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Juízo final, a história do bem e do mal

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Encontro entre o Papa Francisco e Diego Maradona, no Vaticano, em 2016, antes de uma partida de futebol beneficente
Encontro entre o Papa Francisco e Diego Maradona, no Vaticano, em 2016, antes de uma partida de futebol beneficente - STR / TELAM / AFP
Precisamos nos assumir como homens e mulheres que querem construir um país decente

Nesta semana, passamos para nova fase nas relações latino-americanas.

A tristeza que desce nas Américas pela passagem do gigante argentino, Maradona, à imortalidade, contrasta com a morte em vida de anões brasileiros de visibilidade midiática global. Gente que finge não ver e que jamais se compromete com as dores do povo pobre, com o dia a dia e o ano a ano da maioria dos nossos irmãos.

Não dá o que pensar?

Veja a distância que permeia entre a imagem comprometida do Maradona, com o Che tatuado no braço, com o Fidel tatuado na perna e seu compromisso de vida, pelo povo pobre, e o que sabemos dos nossos robinhos, neimares, renatos, pelés e tantos outros. Dá até inveja. Desde a Argentina, um ídolo popular rico, que se expressa a favor da tributação das grandes fortunas, um homem com suas fraquezas e sua grandeza, e do nosso lado, a mediocridade de omissos eventualmente acusados de estupro e sonegação. Verdade, os nossos não são todos assim. E alguns até fazem muito bem certas coisas, que dão alegrias transitórias ao povo, e eventualmente se manifestam em defesa da justiça, ou contra a prisão sem provas, do Lula. Mas na regra geral, são omissos em relação a dramas que afetam o todo. Aproveitadores, covardes, alienados, que vivem numa paz descuidada como se não tivessem a ver com o que ocorre neste território perigoso e triste.

De fato, não precisamos de heróis, nem de mitos. Mas sim, precisamos de referências que apontem para o mérito da força e da coragem pessoal, para o valor da solidariedade e da alegria com dignidade. E Maradona foi e sempre será este farol. Que contraste com as nossas referências. O que dizer do vice-presidente Mourão, que diante da morte de João Alberto, e da ameaça de morte à vereadora, Ana Lucia, de Joinville/SC, aquela que, “a gente mata ela e entra o suplente, que é branco”, desprezando todas as evidências e até mesmo dados oficiais sobre a discriminação criminosa que aqui vigora, afirma que não há racismo no Brasil. E vai além, como já demonstrou ao se vangloriar de um neto que seria especialmente bonito porque estaria “branqueando”. Que destino esta classe de gente pretende, ou pode oferecer, para nosso país?

Resta claro que não será nada de bom para muitos dos nossos. E que não basta nos agarrarmos na esperança de um mundo melhor, ou mesmo na indignação que possa causar o que vemos crescendo por aí, entre os apoiadores dos golpistas que concorrem no segundo turno destas eleições, para evitarmos o pior. E também sabemos que, se permitirmos, em breve nossos filhos estudarão uma história de um Brasil diferente, onde jamais houve ditadura, tortura, crimes ambientais e onde opera uma régua de meritocracia eficiente, que por justiça empurra milhões para o crime e para o mapa da fome.

Precisamos mais do que sonhar. Se trata de acordar, e agir contra a ascensão de personalidades de relevância triste, que se opõem ao espírito de Maradona. Se trata de bloquear quem ameaça estender e ampliar entre nós as influências da sombra, do medo e do mau cheiro. Se trata de derrotar candidatos apoiados por personagens passageiras como o governador Leite, que pretende acabar com nossa lei dos agrotóxicos, em favor do lucro de empresas que nos envenenam. Talvez por não ter filhos, Eduardo Leite, do PSDB que apoia Melo, em Porto Alegre e se opõe a Pepe em Caxias e a Ivan Duarte, em Pelotas, despreze o fato de que no Brasil até o leite que bebês recolhem do peito de suas mães, já carrega resíduos de venenos aplicados afoitamente por um agro que, com apoio do Estado, se faz cada vez mais tóxico.

Ou ainda, como o filho rico do presidente terraplanista e cloroquímico, aquele outro Eduardo, que veio ao sul apoiar Melo, olimpicamente alheio ao fato de que suas falas ofensivas a nossos clientes chineses, já comprometem a economia do RS e do país.

Ou como o prefeito recém-descartado, Marchezan, que há pouco era crítico feroz de Melo, e agora se declara neutro, enquanto seu partido adere de mala e cuia ao pemedebista. Existiria neste movimento vexatório algum receio de que Manuela, uma vez eleita, revele atitudes indevidas de todos os participantes daquele pacote, Fortunati, Marchezan e Melo, quando prefeitos em exercício? Só votando certo, pra ver.

O que mais pode ocorrer de ruim em nossa cidade, onde as escolas foram liberadas e os hospitais afirmam não ter mais disponibilidade para receber pacientes graves, com covid, do que a eleição de Melo?

Parece que aqui, como em todo o país, passado este domingo, a pandemia voltará forte, com centenas de milhares de almas surpreendidas pela doença, que hoje se faz oculta por manobra de um governo tão desumano que se revela capaz de esconder 7 milhões de testes para identificação da covid. Como interpretar decisões que impedem as pessoas de ter acesso a informações que poderiam reduzir a expansão de nossas tragédias? Como avaliar os aliados de grupos capazes de tamanha indignidade, observando que pretendem controlar o poder Executivo de cidades chave para o futuro da democracia participativa?

O que fazer? Só há um caminho: precisamos nos assumir como homens e mulheres que querem construir um país decente e, com todo o cuidado e cautelas sanitárias, ir para as ruas, contra os golpistas, os fascistas, os criminosos, os exterminadores do futuro.

E ajudar a eleger em Porto Alegre, Manuela, 65. E em Caxias, Pepe, 13. Em Pelotas, Ivan Duarte, 13. E se tivermos conhecidos em São Paulo, há que escrever, telefonar, pedir a eles que votem Boulos, 50. Em Recife, Marília Arraes, 13; em Belém, Edmilson, 50. E nos outros locais, que não me ocorrem por ignorância pessoal e não por descaso, que a consciência de cada um, oriente a todos, pela reconstrução de um Brasil mais decente, um país independente.

E que o espírito de luta, alegria e amor à pátria, aos pobres e à dignidade humana de Maradona, de Zumbi, do Papa Francisco e de tantos humildes e anônimos que conhecemos de perto, nos ilumine neste domingo. Fora golpistas, fora fascistas, fora entreguistas.

A música da semana? Nelson Cavaquinho, o Juízo Final.

OBS: Amigues leitores. Os links são opções de acesso, para eventuais interessados nas fontes citadas. Recomendo, enfaticamente, tão somente que não deixem de escutar a música de Nelson Cavaquinho. Que ela nos inspire.

Edição: Katia Marko