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A camisa 24 e a homofobia que ainda existe em nosso futebol

A repulsa ao número 24 diz muito sobre como as coisas funcionam por aqui

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O volante Flávio usou a camisa 24 na vitória do Bahia sobre o Imperatriz na última terça-feira (28), pela Copa do Nordeste
O volante Flávio usou a camisa 24 na vitória do Bahia sobre o Imperatriz na última terça-feira (28), pela Copa do Nordeste - Reprodução / Twitter / EC Bahia
A repulsa ao número 24 diz muito sobre como as coisas funcionam por aqui

Caríssimos seres viventes que acompanham as nossas cornetadas semanais sobre esporte, não sei se vocês notaram, mas existe uma camisa considerada “maldita” no futebol brasileiro, usada apenas por atletas estrangeiros ou goleiros reservas.

Me refiro ao número 24. Não é preciso ser um profundo conhecedor do velho e rude esporte bretão para saber que nossos clubes orientam seus jogadores a não utilizarem esse número. Quando usam é por exigência da Conmebol nas suas competições ou por jogadores estrangeiros. O espanhol Pablo Marí usou a 24 na conquista da Libertadores pelo Flamengo no ano passado.

Já deu pra ver que esse número é praticamente proibido no futebol brasileiro. E também na sociedade de um modo geral. E nesse contexto, o “Jogo do Bicho” teve e tem uma influência fortíssima. Ainda hoje se associa o número 24 ao veado, animal relacionado com a homossexualidade. Enquanto a sociedade avança timidamente no combate ao preconceito contra LGBT’s, o futebol parece ter cravado as travas das chuteiras no mesmo discurso homofóbico que eu e você conhecemos bem.

As exceções são raras e meritórias. Em termos de indivíduos e instituições também. E vale destacar aqui o exemplo do Esporte Clube Bahia.

Uma das metas da atual gestão é transformar o clube no mais democrático e inclusivo do país. E pelo que se tem visto, o Tricolor de Aço está no caminho certo. Além da criação de um núcleo de ações afirmativas, o Bahia encabeça campanhas contra a homofobia no futebol. Tanto que o volante Flávio usou a já citada camisa 24 na vitória da sua equipe sobre o Imperatriz nesta terça-feira (28), pela Copa do Nordeste.

No entanto, a resistência contra ações afirmativas desse tipo ainda são fortíssimas. Pérolas como “futebol é esporte de homem” ainda toma conta do imaginário de quem trabalha dentro e fora das quatro linhas. Até mesmo formadores de opinião repetem falas como essas como se ainda estivéssemos na década de 1930. Quem se levanta contra o pensamento geral é taxado de “lacrador”, como se defender a igualdade fosse algum pecado que deve ser punido com a morte por apedrejamento.

A repulsa ao número 24 não me deixa mentir. O futebol ainda é um ambiente extremamente tóxico para quem “não se enquadra” no perfil geral. Ao contrário de atletas como a norte-americana Megan Rapinoe e da brasileira Cristiane (que seguem normalmente suas carreiras após terem assumido seus relacionamentos homoafetivos), a homossexualidade no futebol masculino ainda é um tabu.

Jogadores já demonstraram apoio à causa LGBT. Clubes brasileiros e estrangeiros também. Mas essa luta ainda está no começo. Mais do que vestir camisas, precisamos mudar atitudes e pensamentos. Passando pelos gritos de “bicha” até às alcunhas e xingamentos homofóbicos.

O número 24 é apenas um número. Mas diz muito sobre como as coisas funcionam por aqui.

FLUMINENSE DESPACHA O FLAMENGO E SEGUE 100%

Acabou que quem riu por último no Maracanã no primeiro Fla-Flu de 2020 foi o Tricolor das Laranjeiras. Os comandados de Odair Hellmann mantiveram os 100% de aproveitamento na Taça Guanabara ao derrotar o Flamengo nesta quarta-feira (29). Tem gente que vai falar que o Fla estava com o Sub-23, que não era força máxima e tal. Mas o que vale são os três pontos e a gozação com o torcedor rival. Aliás, belo início de ano do Fluminense. De encher o torcedor tricolor de esperança por dias melhores e menos dolorosos. Com as bênçãos de João de Deus e do calcanhar de Nenê.

Edição: Brasil de Fato (RJ)