem mil habitantes da região”.

Lembrou ainda que testou quase 70 mil pessoas e sempre teve uma estratégia de salvar vidas, cuidar da população. “Aumentamos a rede de saúde, mesmo com esse governo federal genocida que tem trabalhado para matar as pessoas atrapalhando nosso trabalho.”

Ary Vanazzi recorda que foi contra a cogestão, “agora o governador suspendeu e assumiu e eu espero que ele não devolva para os municípios essa responsabilidade no dia 21, conforme a proposta dele. Eu acho um erro e estou tentando convencer os prefeitos a apoiar o governador e exigir que ele decrete lockdown por dez dias. Se conseguirmos fazer isso, nós recuperamos o equilíbrio do contágio das pessoas, recuperamos a capacidade de atendimento e de internações e diminuímos o tempo de permanência nas UTIs".

Ele insistiu que o que pode quebrar a economia não seria um lockdown de dez dias. “O que está quebrando a economia são esses 30 a 40 dias que nós vamos ficar em bandeira preta. Aí é que é o problema. Mas não é este o entendimento da maioria dos prefeitos. Então vamos perder muita gente. Vai morrer. E vamos ver quebrar muitos pequenos e médios empresários justamente por esta teimosia de não assumirem um fechamento total regional.”

O prefeito de São Leopoldo apoia a recomendação que o Conselho Estadual de Saúde fez ontem (8) ao governador Eduardo Leite (PSDB) de um lockdown que “deve ser mantido até que haja efetivo controle sanitário da pandemia, com decréscimo no número de casos e número de mortes por covid-19, reestabelecimento das equipes de saúde e dos serviços funerários, dos insumos necessários para prevenção, controle e tratamento da doença, bem como de vagas de leitos de UTI, com o devido acompanhamento profissional, e sucesso na campanha de vacinação”.

Negacionismo do governo federal

Para Vanazzi, o grande responsável pela situação que a saúde brasileira está atravessando é o governo federal que, segundo ele, “está matando pessoas e cometendo um genocídio generalizado". “O governo federal é o grande responsável. Só espero que as entidades internacionais os julguem como genocidas. Da mesma maneira que julgaram os assassinos do nazismo e do fascismo. Já passamos de 265 mil mortos, em junho vamos chegar a 300 mil e em outubro, novembro estaremos com 400 mil. Porque de fato é esta decisão política do governo federal que não permite que Estados e Municípios comprem vacinas, e não compra vacinas. Desconstitui o nosso trabalho, desqualifica a ciência e não investe nos institutos que temos como a Fiocruz e o Butantã."

Para ele, agora apareceu uma luz que foi a reunião de 22 governadores que se juntaram para tentar construir uma política nacional coletiva de enfrentamento da pandemia. “Quem sabe isso nos fará tomar um caminho mais seguro para a diminuição essa tragédia.”

Situação local difícil

Com o agravamento da pandemia, a demanda por atendimento tem ampliado rapidamente em São Leopoldo. A área reservada à covid no Hospital Centenário registrou nesta segunda-feira (8) a maior ocupação desde o começo da pandemia, com 61 pacientes, sendo 20 em leitos de UTI. Na UPA Zona Norte, exclusiva para pacientes covid, há 44 pacientes internados e exige atenção total de médicos, equipe de enfermagem e demais profissionais.

A UPA estava com 200% de lotação, pois a capacidade é de 22 pacientes. Já a UTI Covid do Centenário tem 111% de ocupação e os leitos clínicos também operaram além da capacidade, com 110%. Somadas, UPA e Centenário têm 105 pacientes internados.

O Centro de Testagem Municipal (CTM), localizado no Ginásio Municipal Celso Moraci, onde é realizada a testagem ampliada da população para detectar infecções do coronavírus, tem registrado, a cada semana, um aumento significativo na procura pelo atendimento. Em média, o número de atendimentos estava sendo registrado em 40 por dia. Atualmente são contabilizados cerca de 200 atendimentos por dia e um aumento de 50% na detecção de casos positivos.

Edição: Katia Marko