O primeiro dia de vacinação dos idosos acima de 90 anos, imunizados dentro de automóveis no estacionamento do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Sul (Simers), parece ter atraído um público maior do que a Prefeitura de Porto Alegre esperava. A mudança repentina de data, inicialmente o chamado drive-thru seria no próximo sábado (13) e foi antecipado para hoje (10), também pode ter contribuído nos problemas de logística constatados, a começar pelo atraso no início da vacinação. Prevista para começar às 8h, as vacinas só chegaram ao Simers por volta das 9h30, quando uma longa fila de carros já estava formada.
Maria Rosa, de 60 anos de idade, estava há 4h com o pai de 95 anos na fila. “Quando a gente chegou não tinha EPTC e o rapaz da guarda civil que viu, porque estavam mandando as pessoas pro lugar errado, aí ele nos ajudou, senão a gente estaria lá no fundão da fila. A gente vê uma desorganização… não sei se é a Secretaria da Saúde que resolveu fazer hoje, porque era sábado, estávamos nos preparando pra sábado. A gente fica com pena porque é uma coisa tão séria a vacina e ser tratada assim… achei bem preocupante.”
Olnyra Goulart, de 91 anos, também estava há 4h na fila quando conversou com a reportagem do Sul21. Porém, disse não estar incomodada com a longa espera. “Tranquilo, a gente sabe que é uma coisa boa. Tô feliz, tava louca pra que chegasse o dia”, disse, já próxima do local da vacinação. “Tava louca pra que chegasse esse minuto, agora falta pouco.”
Fila de carros se formou nas imediações do Simers ao longo da manhã / Luiza Castro/ Sul21
O presidente do Simers, Marcelo Matias, afirmou que o sindicato estava com a estrutura preparada desde cedo e que a entidade tem experiência nesse tipo de ação, porém, houve atraso na chegada das vacinas. “O Simers é muito treinado para fazer esse tipo de evento, tivemos um inclusive maior do que esse no final de semana e as coisas funcionaram muito bem. O que acontece é que as vacinas são entregues pela Secretaria da Saúde do município e estávamos com a estrutura completamente pronta para abrir às 8h. O que aconteceu é que não chegou a vacina”, explicou.
Apesar do atraso, Matias se mostrou compreensivo com o governo municipal e ponderou que, talvez, a Prefeitura não esperasse tamanha adesão. “Antes de recriminar a Prefeitura, é importante a gente entender as dificuldade técnicas que existem nela própria, como a questão do número de funcionários, a manutenção da temperatura da vacina, tudo isso leva ao atraso. Acho que eles tinham a inferência de um fluxo menor do que se teve”, analisou.
Matias conta ter percebido de manhã que o número de vacinadores não daria conta do tamanho da fila formada e, por isso, pediu à Unimed, parceira do Simers em outras atividades, que disponibilizasse mais profissionais para trabalharem juntos com as equipes da Prefeitura.
“É importante entender que os médicos atuam em todas as pontas, desde o início da pandemia os médicos sempre estiveram envolvidos e como o Simers foi agraciado pela Prefeitura pra vacinar os médicos no final de semana, é nossa obrigação devolver o que recebemos à população. Por isso não tivemos a menor dúvida em oferecer nossa estrutura para que a vacinação dos idosos fosse feita. É sempre importante trabalhamos juntos por um objetivo comum. Nosso objetivo é saúde e foi isso que fizemos no último final de semana e faremos pelos próximos dias.”
Na segunda-feira, o Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS) solicitou que a Prefeitura de Porto Alegre enviasse documentos e informações sobre a aplicação de vacinas contra a covid-19 em profissionais de saúde ligados às entidades setoriais – Cremers, Simers, Amrigs, Conselho e Associação de Odontologia e conselhos de Enfermagem, Serviço Social, Fisioterapia e Psicologia – em mutirão no último final de semana.
Na sequência, a Prefeitura suspendeu a programação de vacinação de profissionais de saúde prevista para ser realizada a partir desta quarta, no Centro de Saúde IAPI. De acordo com o Município, a decisão foi tomada em razão das “dificuldades para contemplar com justiça e segurança as diversas categorias de profissionais de saúde”.
Edição: Sul 21