Ceará

Quarentena

Trabalho doméstico sobrecarrega ainda mais as mulheres na quarentena

As mulheres dedicam em média 18,5 horas semanais aos afazeres domésticos e cuidados de pessoas

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
Segundo dados do IBGE, divulgados em 2019, as mulheres dedicam em média 18,5 horas semanais aos afazeres domésticos e cuidados de pessoas - Foto: Licia Rubinstein / Agência IBGE Notícias

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em 2019, as mulheres dedicam em média 18,5 horas semanais aos afazeres domésticos e cuidados de pessoas, Já os homens, gastam 10,3 horas semanais nessas atividades.

Atualmente, a fisioterapeuta e professora universitária, Juliana Paz está morando provisoriamente na casa dos seus pais, no período da quarentena. De acordo com ela, a decisão de ir para lá foi para ter um suporte com seus dois filhos e afirma que a quarentena mudou a sua rotina. “Estou ministrando aulas EAD, trabalhando mais que o normal pelo computador devido as atividades em EAD, duas crianças pequenas em casa totalmente dependentes. Sem tempo nem de respirar e tendo que cumprir todas as minhas atividades profissionais e de mãe. Tenho acordado mais cedo e dormido mais tarde”.


“Sem tempo nem de respirar e tendo que cumprir todas as minhas atividades profissionais e de mãe”. Juliana Paz, fisioterapeuta e professora universitária. / Arquivo Pessoal

Debora Teixeira é tatuadora e mora com seu companheiro e dois filhos, um de seis anos e outra de um ano e dez meses. Debora explica que já trabalhava no modelo “home office” há mais de sete anos e que para ela, essa adaptação de trabalhar em casa foi mais fácil, mas que ela percebeu um aumento no trabalho doméstico. “O que tenho avaliado é que o trabalho doméstico está se sobrepondo a tudo, pelo aumento de pessoas ocupando o mesmo ambiente simultaneamente, inclusive, se torna mais desgastante que a demanda profissional”. Ela diz que, na medida do possível, está conseguindo dividir os trabalhos com seu companheiro. “Sinto que meu marido está mais participativo e interessado pelos assuntos da casa, inclusive, aprendeu a cozinhar algumas coisas nesse primeiro mês”.

A arte educadora, Jamili Craveiro, mora com seu companheiro e dois filhos, um de dez anos e outro de seis e relata um pouco sobre sua rotina dentro da quarentena. “Atualmente trabalho com restauração de imagens e outros trabalhos manuais. Neste quesito, o que muitas vezes me impede de manusear as peças é o fato de mexer em tintas com cheiro forte. Com as crianças em casa eu evito. Tem também a questão de que um esbarrão, uma desatenção, pronto! O trabalho foi em vão. E assim, quando percebo, já é hora do almoço, daqui a pouco é hora do lanche e quando percebo já é o dia seguinte e o tempo se foi e nada fiz, acabo cobrando de mim mesma uma produtividade de algo que não é possível”.

O impacto na vida das mulheres

Para Debora, a quarentena tem um impacto maior na vida das mulheres, “Primeiramente, pelo senso comum social que nos coloca como ‘multitarefas’, já impelindo o acúmulo ao nosso dia a dia. E daí por diante uma série de justificativas, como a culpa, por terceirizar os cuidados com a casa e com os filhos em tempos de normalidade, por se achar mais apta e acabar não delegando funções aos companheiros, enfim, digo Isso em termos privilegiados, de perceber esse impacto e mesmo assim ter consciência de que, mesmo sendo mulher, também sobrecarregamos umas as outras em determinadas situações”.

A geógrafa e educadora feminista, Silvana Holanda, também concorda que a quarentena tem um impacto maior na vida das mulheres. “Mais gente em casa, aumenta a intensidade das tarefas domésticas, suja mais, limpa mais, faz mais comida, lava mais louça, etc. Mesmo as mulheres que moram com pessoas que tem a consciência de que dividir tarefas é importante, elas ainda precisam administrar isso e cobrar das outras pessoas a realização das tarefas. E se alguém não faz, ela acaba fazendo”.


“Mesmo as mulheres que moram com pessoas que tem a consciência de que dividir tarefas é importante, elas ainda precisam administrar isso”. Silvana Holanda, geógrafa e educadora feminista. / Arquivo Pessoal

Auxílio Emergencial

Sobre o auxílio emergencial, Jamili diz que ainda não fez sua inscrição para conseguir o auxílio, mas afirma que o benefício lhe ajudaria a pagar suas contas.

Já Debora é Microempreendedor Individual (MEI) há alguns anos e por isso já deu entrada na solicitação do benefício que, de acordo com ela, está em fase de análise. “Trabalho como tatuadora e ilustradora, ambas atuações dispensáveis, dada a gravidade da crise que estamos vivendo. Tenho consciência de que meu ofício não me sustentará nos próximos meses. Contar com essa ajuda, seja o valor mínimo ou ainda que por pouco tempo, vai garantir a manutenção de serviços como internet domiciliar e energia, por exemplo, que são competências financeiras as quais eu costumo contribuir com meus ganhos”, finaliza.

Edição: Monyse Ravena