No limite

Casos de Covid-19 no Ceará superam marca de 37 mil e óbitos já passam de 2600

Cerca de 90% dos leitos do estado estão ocupados com pessoas contaminadas com o novo coronavírus

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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A última atualização do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde apontou 34.573 casos confirmados e 2.251 mortes por conta da doença. - Divulgação / Câmara Municipal de Fortaleza

Segundo país no mundo com o maior número de casos confirmados da doença, atrás apenas dos Estados Unidos, o Brasil tem 330.890 mil pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Conforme informações divulgadas pelo Ministério da Saúde nesta sexta-feira (22), são 21.048 vítimas fatais. 

Neste cenário, o avanço da pandemia de coronavírus no Ceará é alarmante. O estado ultrapassou o Rio de Janeiro e ocupa o posto de segundo da federação em números de casos de covid-19, atrás apenas de São Paulo. A última atualização do boletim epidemiológico da pasta apontou 34.573 casos confirmados e 2.251 mortes por conta da doença. 

Apesar das tentativas do governador Camilo Santana (PT) de implantar um isolamento social – que deverá se estender em todo o estado até 31 de maio - moradores relatam grande circulação de pessoas. Em Fortaleza, capital cearense, o prefeito Roberto Cláudio (PDT), determinou lockdown em toda a cidade, mas alguns bairros têm descumprido as regras.

"Nós cearenses estamos muito assustados, apesar do governador ter implantado o lockdown, na periferia ele não está sendo efetivo. A gente tem bastante aglomerações, feiras livres acontecendo, gente na rua. Em determinados bairros que têm vida própria, frequentando como se nada tivesse acontecido”, comenta Jonathan William dos Santos. 

Professor de formação, ele perdeu seu emprego em um café na cidade, e se mantém em isolamento desde o início da pandemia. Ele conta estar dedicando seu tempo aos estudos de pós-graduação e que quer retornar às salas de aula quando a crise passar. “Não peguei o auxílio emergencial para não tirar de ninguém. Consegui guardar um pouco de dinheiro e agora estou estudando para me preparar melhor para depois da pandemia.”

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Fortaleza está em lockdown desde o dia 8 de maio. No entanto, as taxas de isolamento, que deveriam ficar em torno de 70%, só atingiram 50% da população. E a falta de isolamento têm aumentado severamente os registros de infecção. Segundo a secretaria de Saúde, o Estado já tem 89% dos leitos de UTI ocupados. 

A porta de entrada para pessoas que contraíram a doença no Ceará tem sido as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). São essas unidades que têm, inclusive, registrado o maior número de óbitos por conta da covid-19. Reginaldo Antunes*, enfermeiro em uma UPA de Fortaleza, relata que os funcionários dessas unidades estão cada vez mais sobrecarregados.

"Os funcionários estão exaustos, têm plantões que a gente não tem força para trabalhar. Chegam pacientes precisando de atendimento e ele vai ficar lá, em uma cadeira, aguardando atendimento, porque no momento que ele está entrando, tem dois pacientes tendo uma parada cardíaca", aponta. 

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Antunes conta que ao menos 50% dos funcionários da UPA onde trabalha já foram afastados por conta de suspeitas de contágio. Grande parte deles confirmou contaminação por covid-19. "Tem dias que já cheguei chorando porque me via em uma situação de impotência em relação aos pacientes, de pacientes morrendo", completa. 

Os funcionários estão exaustos, têm plantões que a gente não tem força para trabalhar

Ana Virgínia Lima, que é enfermeira em um hospital da capital, integra as estatísticas de profissionais de saúde contaminados pelo coronavírus. Os dados divulgados esta semana pela secretaria de Saúde do Ceará aponta que 4.450 trabalhadores foram acometidos pela doença.

"A gente estava recebendo pacientes de um outro hospital aqui de Fortaleza para um atendimento específico, quando esses pacientes começaram a confirmar e nesses cuidados eu acho que me contaminei”, lembra-se Lima. Segundo a enfermeira, no seu caso, os sintomas foram leves. 

Veio uma crise sanitária que colocou à mostra, uma coisa que nós, profissionais de saúde, já sabíamos: a nossa precariedade.

"Eu comecei com uma dor de cabeça, a gente chama de cefaleia. Logo depois de quatro dias, quando eu acordei, fui preparar um lanche e não senti mais nada, paladar, cheiro. Foi quando vi que estava contaminada mesmo", diz.

Lima explica que o avanço da pandemia expôs os problemas do sistema de saúde cearense. "Veio uma crise sanitária que colocou à mostra, uma coisa que nós, profissionais de saúde, já sabíamos: a nossa precariedade. A gente não tem suporte, as nossas emergências sempre funcionaram no limite de outras doenças. A covid veio escancarar tudo".

Edição: Rodrigo Chagas