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Crônica | Desaguar

Hoje quero exercer minha humanidade chorando e lamentando e deixando registrado aqui o quão triste é a desumanidade

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
"Hoje, eu vou me permitir escrever um texto triste, melancólico e sentindo cada morte que o Capital, através dessa crise carregou nesses últimos dois meses." - Emily Costa/Amazonia Real

A categoria que mais me fortalece no marxismo presente na ontologia de Lukács é a categoria da possibilidade. Porque ela carrega em si a potência da humanidade, a dialética do mundo humano, a contradição necessária para fazer ruir o sistema.  Continuo vendo nela base sólida de perspectiva revolucionária, continuo me agarrando como posso nessa frágil margem transformadora posta na realidade. É essa categoria que me permite exercer humanidade e alegria nesse mundo tão desumano. 

Mas hoje quero exercer minha humanidade chorando e lamentando e deixando registrado aqui o quão triste é que tenhamos chegado a esse ponto de desumanidade coletiva, que tenhamos a frente como presidente desse sistema democrático falido um ser tão desumano, desprezível e que tenha trazido á tona tanta feiura nas pessoas. Hoje, eu vou me permitir escrever um texto triste, melancólico e sentindo cada morte que o Capital, através dessa crise carregou nesses últimos dois meses.

Vou chorar pela mãe que perdeu seu filho sem possibilidade de estar presente quando ele teve medo da solidão, pela neta que não pôde comemorar o aniversário da avó no almoço de domingo, pelo irmão de alguém, pela mãe de alguém, para a mulher que, amando e sendo amada, não pode dizer o ultimo “eu te amo” para seu companheiro. Vou chorar, porque revolução também se faz com choro e tristeza pelas perdas. 

Amanhã, amanhã eu acordo com meu ódio de classe renovado, mais forte que nunca, pulsando dentro de mim e me impulsionando a ficar viva enquanto mulher negra, enquanto gente, enquanto classe. Amanhã volto a me agarrar a categoria da possibilidade e volto a construir com tudo que posso a resistência em mim e em minha classe. 

Amanhã, porque hoje, eu choro. 

Edição: Monyse Ravena