Desigualdade

Somente 33% dos candidatos a prefeitos das 26 capitais brasileiras são negros

Três capitais não terão candidaturas negras. “É a retroalimentação da hegemonia branca”, lamenta Douglas Belchior

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Das 312 chapas inscritas para concorrer às prefeituras das capitais brasileiras, 59 tem mulheres à frente - Fábio Pozzebom/Agência Brasil

No dia 15 de novembro, 317 candidatos disputarão a prefeitura das 26 capitais brasileiras. Do total, 208 são brancos (65,61%), 107 negros (33,75%) e 2 indígenas (0,6%). O levantamento feito pelo Brasil de Fato levou em conta apenas os postulantes ao cargo de prefeito, sem contabilizar seus vices.

Em relação a 2016 caiu, proporcionalmente, o número de candidatos negros. Naquele ano, 210 candidaturas disputaram as capitais brasileiras. Dessas, 135 eram brancos (64,2%), 75 negros (35,3%) e um indígena (0,4%).

Ainda em 2016, as candidaturas negras foram maioria em sete capitais, todas da região Norte e Nordeste: Aracajú (SE), Belém (PA), Boa Vista (RR), Maceió (AL), Palmas (TO), Salvador (BA) e Teresina (PI).

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Nas eleições deste ano, negros serão a maioria dos candidatos em sete capitais, novamente. Dessa vez, com a inclusão um município da região centro-oeste, Goiânia (GO). As outras seis são: Aracajú (SE), João Pessoa (PB), Macapá (AP), Manaus (AM), Salvador (BA) e Teresina (PI).

Os partidos permanecem coerentes ao que é o Brasil racista em que vivemos

Somente nas três capitais da região Sul não haverá candidaturas negras. Somada, a população de Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre é cerca de 3,5 milhões de pessoas. Ao todo, os três municípios da região terão 37 candidatos às prefeituras nas eleições deste ano. Todos brancos.

Entre as candidaturas, apenas dois indígenas: Minoro Kimpala (PSDB) em Rio Branco (AC) e Vinícius Miguel (Cidadania) em Porto Velho (RO). Em 2016, era apenas um: Gonzaga (PSTU) em Fortaleza.

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O percentual de brasileiros que se declaram negros é de 56,10%, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domícilios (Pnad) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Isso significa que dos 209 milhões de habitantes do Brasil, 108 milhões são negros.

Douglas Belchior, fundador da Coalizão Negra por Direitos, que foi candidato a deputado federal em 2018 pelo PSOL, lamentou o índice baixo de candidaturas negras nas eleições municipais deste ano.

“Os partidos permanecem coerentes ao que é o Brasil racista em que vivemos. E o que esses partidos têm a oferecer à sociedade brasileira? Mais do mesmo: lideranças e projetos políticos brancos, num exercício contínuo de retroalimentação da hegemonia branca, seja entre os conservadores de direita, com seu ranço escravocrata, seja na esquerda com sua síndrome de super-heróis. Corajosos heróis brancos, líderes da massa dos miseráveis negros, com as quais têm zero afinidade racial e de classe. Isso é o Brasil”, diz.


Negros são minoria entre candidatos que disputarão a prefeitura das capitais brasileiras / Arte: Fernando Bertolo (Brasil de Fato)

Partidos

Os seis partidos de esquerda concentram 36 (33,6%) das candidaturas negras. Pela ordem, PSOL (12), PSTU (11), PCdoB (5), PCO (4), PT (4) e UP (3). Os candidatos negros representam 68,75% das 16 candidaturas do PSTU nas capitais, o maior índice do país.

As outras 66,4% (71) candidaturas negras estão divididas entre 24 legendas de orientações políticas de centro ou direita. PSB e Solidariedade (5 alteraram a raça nesta eleição) lideram, com 6 candidatos. Avante (4), Democracia Cristã (4), Patriota (4) e Solidariedade (4) completam a lista. Três siglas não terão candidatos negros nas capitais: PTB, PCB e Novo.

O quê todos esses partidos têm em comum? São hegemonizados por brancos. Nisso são iguais, o racismo os atravessa da mesma maneira

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Belchior critica as siglas, mas distingue as legendas de esquerda e direita. “Temos partidos históricos que representam segmentos importantes da sociedade. E há aqueles, a maioria, que são fisiológicos e funcionam como empresas eleitorais, um grande e rendoso negócio”, aponta o ativista.

Ele considera que há os partidos que foram construídos para representar os interesses da classe hegemônica,  que compõem o campo conservador de direita e há aqueles partidos que foram construídos com base na mobilização de trabalhadores e de uma classe média preocupada socialmente que formam o espectro progressista da esquerda partidária, ao qual se identifica.

"Esses defendem interesses mais próximos da justiça e direitos sociais. Por isso sou filiado a um que, deste ponto de vista, me representa. Mas o quê todos esses partidos têm em comum? São hegemonizados por brancos. Nisso são iguais, o racismo os atravessa da mesma maneira”, encerra.

Edição: Leandro Melito