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Em que se baseia a terapia reichiana?

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Wilhelm Reich (Dobzau, Austria, 24 de março de 1897 — Lewisburg, Pensilvânia, 3 de novembro de 1957) foi um médico, psicanalista e cientista natural - Reprodução
A rigidez do corpo, que Reich batizou como couraça corporal, se manifesta na estagnação

Ao estudar as neuroses e as resistências neuróticas como psicanalista, Reich percebeu que as pessoas tinham formas constantes, enrijecidas de se expressar, perceber, sentir e representar o mundo. Elas estavam identificadas com essas formas e as defendiam com argumentos racionais, pleiteando a manutenção e necessidade de sua permanência como naturais, inevitáveis e autênticas manifestações de seu ser.

Com isso, evitavam ver que não há uma essência inerente às coisas, e que tudo o que existe, inclusive nossa personalidade, vai acabar, é maleável, vazio de essência ou predeterminação; e, principalmente evitavam enxergar o aspecto patológico e gerador de problemas e infelicidade dessas formas enrijecidas e de sua defesa obstinada pela própria pessoa.

As formas que Reich observou em seus pacientes eram estereotipadas, crônicas e inconscientes. A todo esse fenômeno ele deu o nome de caráter neurótico, ou couraça de caráter.

Ele também descobriu que o caráter está ancorado em uma rigidez corporal, cujo principal sustentáculo é o bloqueio da respiração, e que compromete todo o funcionamento do sistema neurovegetativo e a possibilidade de pulsação do organismo da pessoa.

Os órgãos têm uma espécie de movimento involuntário que nós chamamos de “motilidade”. Os intestinos são considerados por excelência os órgãos que possuem esse movimento, que em seu caso se chama “peristalse”. No entanto, mais além da peristalse, todos os nossos órgãos, bem como os tecidos de nossos corpos possuem, ou deveriam possuir, uma vibração. São emaranhados de células em meio aquoso, como não vibrar?! 

A rigidez do corpo, que Reich batizou como couraça corporal, se manifesta na estagnação, na contenção da energia corporal em contrações musculares e também das vísceras e tecidos, em um enrijecimento do organismo. Assim, a rigidez do caráter se “ancora” em contrações crônicas dos grupamentos musculares e com a diminuição da motilidade dos órgãos e tecidos.

A musculatura dos olhos, do crânio, costas, diafragma, abdome, pernas, glúteos está espástica. Ao mesmo tempo, os intestinos tendem a ter a peristalse reduzida, o coração e o cérebro ficam mais contraídos.

Essa estagnação no nível do organismo também se manifesta em nível mental e comportamental, nos pensamentos, na cognição, na nossa forma de perceber o mundo e de agir sobre ele, nas nossas escolhas e afinidades.

É importante observar que a pulsação reduzida do organismo, como descrita acima, compromete a própria consciência porque a experiência corporal de um indivíduo, a possibilidade que ele tem de sentir seu próprio corpo, fica alterada, em um estado de constante contração, o que modifica a experiência de estar no mundo, e com isso a forma como uma pessoa sente e até significa o mundo.

A rigidez altera a experiência do “aqui e agora” de um indivíduo. Um organismo contraído percebe menos o ambiente e a si mesmo, tem menos sensações, é menos afetado pelo mundo no sentido de receber menos informações sensoriais dele, e ao mesmo tempo não sente a energia se mover em seu corpo.

O caráter é formado ao longo do processo de desenvolvimento, a partir das frustrações e repressões principais sofridas por um indivíduo na infância, principalmente a repressão sexual sofrida no seio da família.

Dependendo de como se deu esse processo, da fase de seu desenvolvimento em que houve maior comprometimento da satisfação (e portanto bloqueios), as pessoas tendem a desenvolver traços e estruturas de caráter específicos.

* Este artigo será dividido em duas partes. Daqui 15 dias, a colunista apresenta a Parte 2.

Descrição da imagem: trata-se de uma fotografia em preto e branco de Wilhelm Reich sentado diante de uma mesa em seu laboratório. Ele veste um jaleco branco e ao fundo podemos ver uma estante de livros, um rádio antigo e um quadro na parede.

Edição: Katia Marko