Ceará

Capitalismo

Crônica | O ódio necessário de cada dia

Pistrak disse, “Não é possível lutar contra o velho se não souber odiá-lo; saber odiar é emoção”.

Brasil de Fato | Fortaleza (CE) |
"Estamos sendo trucidados pelo capital, pela negação e pelo ódio que ele sempre teve com a vida humana e que dia após dia se agudiza." - Foto: Lula Marques/Fotos Públicas

Em meios a tantos “mais amor por favor”, “o amor salva”, “amor é revolucionário”, eu tenho mesmo é pensando no poder e na necessidade do ódio, da raiva. Não qualquer ódio, mas o ódio de classes. Em como nesse momento enfrentamos um descomunal massacre do Capital com tudo que não o faça mais forte, uma elevação hedionda da banalização da vida humana, uma naturalização de opressões das mais variadas e mais degradantes e de como amar nesse espaço tomado por todas essas questões, não pode, não consegue ser a resposta única e final. Estamos em um cenário tomado pela barbárie e somos mediados pela materialidade, e nesse momento histórico só amar o outro e cuidar de si com generosidade não vai resolver efetivamente quando pensado em contexto social. 

Estamos sendo trucidados pelo capital, pela negação e pelo ódio que ele sempre teve com a vida humana e que dia após dia se agudiza. O momento, pede é o ódio. O mais puro e genuíno ódio de classe. Só ele é capaz de nos mover para além dessa negação a tudo de humano que carregamos em nós. Só ele é capaz de nos dar forças para em meio a todo esse cenário de morte e destruição, resistirmos. 

O ódio pode sim ser força motriz revolucionária. Amor só não basta, principalmente esse amor forjado na sociedade de classes, que reproduz muito de uma consciência burguesa. Aliás, amor por si só não basta para quase nada, tem de ter sustentabilidade na materialidade da vida cotidiana, que acontece, devora e estraçalha a humanidade em nós sem trégua, sem pausa. É preciso resistir a esse desgaste diário imposto a vida, e por vezes, o ódio é um excelente aliado da resistência humanizada.

Vejam bem, não estou falando aqui do ódio puramente emocional, ainda que ele também precise sair ao sol. Estou focando no ódio coletivo, na força que ele carrega para fazer lutar e resistir coletivamente, para organizar a classe, derrubar nossos inimigos que há tanto vêm nos massacrando sem nos dar nenhum respiro. 

Um ódio tão genuíno que nos faça lutar contra nosso algoz e amar nossos camaradas. Uma força que nos lembre que os tempos sombrios não são eternos e que o fogo necessário para destruir a escuridão que nos rodeia pode vir inicialmente em pequenas fagulhas, mas precisa vir, para não nos deixar cegos de quem somos.

Pistrak disse, “Não é possível lutar contra o velho se não souber odiá-lo; saber odiar é emoção”. Ao que concordo e acrescento, mais ódio de classe, intensa e consistentemente. Sem ele, as revoluções não existiriam. Odiar é também ato humano, e por vezes, sentimento absolutamente necessário e indispensável para sobrevivermos humanizados nesse mundo tomado pela negação da vida.

Camaradas, ódio ao capital, amor aos nossos. Sigamos resistindo.

*Professora em Brejo Santo (CE)

Edição: Monyse Ravena