cultura popular

A tradição cearense da dança do coco pelas toadas de Mestra Edite

Mestra da cultura no Ceará, Edite Dias mantém o Grupo de Mulheres do Coco da Batateira desde 1979, na cidade do Crato

Brasil de Fato | Juazeiro do Norte (CE) |

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Mestra Edite mantém um grupo de coco desde 1979 na cidade do Crato (CE) - Foto: Felipe Scapino

A vida cotidiana da região do Cariri, no sul do Ceará, é o que conduz as toadas do Grupo de Mulheres do Coco da Batateira, nome popular atribuído ao bairro Gisélia Pinheiro, na cidade do Crato. 

Lá habita a Mestra Edite do Coco, que fundou e mantém o grupo artístico desde 1979. Edite Dias de Oliveira Silva é natural de Bom Conselho, em Pernambuco, mas vive em terras cearenses já há mais de 50 anos.

Sagrada Mestra da Cultura na 13ª edição do Encontro Mestres do Mundo, Mestra Edite conta um pouco sobre a origem do grupo e sua importância para a cultura estadual e regional, em entrevista ao Brasil de Fato Ceará

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Surgimento do grupo

O grupo de 17 agricultoras cratenses, com idades entre 56 e 84 anos, teve início em uma sala de aula do antigo Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), do qual dona Edite era monitora. A semana do folclore na Exposição Agropecuária do Crato (Expocrato) e a abertura da festa de Nossa Senhora da Penha, no primeiro ano do grupo, foi a deixa que fez com que as estudantes daquela sala fossem se apresentar na dança do coco.

“Uma amiga minha — Antônia Selma Gomes, também tutora do Mobral — sabia a dança, e um grupo de estudantes também sabia dançar. Daí fomos nos apresentar na Praça da Sé. Fomos muito aplaudidas e até hoje a gente vem segurando o grupo, desde 1979”, relata dona Edite. 

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Vivências cantadas

Mestra Edite conta que usa como inspiração para as toadas do seu grupo a sua experiência de vida como agricultora, que muito lhe ensinou sobre o mundo e sobre si mesma. Em suas viagens, observa as sonoridades que a natureza produz, escrevendo e descrevendo na dança do coco o mundo ao seu redor.

“Nós somos todas agricultoras. E, no caminho da roça, na palha do feijão, na queda do milho, no xaxado do feijão, no mexidinho das folhas, com aquele chacoalho, às vezes a gente pega com uma música que a gente já tem, e aí junta tudo em uma roda de coco”, detalha dona Edite. 

A mestra também conta que ainda preserva esse costume de musicar sua vivência em suas viagens, quando reúne os sons e as palavras novas que ouve e aprende para integrar em uma letra de sua roda de coco.

“A gente vai para um lugar mais diferente, aí encontra algo pela viagem. Quando chegamos, junta-se um grupo de três. Aí formamos da conversa que a gente teve em determinada viagem e aí escolhemos as palavras para formar as músicas do nosso grupo”, conta a mestra.

Valor cultural

Para Dona Edite, o grupo de coco é um ato de amor, que é valorizado por ser feito dentro da sua comunidade. “Às vezes, nós vamos para um lugar e vemos alguma pessoa tristinha, de canto. Aí, quando começamos a dançar, todo mundo se alegra, se renova, mexe com eles, com a sua infância. Sou muito feliz e valorizo demais o grupo”, emociona-se Edite.

Para ela, manter o grupo por tanto tempo com a mesma alegria é sinal de que a dança do coco faz parte da sua vida e da comunidade. “Com tanto tempo que nós estamos aqui com o coco, fico muito feliz de ter conhecido tanta gente boa e dançado por todo esse tempo”, ressalta a mestra.

Na casca do coco

Entre as diversas manifestações culturais que povoam o Ceará, a dança do coco está presente como prática popular do litoral ao sertão do estado. Com influências de origem indígena e africana, a dança do coco é ritmada pelo toque de tambores e, em sua origem, acredita-se que os toques da quebra da casca do coco por escravizados deram origem aos primeiros acordes da tradicional dança. 

Ao ser perguntada sobre a origem do grupo, primeiro, dona Edite responde sobre as primeiras danças, feitas por pessoas negras que trouxeram os versos e as toadas de África. “Ela (a dança do coco) é de origem africana, então nós já aproveitamos o que a gente já conheceu de muito tempo, dos nossos avós, bisavós, as histórias”, explica.

Fonte: BdF Ceará

Edição: Monyse Ravena e Rodrigo Durão Coelho