Ceará

Intransigência

Decisão da UFC de manter Encontros Universitários preocupa estudantes e professores

O evento acontece virtualmente de 20 a 22 de maio e pode privar alunos sem acesso a internet de participar dos Encontros

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
“Observando a relevância e a contribuição que esse evento traz pra toda a sociedade, o DCE da UFC se posiciona contra a realização dos Encontros Universitários de maneira virtual”. - UFC / Viktor Braga


A Universidade Federal do Ceará (UFC) informou em seu site que irá realizar de 20 a 22 de maio os Encontros Universitários (EU). Pela primeira vez o evento acontecerá virtualmente, respeitando as medidas de prevenção contra o coronavírus. Mas o que essa decisão pode acarretar no cotidiano dos alunos, professores e convidados?

Juliana Roque, diretora de comunicação do Diretório Central dos Estudantes (DCE-UFC), informa que tem mantido dialogo estreito com as entidades de base da UFC que, de forma unanime, também se posicionaram contra os EU pedindo a suspensão do evento. Ela explica que apesar da não obrigatoriedade de participação, a sistematização proposta pela reitoria descaracteriza totalmente o evento. Além disso, a decisão das entidades estudantis é sustentada por algumas problemáticas, por exemplo: o acesso restrito a exibição das atividades de ensino, pesquisa, pós-graduação, extensão, arte e cultura, já que nem todos os discentes têm acesso à internet; a desconsideração da existência de um coletivo de alunos surdos ou deficientes visuais que necessitam de um suporte presencial; as condições socioeconômicas de muitos estudantes que nesse momento de agravamento da crise sanitária têm enfrentado diversas problemáticas econômicas no seu âmbito familiar; além da questão psicológica. “Vários discentes têm sofrido psicologicamente cenário de crise causado pela covid-19, seja por seus familiares, seja por cobranças indevidas da universidade nesse momento de crise sanitária de caráter mundial”.

Para ela, os Encontros Universitários são o principal evento do calendário acadêmico e consiste em um espaço para exposição da produção acadêmica à comunidade e demais experiências vivenciadas dentro e fora da universidade pelos estudantes. “Observando a relevância e a contribuição que esse evento traz pra toda a sociedade, o DCE da UFC se posiciona contra a realização dos Encontros Universitários de maneira virtual”. 

De acordo com Irenísia Oliveira, vice-presidente do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado Ceará (ADUFC - Sindicato), os Encontros Universitários consistem em um evento grande, que envolve um grande número de pessoas e atividades diversas que transmite aos participantes a diversidade do que se faz numa universidade do porte da UFC, mas que este ano esse cenário será diferente. “Existe uma alegria propriamente universitária nos EU. Agora não haverá isso. Nem o encontro, nem o diálogo, nem a movimentação toda. Vai fazer diferença também, para pior, o humor da comunidade acadêmica em um contexto de pandemia, a apreensão e também o desgosto com uma reitoria que só quer se impor e não ouve ninguém”.

Irenísia Oliveira informa que a ADUFC se posiciona contrariamente à realização dos Encontros Universitários neste momento. De acordo com ela, os EU 2019 deveriam ter sido realizados no segundo semestre do ano passado, mas foram adiados pela reitoria. “Agora, que vivemos uma pandemia, a reitoria quer realizar este evento altamente complexo sem as condições adequadas e sem diálogo com a comunidade universitária. É uma decisão voluntarista que desconhece as dificuldades enfrentadas por estudantes, funcionários e professores e quer impor uma falsa normalidade, uma espécie de produtivismo a qualquer custo”.

Ainda de acordo com Irenísia, a reitoria decidiu que manteria os EU, seguindo a diretriz do MEC de forjar uma falsa normalidade, de dobrar a realidade aos seus propósitos e que os diretores de unidade acadêmica, em sua maioria, escreveram uma carta solicitando o cancelamento dos EU, mas não foram atendidos. “A reitoria estava irredutível. Cedeu apenas no sentido de desistir da ideia de abrir os laboratórios de informática da UFC para apresentação de trabalhos, o que implicaria deslocamento de estudantes e quebra do isolamento social”, afirma.

Para ela, a melhor opção seria o cancelamento do evento, já que ele acontece anualmente. “Então depois desse momento mais grave, quando tivéssemos uma ideia mais clara da situação no país e na universidade, com as pessoas mais tranquilas, poderíamos planejar e realizar os EU dentro daquele mesmo espírito de grande evento acadêmico, no qual a universidade pode se compreender em sua própria amplitude e diversidade”, finaliza.

Edição: Monyse Ravena